Os thrillers são um género especialmente popular nas salas de cinema, mas difícil de concretizar nos palcos do teatro, em que os espectadores assistem a tudo em tempo real e à sua frente. Ou seja, o poder de sugestão e a possibilidade de saltar no tempo da narrativa tem muito menos impacto. Ainda assim, a tarefa não é impossível. Aliás, alguns autores são verdadeiros mestres nisso mesmo.
É o caso de Danny Robins, que criou “2:22 Uma História de Fantasmas”. A peça estreou em Londres em 2021 e, além das boas críticas imediatas, foi alvo de várias nomeações para prémios conceituados do mundo do teatro. Entre elas incluem-se os Olivier Awards, onde o projeto foi nomeado nas categorias de Melhor Atriz Principal (com Lily Allen a estrear-se nos palcos), Melhor Design de Som e Melhor Peça Revelação. Apesar de não ter vencido nenhum troféu nesta competição, ganhou o prémio de Melhor Peça de Teatro em 2022, nos Prémios Whatsonstage.
Agora, dois anos após a estreia, chega a Portugal, mais concretamente ao Teatro Villaret, em Lisboa. Esta adaptação foi traduzida por Ana Sampaio e tem encenação de Michel Simeão, conhecido por ser um dos percursores do teatro de género no nosso País.
A história centra-se na vida de um casal. Joana (Ana Cloe) acredita que a sua nova casa está assombrada, mas o marido, Samuel (Pedro Laginha), recusa-se a aceitar que os estranhos acontecimentos que têm ocorrido ultimamente estejam relacionados com fenómenos sobrenaturais. Porém, durante um jantar com amigos (Joana Seixas e João Jesus), torna-se impossível ignorar a situação que leva o grupo a passar uma noite de sucessivos momentos de suspense, ação e adrenalina. Entre crenças e incertezas, terão de ficar acordados até às 2h22 para descobrir a verdade.
“Apesar de não estar a fazer teatro imersivo desta vez, estamos completamente imersos neste universo. Além do texto, que já nos dá muita coisa, pois está carregado de momentos de suspense, grande parte está assente no trabalho de actores. É, na verdade, uma interpretação com grande profundidade e envolvimento emocional — por parte deste maravilhoso elenco — que quase nos permite sentir-lhes a pulsação, como se estivéssemos a viver com eles o que se passa durante aquela noite”, adianta Michel Simeão, de 44 anos, sobre esta produção.
Considerado um “clássico moderno” pelo jornal britânico “Sunday Times”, a peça recebeu ainda uma crítica excecional do jornal “The Guardian”, que considera que tem “uma dimensão humana – ausente em grande parte das produções de terror”. Além de integrar “momentos genuinamente arrepiantes e espantosos o suficiente para deixar uma sala inteira de teatro em silêncio e com o fôlego suspenso”, acrescentou a crítica, Kate Wyver.
Michel Simeão sabe que as comparações entre a peça original em Londres e esta adaptação são inevitáveis, mas não pensa que isso aumenta a pressão sobre a qualidade da produção portuguesa.
“Eu não gosto de pensar nessa pressão e não a coloco sobre mim ou sobre os atores. Nas últimas semanas, só temos vivido esta história e estes personagens no nosso dia-a-dia. As expetativas são óptimas! Antes de mais, porque é a primeira vez que se está a fazer algo do género em Portugal, não tenho memória de ver algo deste cariz cá. Vi o espetáculo em Londres e posso avançar que não será igual. O que tentámos fazer nesta adaptação foi criar uma maior envolvencia com o público, levá-lo a acreditar e beber cada uma daquelas palavras e acho que nesse aspecto o nosso elenco consegue, com um brilhantismo incrível, aproximar-se muito à verdade, levando o público a embarcar nesta jornada e acreditar no que está a acontecer”, diz à NiT.
Os bilhetes para a peça “2:22 Uma História de Fantasmas” estão à venda na Ticketline e noutros locais habituais, e custam 20€.