O percurso não foi propriamente diferente do da maioria dos adolescentes. Entre a azáfama da escola, dos livros, havia pouco tempo para pensar, afinal, no que se queria ser quando se fosse grande. “Tinha a ideia de que queria ser engenheiro porque um dos meus irmãos estava na área. Achei que podia gostar.”
Esse poderia ter sido um caminho perigoso para Luís Gala, já que havia mais 11 irmãos por onde se inspirar. Da economia ao marketing, tudo-lhe passou pelas mãos, até que aterrou no último e mais arrebatador amor: a fotografia.
Apesar das atribulações, o jovem de 25 anos é hoje um dos dez finalistas da quarta edição do New Talent, o concurso promovido pela NiT, TVI e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para eleger os melhores jovens talentos de Portugal na área do lifestyle. No final, o vencedor irá receber 10 mil euros para desenvolver um projeto pessoal ao longo do próximo ano.
A “vocação”, como lhe chama, chegou já na faculdade. Frequentava o curso de marketing e publicidade por influência de um amigo e guiado pela indecisão. No IADE, onde estudava, travou amizade com dois rapazes do curso de fotografia, que o foram atraindo para as câmaras.
“Antes da faculdade, já gostava de fotografia. Tirava fotos com o telemóvel, editava com as aplicações”, recorda. A súbita paixão ameaçou motivá-lo a desistir do curso, mas hesitou e decidiu que não valia a pena parar a meio. A fotografia tornou-se num hobby fora de horas.
Ao baú da mãe, foi resgatar uma pequena point and shoot, com a qual começou a aventurar-se nos primeiros conceitos. Achava piada à fotografia documental, ao fotojornalismo, e chegou a ensaiar alguns projetos.
“Apanhava pessoas na rua, fotografava-as, registava as suas histórias. Gostava disso sobretudo por causa das histórias, mas senti que depois ficava muito restrito ao que acontecia, a quem encontrava. Não podia inventar, criar algo por mim mesmo, sob o risco de deturpar todo o sentido desse tipo de fotografia, explica.
À medida que a paixão e a técnica aumentavam, ia evoluindo na maquinaria. Acabou a faculdade já com uma “máquina melhorzinha e mais profissional” e decidiu fazer uma pausa de um ano. Continuou a aprender pela própria mão, viajou e trabalhou, até que sentiu que estava na hora de tirar uma formação em fotografia. E quando o fez, chegou a pandemia.
“Foi muito chato, nem seis meses tive de aulas no início. Depois tivemos aulas de fotografia online, o que não é muito agradável. Feitas as contas, mais de metade do curso foi feito remotamente”, conta. Ainda assim, encontrou tempo para criar mais projetos, ou séries, que é onde se sente realmente livre para criar.
Foi aí que fez o trabalho de que mais se orgulha. “É um projeto que se chama ‘Coisas que eu não Fotografaria se não Estivesse em Casa’ e o nome acho que diz tudo”, revela sobre a série que capta objetos do dia a dia, que todos temos em casa. “Fiquei contente porque tinha a câmara estragada e tive que fotografar tudo com uma câmara digital da minha irmã, que tinha pouca qualidade, não tinha cartão de memória e tinha o visor estragado. É algo muito simples e acho que é isso que lhe dá valor.” Para Luís, “não é a câmara ou o material que faz o bom fotógrafo”.
Naturalmente, acabaria por gravitar pela área da moda e por outra mais artística. “Permitem-me criar, imaginar, mas também ter um conceito por detrás das fotos. Claro que algumas são sobretudo estéticas, mas acabo sempre por fazer séries com poses, cores, locais que se ligam com o conceito.”
Além de criar sobretudo para si próprio, é também fotógrafo de backstage na ModaLisboa. “Tenho outro projeto, chamado Vestígio, que existe em torno de uma camisola que eu criei, que tem mangas de cinco metros, feita com diversas mangas diferentes. Assenta numa ideia da nossa influência, do quão longe podemos chegar estando num só sítio”, explica.
Apesar de tudo isso, continua a não conseguir viver apenas da paixão. “Sinto que estou cada vez mais próximo de o conseguir, mas ainda tenho muito que trabalhar.”
Nesse sentido, o prémio de dez mil euros do New Talent vinha mesmo a calhar. Só ainda não tem a certeza de qual seria uma das suas duas prioridades.
“Gostava de tirar um curso fora de Portugal, mais ligado à vertente artística e menos à de moda”, refere. “Ou, já que o meu plano passa por passar um mês em Barcelona, à procura de novas ideias, visões e trabalhos, poder prolongar a estadia com a ajuda do prémio.”