Teatro e exposições

Morreu o pintor e ceramista Manuel Cargaleiro. Tinha 97 anos

Assinou igrejas, jardins ou estações de metro. Viveu em Paris, mas nunca deixou de contribuir para a arte em Portugal.
O artista e uma das suas obras.

O pintor e ceramista português Manuel Cargaleiro morreu este domingo, 30 de junho, aos 97 anos. A notícia foi avançada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, através de uma nota publicada no site da Presidência da República.

“O Presidente da República manifesta o meu pesar pela morte de Mestre Cargaleiro, que hoje nos deixou”, pode ler-se no lamento, onde se destaca que “deixou a sua assinatura em igrejas, jardins ou estações de metro, e em inúmeras peças tão geométricas e cromáticas como as de outros artistas cosmopolitas que viveram em Portugal.”

Apesar de ter vivido a maior parte da sua vida em Paris, o artista “nunca deixou que o cosmopolitismo significasse desenraizamento”, sublinha o chefe de Estado. “Prova isso é a memória das imagens e das cores da Beira Baixa na sua obra, nomeadamente a lembrança das mantas de retalhos” e a “igualmente a empenhada presença do artista na região onde nasceu, através da Fundação e do Museu Cargaleiro”.

Manuel Cargaleiro nasceu a 16 de março de 1927 em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão, no distrito de Castelo Branco. Em 1949, ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e participou na Primeira Exposição Anual de Cerâmica, no Palácio Foz, em Lisboa, onde realizou igualmente a sua primeira exposição individual de cerâmica, no ano de 1952.

O ano de 1954 foi marcante na carreira artística de Cargaleiro já que recebeu o Prémio Nacional de Cerâmica Sebastião de Almeida, iniciou funções de professor de Cerâmica na Escola de Artes Decorativas António Arroio e apresentou as suas primeiras pinturas a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstracta.

Nas décadas de 1960 e 1970, também participou em inúmeras exposições individuais e coletivas e durante este período afirmou-se não apenas como um conceituado ceramista, mas como um notável desenhador e pintor. O pleno reconhecimento, nacional e internacional, da obra de Manuel Cargaleiro, aconteceu na década de 1980.

O artista plástico foi condecorado pelo Presidente em 2017, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2023, com a Grã-Cruz da Ordem de Camões. “De Cargaleiro disse Maria Helena Vieira da Silva que possuía a técnica perfeita, a medida certa, as cores raras; e disse Álvaro Siza Vieira que evidenciava uma alegria invulgar no panorama artístico português”, conclui a nota da Presidência.

Recorde-se que, na Quinta da Fidalga, no Seixal, se encontra a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, projeto arquitetónico da autoria do arquiteto Siza Vieira. O objetivo do espaço é promover a arte contemporânea, em particular a obra do mestre Manuel Cargaleiro, bem como as coleções da Fundação Manuel Cargaleiro, através da realização de exposições temporárias, do desenvolvimento de atividades educativas no âmbito da sua programação e da promoção de parcerias com organismos congéneres.

O artista é também patrono da Escola Secundária Manuel Cargaleiro, no Fogueteiro (na freguesia de Amora, concelho do Seixal). Passou a infância e adolescência no Monte da Caparica, para onde a família se mudou vinda de Castelo Branco quando o pintor e ceramista ainda não tinha dois anos.

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