As novas bonecas Barbie com síndrome de Down eram tema de um dos segmentos do humorista Hugo Soares. Num espetáculo dado no Porto no final de abril, o comediante explicou à plateia de que não se tratava de uma ideia original da empresa, antes de lançar a punchline que gerou toda a controvérsia: “Os chineses já vendem bonecas com defeito”.
Sempre ativo nas redes sociais, onde partilhava as suas piadas e novidades sobre os seus espetáculos, o humorista queixa-se de estar a ser “censurado”. “Fiz uma piada, mas as pessoas entenderam que era um comentário”, explicou à “Lusa”, citada pelo “Observador”.
O maior volume de comentários terá tido origem no Brasil, revela o comediante. Terá sido a queixa de uma série de famílias ligadas a uma associação — apresentada na procuradoria local e junto da empresa que gere o Instagram e o Facebook, a Meta — que terá levado ao bloqueio da conta de Hugo Soares no Instagram.
Aos poucos, os vídeos com a piada foram sendo eliminados. “Continuou a estar noutras redes sociais — TikTok e Facebook —, mas foi retirado do YouTube. A conta do Instagram foi simplesmente encerrada”, revela.
Segundo o humorista, os ofendidos “passam a imagem” de que está “a incentivar o ódio”. Em Portugal, a piada também levou à reação de algumas associações de pais com crianças com Down. Do outro lado da barricada, o artista justifica-se: “Tudo o que faço em comédia, tudo o que faço em palco e nas redes sociais são piadas, faço para fazer rir, porque é o meu trabalho. Não pode ser entendido como ofensivo ou discriminatório, porque não é esse o meu objetivo”.
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O tema tem gerado controvérsia no Brasil, onde o humorista Léo Lins viu uma ordem judicial proibir a exibição de alguns dos seus especiais de comédia. A decisão tem sido criticada por vários artistas e comediantes, que acusam os tribunais de censura e de restringirem a liberdade de expressão. O documento legal estipula também que deve existir uma censura prévia, numa proibição da produção de piadas contra minorias e grupos vulneráveis nos espetáculos de Lins.
“Quem foi lá assistir ao Léo Lins [no show censurado] adorou. Riram muito. Quem não gostou das piadas são os que não foram. Pronto, assim que tem que ser. Ah, mas faz piada com minorias… E qual o problema legal? Nenhum. Dentro da lei pode-se fazer piada com tudo. Não gostar de uma piada não dá o direito de impedir ela de existir. Ainda mais previamente. Impedir o comediante de pensar uma piada é loucura. Não existe censura do bem”, declarou Fábio Porchat, do grupo Porta dos Fundos.
Algumas das piadas em questão são acusadas de conterem xenofobia e de discriminarem indígenas. “O negro não consegue achar um emprego, mas na época da escravidão, já nascia empregado e achava ruim”, terá dito num dos seus especiais. “Preconceito é igual a índio, não deveria existir mais”, apontou noutro dos momentos polémicos.