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Teatro e exposições

Ator é agredido pela extrema direita à porta do Cinearte. Peça é cancelada

O artista de 45 anos foi abordado à chegada ao teatro por um grupo que segurava vários cartazes xenófobos.

O espetáculo “Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver”, que estaria em exibição esta terça-feira, 10 de junho, foi cancelado após o ator Adérito Lopes ter sido violentamente agredido à porta do Cinearte, no Largo de Santos, em Lisboa. O artista de 45 anos terá sido vítima de um grupo de extrema-direita, antes de ser hospitalizado. A notícia foi avançada à RTP por Maria do Céu Guerra, uma das encenadoras da peça de teatro.

Tudo começou pelas 20 horas, quando os atores da companhia de teatro A Barraca começaram a chegar ao Cinearte. À porta, cruzarem-se “com um grupo de neonazis com cartazes” em que se liam várias frases xenófobas, incluindo “Portugal aos portugueses” e “defende o teu sangue”.

“Dois atores foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, afirmou a encenadora de 82 anos à Lusa, citada pela CNN Portugal. O espetáculo, que tinha a última récita marcada para as 21 horas com entrada livre, teve de ser cancelado.

O suspeito de ter agredido Adérito Lopes tem 20 anos e foi encontrado pela Polícia de Segurança Pública (PSP) nas ruas adjacentes ao Largo de Santos.

“É terrível. Tenho aqui o elenco, 14 atores, todos com medo de saírem do teatro”, lamentou a encenadora na noite desta terça-feira. “Eles querem falar, dar a sua opinião, querem dizer o que sentem em relação a isto e à proteção que lhes é merecida.”

Mariana Mortágua, coordenadora do Bloco de Esquerda, recorreu ao X (antigo Twitter) para comentar o caso: “Os neofascistas atacam os livros, o teatro e quem faz a cultura. Fazem-no porque acham que podem. O Governo do PSD retirou do relatório de segurança interna a ameaça da extrema-direita. É o maior risco à nossa democracia. Solidariedade com o teatro d’A Barraca. Vamos à luta”. 

Já Isabel Mendes, líder do grupo parlamentar do Livre frisou que a agressão “não pode ficar impune”. “O aumento da violência e do discurso de ódio é para levar muito a sério. Toda a solidariedade com a equipa da Barraca.”

Peça integrava as Festas de Lisboa

“Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver” foi criada por Maria do Céu Guerra e Hélder Mateus da Costa, para as celebrações do quinto centenário do nascimento de Luís de Camões. A produção foi encenada pela primeira vez no Centro Cultural de Belém, com sessões nos dias 29 de novembro a 1 de dezembro de 2024.

A peça conta a história da viagem de Camões, entre amores, naufrágios e a criação de “Os Lusíadas”.

“O espetáculo transporta memórias de amores e desamores, muitas perdas e maus tratos e prisões operados em sigilosos conluios por muitos inimigos seus contemporâneos”, lê-se na sinopse.

Este mês de junho, “Amor é Um Fogo Que Arde Sem Se Ver” voltou a estar em exibição, como parte das Festas de Lisboa. A peça contaria com quatro sessões gratuitas (de 7 a 10 de junho), mas a última acabou por ser cancelada na sequência deste incidente.

Com a direção musical do Maestro António Vitorino d’Almeida e vídeos do aclamado ilustrador André Letria, o elenco contava com nomes como Beatriz Dinis e Silva, Érica Galiza, Gil Filipe e Luís Ilunga.

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