No palco principal, o dia era dos Da Weasel e dos Imagine Dragons. Mas, no Palco Comédia do NOS Alive, neste sábado, 9 de julho, um dos destaques era a performance conjunta de Inês Aires Pereira e Raquel Tillo.
Conhecidas pelo tremendo sentido de humor, as duas atrizes trabalharam juntas na igualmente divertida versão portuguesa do musical “Avenida Q”. Agora, prepararam uma atuação de comédia em conjunto que, embora as próprias admitam com relutância, é algo que gostavam de explorar enquanto dupla.
Afinal, a arte de contar histórias (que podem ser reais e hilariantes) está na base da representação. Leia a entrevista da NiT com Inês Aires Pereira e Raquel Tillo, poucas horas antes do início da sua performance.
Como é que foi pensar e preparar este espetáculo a duas?
Inês Aires Pereira (IAP): Foi fácil.
Raquel Tillo (RT): Era um trabalho que já vínhamos a desenvolver.
IAP: Foi pegar em coisas que já tínhamos e depois acrescentar mais…
RT: Foi pegar na nossa vida e colocá-la num texto que não é necessariamente completamente real…
IAP: É tudo real, Raquel. You may never know for sure.
Diriam que é um espetáculo de stand-up comedy normal?
IAP: É uma coisa mais de storytelling.
RT: Não é convencional. Primeiro, porque não somos do mundo do stand-up, logo aí vimos com outra coisa. E depois porque temos mais a questão do storytelling.
IAP: Apoiámo-nos mais em histórias da nossa vida, sendo que a Raquel tem muitas engraçadas e foi muito difícil escolher só duas.
RT: Sendo que a Inês tem muitas embaraçosas e portanto foi muito difícil escolher só uma [risos].
O desafio foi, então, selecionar as melhores histórias para depois as contarem em palco?
RT: Certo.
IAP: E vamos ficar sem dignidade nenhuma. Vai ficar aqui no NOS Alive e para o ano vimos cá buscá-la.
Que temas vão abordar?
IAP: Cona, mamas.
RT: Cu, cocó.
IAP: É tudo muito físico e fisiológico, não é?
RT: Diria que são coisas que todos nós temos e que já aconteceram a toda a gente, mas das quais não se fala. Principalmente no mundo das mulheres — de terem acontecido ou de fazeres.
Tabus?
IAP: Sim, exatamente, e para nós vai ser incrível. Vamos ficar muito mais leves.
Vão soltar essas histórias. Como estavam a dizer, têm a bagagem da representação, que é diferente de serem comediantes convencionais. Sentem que isso muda completamente a experiência de palco?
IAP: Fico mais nervosa…
RT: Para os atores, é difícil sermos nós mesmos em palco. Estamos habituados sempre a ter uma personagem.
IAP: E é uma responsabilidade, o texto é nosso e o stand-up tem de ter piada. Se não tiver piada, a culpa é nossa. Isso deixa-me muito nervosa.
Sentem que, inevitavelmente, criam uma persona quando estão em palco?
IAP: Várias… Acho que também já faz parte de nós. Mas é o medo de não ter graça.
RT: E o medo de sermos demais, que é uma coisa que muitas mulheres têm. “Ai, se calhar isto é muito, se calhar não devia”. Não, ‘bora ser demais. Sê tu mesma. Nós somos demais.
Faltam mulheres a fazer humor em Portugal?
IAP: Não sei se falta, espero que não seja por falta de coragem. Se assim for, ainda bem que estamos aqui para dar coragem.
RT: Mas acho que sim, que poderia haver mais.
Sentem que é algo de que gostariam de continuar a explorar?
IAP: Depois disto, falamos. Logo vemos.
Depende de como correr?
IAP: Pois, claro. Se calhar chegamos ao fim e dizemos: temos de fazer isto sempre. Ou então dizemos: nunca mais, isto não é para nós. Vamos experimentar.
E atuar no NOS Alive é obviamente diferente de o fazer numa sala intimista, onde as pessoas vão de propósito para vos ver. Como é que encaram isso?
IAP: Por um lado se calhar vai haver lá pessoal a descansar, que nem está lá por nós. Por outro, também nos desresponsabiliza um bocado. Se calhar estão todos bêbedos e estão-se a cagar.
RT: É mais descontraído, mas também dá um nervosismo. Se calhar não vão ouvir. Enfim, somos novas nisto.
Estão muito ansiosas neste momento por causa disso?
RT: Sim, extremamente.
Há algo que costumem fazer antes de atuar para desanuviar?
As duas: power pose. És incrível, és linda [dizem, enquanto olham de frente uma para a outra, com as mãos nas ancas].
Gostavam de trabalhar mais vezes juntas?
RT: Vamos fazê-lo, de certeza absoluta.
IAP: Até porque isto vai ser incrível, nós vamos ter um espetáculo só nosso, vamos percorrer o País pelos próximos dois anos, com as salas todas esgotadas…
É o vosso desejo?
IAP: Claro. Ao dizermos isto estamos a atrair, não é? Não sei se acredito muito nisto, mas dizem para fazer.
Portanto, este pode ser o início de uma longa digressão que pode transformar as vossas vidas.
IAP: Sim, em breve os bilhetes vão estar na BOL ou na Ticketline.
RT: E vão esgotar muito rapidamente, por isso têm de ser muito rápidos a comprar.
Qual diriam que é a grande vantagem de atuarem juntas?
RT: É porque nos temos uma à outra. Eu confio muito na Inês, naquilo que ela me vai dizer. “Olha, isto tem piada, isto não tem tanta.” Temos confiança, irmandade e juntas sentimo-nos mais poderosas.
IAP: Juntas somos mais fortes. Isto é um cliché do caraças, mas é verdade.
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