A arte tem uma capacidade intrínseca de despertar em nós sentimentos, podendo ser bons ou maus. Na nova instalação artística do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, o principal objetivo é pôr-nos em contacto com estes sentimentos através de vários momentos de reflexão e atividades.
Pedro Reyes, um artista mexicano, é a mente artística por detrás de “Sanatorium”, a nova mostra do MAAT, que oferece aos seus visitantes até nove terapias com abordagens e propósitos diferentes. É certo que quando entrar na exposição, vai-se sentir mesmo numa clínica de terapia, graças às batas brancas que os guias do museu vestem.
Inês Grosso, a curadora da exposição, sublinhou a importância desta mostra, especialmente após dois confinamentos que afetaram a saúde mental de vários portugueses. Para ela, esta exposição em forma de clínica é um espaço de diálogo e de auto-descoberta.
Durante cada visita é possível fazer duas ou três das nove terapias disponíveis, sendo uma online e duas em grupo. Para visitarmos as que mais se adequam às nossas necessidades, temos primeiro uma breve conversa com um terapeuta.
Estas terapias são baseadas nas técnicas de teatro, na psicologia Gestalt, em atividades de grupo, no estado do fluxo e jogos de construção de confiança, de coaching corporativo, do psicodrama, da hipnose, da sabedoria e da cultura popular.
“Vacina Contra a Violência”, “Goodoo”, “Museu das Vidas Hipotéticas”, “Citileaks”, “Ex-voto”, “Mudras”, “Mirroring”, “Casino Filosófico” e “Teste de Compatibilidade Para Casais” são as propostas oferecidas pelo artista.
A primeira experiência serve para libertarmos a raiva e o rancor que guardamos contra alguém. Primeiro, enchemos um balão e desenhamos a cara da pessoa que nos magoou. Depois, colocamo-lo em cima de um saco de boxe em forma de boneco onde podemos libertar toda a nossa frustração sem quaisquer danos exteriores. Em “Goodoo” vão-se buscar as bases do voodoo mas com uma finalidade de curar e de trazer positividade, ao contrário do original. Nesta atividade, os participantes personalizam um boneco com cinco amuletos ou símbolos, cada um com uma finalidade diferente. Depois podemos ficar com o boneco ou entregar a alguém a quem desejamos o bem.
O “Museu das Vidas Hipotéticas” faz-nos refletir sobre o passado e imaginar o futuro, criando um percurso desde o nosso nascimento até à nossa morte. Após isso, criamos uma peça ligada à história que imaginámos. Em “Citileaks” o objetivo é revelarmos os nossos segredos, escrevendo-os de forma anónima e colocando-os dentro de uma garrafa, que acabará por ser lida por outro participante. O “Ex-voto” é bastante simples: apenas temos de pensar num momento especial pelo qual estejamos gratos, refletindo sobre o mesmo.
“Mudras” são gestos simbólicos que envolvem o corpo, executados na sua maioria com os dedos e as mãos e que estimulam as mesmas regiões do cérebro que a linguagem. Nesta terapia os participantes aprenderão vários mudras e criarão até os seus próprios, partilhando-os depois com o grupo.
“Mirroring” é feito na rua, onde o visitante imitará os gestos e expressões faciais do terapeuta, imaginando o que este sente e vice-versa. No “Casino Filosófico” os participantes serão colocados em grupos. Cada membro terá de escrever três perguntas que serão colocadas numa caixa. As questões serão depois respondidas por um de cinco dados que incluem citações da era grega, do extremo Oriente, da filosofia alemã do século XIX, do Renascimento e de filósofos de meados do século XX.
O “Teste de Compatibilidade Para Casais” é uma experiência online onde os pares terão de dizer quais as suas frutas ou legumes favoritos. De seguida, terão de as colocar numa liquidificadora e fazer um sumo. A compatibilidade do casal está diretamente ligada ao sabor da bebida.
“Sanatorium” foi criada originalmente para o Museu Guggenheim de Nova Iorque, em 2011. Graças ao seu sucesso, já viajou por vários países do mundo. A pandemia também teve um impacto na mostra que está disponível no MAAT.
“Durante a pandemia, as pessoas foram confrontadas com uma alteração dos seus ritmos, muita gente estava muito solitária, o que não é necessariamente mau. É bom ter tempo para si mesmo. Eu acredito que há muita introspeção que só pode acontecer quando desaceleramos. Mas agora, após o confinamento, as pessoas estão ansiosas pelo encontro, e o ‘Sanatorium’ oferece um lugar para isso. Não apenas para ser ouvido, mas também para ouvir”, diz Pedro Reye no folheto da instalação.
“Sanatorium” estará patente no MAAT até 20 de setembro.