Sofia Miguel Castro tinha um sonho. Mais do que ser atriz, queria usar a sua arte para cuidar da natureza que a rodeava, nos seus tempos de infância em Oliveira de Azeméis. Já em Lisboa, a atriz de 22 anos tornou-se numa das finalistas da quarta edição do New Talent, o concurso promovido pela NiT, TVI e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa para eleger os melhores jovens talentos de Portugal na área do lifestyle.
Acabaria por ser escolhida pelos leitores da NiT como a grande vencedora e, assim, poder tirar partido do prémio de 10 mil euros para concretizar o projeto de unir as duas paixões: realizar uma peça de teatro pela Serra da Freita, ao mesmo tempo que promove a reflorestação com ajuda de atores e público.
Cinco meses depois de vencer o concurso, o projeto está em andamento, mas a um ritmo mais lento do que Sofia previa. O primeiro passo está dado e o final de maio trouxe o registo da cooperativa que colocará tudo em andamento. Entre a lista de habituais burocracias, a jovem atriz refere que falta agora “estabelecer parcerias”. Tarefas práticas como a contratação de um biólogo que “possa dizer onde se podem plantar as árvores” e que “espécies são mais adequadas”.
Sofia não está sozinha. Contratou uma produtora e outro ator com quem partilhará o cargo de encenador — e ambos poderão assim também fazer parte do elenco deste projeto itinerante onde cada cena tem lugar num local diferente da serra e, em cada uma delas, se plantam árvores. É a partir daqui que a jovem atriz confessa estar a sentir mais dificuldades. “Mesmo com a visibilidade, apoio e reconhecimento que este projeto tem tido, é difícil contactar as entidades necessárias. As pessoas não abrem as caixas de correio eletrónico, não atendem os telefones”, desabafa.
Apesar dos muitos contactos com associações e autarquias, a resposta que mais ouve é “não”. Isto quando há de todo uma resposta. “Estamos a falar de associações que têm a reflorestação como objetivo. Muitas perguntam-nos se lhes vamos dar material e eu explico que mesmo com o prémio, isso não é possível. Pergunto-lhes se é possível alugar ou emprestarem-nos o material e dizem que não estão interessados.”
“É assim que o País está a funcionar. É super revoltante. A missão destas entidades, que recebem financiamento público, é uma postura super despreocupada e super desinteressada.” Felizmente, nota, há exceções. Uma delas foi uma associação Montis, que apesar de não trabalhar na região pretendida por Sofia, gostou da ideia e convidou-a a levar a ideia para São Pedro do Sul.
Procuram agora “trabalhar em duas frentes” e tentar obter também licença por parte da autarquia de Arouca. “Queremos também aproveitar para que o projeto não fique só por ali. Infelizmente Portugal é um país pequeno com uma área demasiado grande para reflorestar. Temos que chegar às pessoas, para não serem só as pessoas a deslocarem-se ao projeto. O projeto tem que ir até às pessoas.”
Embora não faltem ideias para a peça de teatro, tudo está dependente das burocracias exigidas. “A verdade é que até ter o papel que diz que posso fazer o espetáculo lá, não adianta muito ter tudo já construído.”
“Estamos a trabalhar insistentemente para que o projeto aconteça, mas por vezes questiono-me. Sem a ajuda do prémio isto não seria possível. E já nem falo do dinheiro. Se assim já é difícil que nos respondam, que nos leiam, então sem este reconhecimento, este comprovativo de qualidade dado pelo New Talent, nem quero imaginar como seria. Não seria de todo possível.”