Depois do sucesso (inesperado, segundo a própria) do podcast “Psychoterapia”, Joana Gama reuniu várias histórias da sua vida para chegar a um “Diagnóstico”. É assim que a humorista e locutora portuguesa de 35 anos apresenta o seu novo espetáculo de stand-up, que não encara como um grande solo (apesar de ter uma hora de duração), mas como performances de teste que a vão ajudar a construir o tal solo.
“Há uns tempos, quando voltei a fazer stand-up — porque a minha relação com o stand-up era um bocado de curtição, digamos assim [risos] — senti que não estava a trabalhar para um propósito maior. Senti que estava a desfrutar mais era de estar em palco e de ocasionalmente fazer as pessoas rir. Então parei novamente a pensar: quando voltar ao stand-up quero trabalhar com um propósito, com um objetivo. E é isso que é o ‘Diagnóstico’: o culminar da minha vontade de levar o stand-up a sério, de levar o stand-up ao altar, fazer as coisas com um propósito, com seriedade e trabalhar antes das atuações, não ser só repetir texto”, explica Joana Gama à NiT.
Foi assim que começou a desenvolver a ideia que viria a resultar nestes espetáculos de teste — formato relativamente comum no mundo da comédia, cada vez mais presente em Portugal —, em que os humoristas experimentam material para depois o aperfeiçoarem ou perceberem o que faz ou não sentido para um espetáculo mais sólido e sério. A grande diferença é que normalmente os testes consistem em atuações curtas, por vezes apenas de dez ou 15 minutos, e neste caso duram cerca de uma hora.
As sessões de “Diagnóstico” vão acontecer nos dois próximos sábados, 18 e 25 de setembro, no Boutique da Cultura, em Lisboa. Os bilhetes custam 12€, sendo que neste momento a segunda data já se encontra esgotada. Começa às 21 horas.
“Eu estou a encarar esta hora de espetáculo como um solo improvisado. Eu não sei se esta abordagem ou estes temas um dia irão entrar num trabalho futuro, mas vou experimentar outras coisas além do texto. Vou experimentar desprender-me do stand-up puro e duro, vou fazer alguns momentos de improviso, não vou estar tão colada ao texto, vou fazer alguma escrita em palco, vou falar com as pessoas. Tudo isto irá resultar numa Joana mais definida na sua identidade de comediante. E é isso que depois levo para outros projetos. Como é que tem sido para mim? Tem sido interessante porque é sempre mais engraçado escrever para mais tempo, e eu não gosto de sprints, gosto de maratonas [risos]. Sinto que quanto mais tempo estiver em palco para me relacionar com o público, mais íntima vai ser essa relação e é isso que me interessa: a profundidade, a genuidade, a autenticidade e em dez minutos ali um bocado à stripper [risos] como nós costumamos fazer nalguns sítios sinto que fica tudo muito pela rama, muito pífio. Estou entusiasmada, estou cheia de medo, mas também acho que vai ser giro e vai ser acima de tudo útil para mim.”
Joana Gama assume que há uma ligação entre o podcast “Psychoterapia” e este “Diagnóstico”, até porque obviamente ambos se baseiam nas suas vivências e pensamentos, mas também coincidem em termos concetuais.
“O ‘Psychoterapia’ é como se fosse uma exposição da minha cabeça e da minha vida, séria mas com alguma graça. Neste caso a vida ou o material continua a ser o mesmo, que é a minha pessoa e a minha cabeça, mas primeiro com graça e depois com seriedade. Portanto, num estou a ser uma comunicadora divertida. No outro estou a ser uma humorista que também é comunicadora. E portanto acho que pode ser interessante para quem tenha ouvido o ‘Psychoterapia’ também ver o ‘Diagnóstico’ ao vivo, para perceber qual é a diferença entre a exposição cómica e de partilha emocional. E a nível concetual faz sentido: primeiro existe uma terapia e depois chega-se a um diagnóstico. Eu gostava e tenho alguma vaidade em querer fazer coisas com um conceito e com lógica entre elas. Portanto, diria que, se algum dia fizer um solo, e se continuar a debruçar-me sobre estes assuntos que acredito que sim, não tenho muito mais para dizer ao mundo, que o nome tenha algo a ver com esta ordem, depois se calhar será a Cura ou o Desaparecimento, não sei [risos].”
O espetáculo é autobiográfico e vai incluir diversos episódios reais da vida da autora, mas não será contado de forma cronológica. “A forma que tenho arranjado para descrever o espetáculo é que é como se fosse uma revisão da minha vida, não por ordem cronológica, mas emocional. Até porque não tenho qualquer capacidade de conseguir empilhar os conhecimentos de ordem cronológica, não consigo. A minha maneira de me recordar das coisas é só emocional. Posso começar pelo meu nascimento, depois ir para a adolescência, para a vida adulta, depois voltar à infância.”
Joana Gama revela que também irá abordar brevemente o tema da maternidade, em específico do parto da filha, que hoje tem sete anos — mas não é um assunto que neste momento queira aprofundar no stand-up. “É uma coisa da qual eu me quero afastar, que é fazer temas previsíveis. Uma pessoa vai ao meu espetáculo, e como sabe que sou mãe e mulher, tem a mania, ou, vá, é levada a prever que eu vá falar sobre a maternidade, ou sobre a diferença entre homens e mulheres, ou pelo menos eu sinto esse peso.”
Quanto a possíveis novas datas de “Diagnóstico”, Joana Gama chuta para canto. “Vou responder um bocadinho à profissional do futebol por uma questão de estratégia. Eu agora estou focada nestas duas datas, estou a 200 por cento, nos próximos jogos depois falaremos sobre isso, neste momento temos é que nos concentrar nestes dois jogos.”
Nesta nova rubrica da NiT, questionada acerca dos objetos pessoais que a representam ou são importantes para a sua vida, Joana Gama selecionou sete itens que nos poderão ajudar a diagnosticar esta comediante. Carregue na galeria para os conhecer.