Teatro e exposições

Novo cancelamento à vista: David Copperfield acusado de má conduta sexual

A investigação às alegações de 16 mulheres começou em 2019. “São falsas e totalmente sem fundamento”, dizem os advogados do mágico.
As alegações abrangem quatro décadas.

Passe de mágica, amor à primeira vista ou farsa? Ele era o mágico mais conhecido do mundo, ela era considerada a mulher mais bonita do mundo. Ele tinha 37 anos, ela apenas 23 — o mediatismo estratosférico da relação de ambos era inevitável.

Na década de 90 — quando a Internet ainda gatinhava e não existiam redes sociais —, a relação de Claudia Schiffer e David Copperfield foi notícia em todo o mundo. A diferença de idades, o contraste entre a tez morena dele e cabelo louro dela, o sucesso de profissional de ambos: tudo era motivo de discussão. As revistas cor-de-rosa e os tabloides não os largavam. Os rumores começaram a circular imediatamente após a supermodelo ter sido escolhida por Copperfield para servir de cobaia.

Corria o ano de 1993 e o norte-americano apresentou-se numa gala em Berlim (na Alemanha) para a qual muitas celebridades foram convidadas, incluindo Claudia Schiffer. Sentada estrategicamente na primeira fila, acabaria por subir ao palco. O ilusionista solicitou-a para participar numa sessão de telepatia e depois para uma performance de levitação.

O episódio, que na altura parecia o início de um conto de fadas, ganhou outro significado esta quarta-feira, 15 de maio. David Copperfield é acusado de má conduta sexual e comportamento inadequado por 16 mulheres. Alguns dos alegados crimes ocorreram quando as queixosas eram menores, revela a edição norte-americana do “The Guardian”. Muitos relatos começam precisamente com um convite para subir ao palco.

 

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Os depoimentos recolhidos no âmbito da investigação jornalística incluem acontecimentos que abrangem quatro décadas, do final dos anos 1980 até 2014. Confrontados com as alegações, os advogados do mágico afirmam que as alegações são “falsas e totalmente sem fundamento”.

Cinco das mulheres entrevistadas afirmam ter sido assediadas por Copperfield quando eram adolescentes. Duas tinham apenas 15 anos, segundo contaram ao jornal sob anonimato. Uma diz ter sido “preparada” pelo mágico até atingir a maioridade.

Carla (nome fictício) conheceu o ilusionista em 1991, no fim de uma apresentação na Geórgia. Daí em diante, alega ter recebido vários presentes e um bilhete que dizia “em dois anos estarei de volta”, quando tinha 16. Aos 18, teve sexo com Copperfield, o primeiro homem com quem se envolveu sexualmente.

Os representantes do ilusionista sublinham que o “relacionamento foi consensual”, algo que Carla também admitiu, mas negam tudo o resto. “Nunca, jamais agiu de forma inadequada com ninguém, muito menos com menores de idade.”

Lisa (também um nome fictício) descreve um modus operandi repetido noutros depoimentos. Durante uma apresentação, em São Francisco, foi escolhida como cobaia. No palco, quando o ilusionista realizava os movimentos do truque, afirma ter sido apalpada nos seios — em frente à plateia. Os familiares ficaram horrorizados, mas ninguém reagiu.

“Mais de metade das mulheres que alegaram má conduta sexual e comportamento inadequado dizem que conheceram Copperfield nos seus espectáculos – após terem sido escolhidas para se juntar a ele no palco ou, posteriormente, durante as sessões de autógrafos”, sublinha o “The Guardian”.

Déjà vu

O paralelismo das alegações com a suposta forma como Schiffer e Copperfield se conheceram é gritante. Se a faísca da paixão surgiu em palco ou só mais tarde, nenhum revelou. No início do ano seguinte, em janeiro 1994, anunciaram o noivado.

Daí em diante, Schiffer começou a participar de forma regular nos espectáculos. Sentada na primeira fila, era chamada a subir ao palco onde assumia o papel de assistente de Copperfield. Levitava, era cortada em dois, metia a cabeça na guilhotina.

Ainda em 1994, participou no documentário “David Copperfield: 15 Years of Magic”. A relação de ambos aparentava estar a tornar-se mais profissional que romântica. E os boatos não tardaram: tudo parecia encenado.

Na altura, ainda não eram conhecidos os alegados abusos referidos na investigação do “The Guardian”. Uma das primeiras denúncias remonta a 2007. Lacey Carrol, que conheceu o mágico durante um espetáculo, apresentou uma queixa na polícia de Seattle. Alegava ter sido violada e agredida sexualmente na ilha privada de Copperfield.

Em 2014, Fallon Thornton foi convidada a subir ao palco durante uma apresentação no MGM Grand, em Las Vegas. Alega ter sido apalpada por Copperfield em frente à audiência e fez uma denúncia ao hotel, bem como uma queixa na polícia de Las Vegas. O caso foi encerrado pouco depois por “provas insuficientes”.

A agressão mais antiga — entre as denúncias tornadas públicas até ao momento — terá acontecido em 1988. A antiga modelo Brittney Lewis alega ter sido drogada e violada após ter participado no concurso Look of the Year, no Japão, onde Copperfield foi jurado. O crime terá acontecido cinco anos antes do mágico conhecer Claudia Schiffer, mas Lewis só a denunciou em 2018.

Os relatos sobre a má conduta sexual de Copperfield começavam a acumular-se — e não partiam apenas das vítimas. Seis antigos colaboradores do mágico (entre 1990 e 2000) revelaram em entrevistas que os pedidos para abordarem mulheres que havia identificado no público eram frequentes.

Umas eram convidadas a subirem ao palco, outras para sessões de autógrafos nos bastidores ou em hotéis. Em 2019, o “The Guardian” resolveu investigar. Há cerca de um ano surgiram novas pistas e o processo intensificou-se.

As suspeitas sobre os acordos

Após Copperfield ter sido questionado pelo jornal sobre as alegações, duas mulheres que haviam sido entrevistadas pediram para que os seus depoimentos fossem retirados. Um dos casos terá acontecido quando uma delas tinha 15 anos e a outra 20.

Dado o timming em que foram feitos, “os pedidos levantam questões sobre se ambas as mulheres estiveram em discussões sobre possíveis acordos financeiros”, sublinha o jornal.

Os advogados de Copperfield recusaram responder se o mágico alguma vez terá pago indemnizações relativas a denúncias de má conduta sexual. A questão foi intencionalmente específica, porque é público que fez outros acordos no passado. Um deles foi com Claudia Schiffer.

Os boatos que corriam à boca fechada sobre o falso noivado de ambos chegaram à capa da “Paris Match”. Schiffer era “paga para fingir ser noiva de David Copperfield” — e nem sequer simpatizava com ele, alegava a publicação.

O casal decide processar a revista e, após uma batalha judicial de dois anos, o tribunal dá razão a Claudia. A “Paris Match” foi condenada a pagar uma indemnização à modelo, embora o valor nunca tenha sido revelado.

O decorrer do processo tornou públicos alguns contornos da relação, até então envoltos em secretismo. Um dos representantes de Copperfield acabou por confirmar um dos rumores que circulavam desde 1993. A modelo tinha, efetivamente, assinado um contrato para participar no espetáculo do mágico em Berlim. A relação contratual entre ambos havia terminado aí.

Nunca existiu qualquer dúvida sobre o relacionamento romântico que começou depois — e Claudia nunca fingiu ter estado apaixonada por David, sublinharam.

Quando tudo acalmou, uns meses depois, em setembro de 1999, anunciaram a separação. O motivo? Incompatibilidade de agendas.

O fim de uma carreira apoteótica?

David Copperfield conquistou um estatuto único. A sua já longa carreira de quatro décadas é uma das mais bem-sucedidas da indústria do entretenimento.

As ilusões tão grandiosas como espetaculares valeram-lhe a distinção ​como “Mágico do Milénio” e tornaram-no célebre em todo o mundo. Fez desaparecer a Estátua da Liberdade, levitou sobre o Grand Canyon, atravessou a Grande Muralha da China, escapou da prisão de Alcatraz, voou em palco e cortou ao meio várias celebridades.

O mágico de 67 anos, cujo nome de batismo é David Seth Kotkin, adotou Copperfield como apelido artístico inspirado pelo romance homónimo de Charles Dickens.

Os seus especiais de televisão foram nomeados para 31 Emmy, ganhando 21. Conquistou 11 recordes mundiais do Guinness e uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. É considerado o ilusionista de maior sucesso comercial de todos os tempos. Tem 11 ilhas nas Bahamas e o seu património está avaliado em mil milhões de dólares.

Apesar do sucesso, o percurso de Copperfield não tem sido isento de polémicas. Processou colegas e companhias de seguros, foi acusado de fraude e quebra de contratos Os dois relacionamentos conhecidos — ambos com mulheres bem mais novas (Claudia Schiffer é 14 anos mais nova e Chloé Gosselin 28) — foram também alvo de críticas.

Agora, as acusações de alegada má conduta podem significar o fim da admirável longevidade da sua carreira.

 

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