O mural “As Estrelas do Caminho”, que une os caminhos de Santiago português e francês é considerada a exposição de arte mais extensa do mundo. Tem um total de 370 quilómetros e termina em Matosinhos, com uma homenagem a Capicua, rapper natural do Porto.
A NiT falou com Daniel Eime, o artista português escolhido para dar vida às obras de arte. O artista natural das Caldas da Rainha, de 36 anos, revelou-nos os segredos de todo o processo de criação desta que foi a sua “a obra mais longa e difícil até agora”.
No total, a exposição é composta por nove murais com figuras marcantes de cada terra que atravessa. Além de Matosinhos, em Portugal as criações podem ser vista também em Rubiães, Ponte de Lima e Barcelos. Daniel ficou responsável por quatro e a espanhola Lula Goce, artista de Baiona (Pontevedra), pintou os restantes.
Cada mural representa “um protagonista local com uma história de luta pessoal que reflete o seu vínculo à sua terra ou ao caminho. São artistas, artesãos ou atletas que encarnam o espírito do peregrino, com valores como a superação e a irmandade”, revela a marca Estrella da Galicia, responsável pela iniciativa.
Junto de cada artista encontra um QR code que desvenda as histórias por detrás de “As Estrelas do Caminho“. O mural final que retrata Capicua foi concluído na semana passada. O autor é o artista Daniel Eime, também natural do Porto.
Mesmo com uma experiência de mais de 20 anos, Daniel guarda este projeto como um dos mais marcantes. “Há malucos em todo o lado. Afinal, trabalho na rua e aqui temos acesso ao que queremos ou não”. Diz que já apanhou de tudo, mas nem isso o preparou para o “puzzle gigante” que teve de construir para a quarta parede pintada.
O último mural da exposição de arte mais extensa do mundo já foi revelado e trata-se de uma homenagem à rapper Capicua, com uma dimensão de 15 por 13. A organização explicou em comunicado que “a ampliação do projeto a Matosinhos pretende continuar a homenagear os verdadeiros protagonistas do Caminho de Santiago, a população que vive estas regiões intensamente, e de certa forma fazem parte da história do percurso, ao disponibilizarem as suas cidades e aldeias aos peregrinos”.

“Apesar de ter sido o último a ser feito, é o primeiro a aparecer para quem faz o caminho Portugal-Santiago.” Ao artista não coube a responsabilidade de escolher as personalidades representadas, mas pode participar na orientação das sessões fotográficas. “Cara virada para a direita, tipo de luz x e ângulo tal”. Depois de passada a primeira etapa, apresentou dois ou três projetos e foi escolhido o final.
Para o de Ana Matos, conhecida por Capicua, foram precisos 15 dias, “muito por culpa das condições climatéricas”. O artista revelou ter sido forçado a ir fazendo pausas no processo dado que não se podia estar a fazer pinturas com chuva. “Estávamos literalmente à espera de pequenas abertas”. Daniel usa “desde sempre” tinta acrílica à base de água, incompatível com estas condições meteorológicas.
Ainda tentaram arriscar, mas “a chuva apareceu de repente e foi tudo por água abaixo”. Não foi, no entanto, um grande acidente, já que resolveram tudo depois e “hoje nem se nota”. A dimensão do mural levou-o a pedir ajuda de “um amigo e de uma terceira pessoa”.
Para que os nossos leitores percebam, o projeto gráfico é o que define a imagem final e tem ser pensado com antecedência. De seguida, existe um intenso trabalho de bastidores para criar uma imagem o mais parecida possível com a expressão facial da pessoa em causa. Depois de concluído o trabalho digital, foi preciso imprimir e colar 130 folhas gigantes. Só os cortes demoraram 15 a 20 dias.
Daniel Eime é um artista português cujas obras de stencil tentam sempre escapar à técnica geral com tinta estática e textura de spray. Começou a pintar na rua quando tinha apenas 15 anos e começou pelo grafitti. Dois anos começou a experimentar novas formas de crias, com recuso a autocolantes, cartazes e, finalmente, stencil. Licenciado em Design de Cenografia, trabalhou durante vários anos como cenógrafo, essencialmente em projetos de teatro, cinema e publicidade. Em 2011 abandonou a sua área de formação, passando a dedicar-se exclusivamente à arte urbana.
Em 2008 passou a dedicar-se exclusivamente com a técnica de stencil, sendo reconhecido pelos seus murais de grande escala e pelo uso de imagens bastante detalhadas. Procura trabalhar rostos comuns e do quotidiano, frequentemente combinados com elementos abstratos e geométricos. Nas suas peças aborda o lado mais misterioso de cada pessoa, onde cada linha dos seus rostos conta histórias de vida.
O mural final que retrata Capicua já pode ser encontrado na Rua de Recarei 831. Citada na mesma nota de imprensa, a artista sublinha que “o Caminho de Santiago é a ligação umbilical entre dois povos que, no fundo, fazem parte da mesma cultura”.
Com o objetivo de homenagear os verdadeiros protagonistas do Caminho de Santiago — a população que vive estas regiões intensamente e que, de certa forma, fazem parte da história do Caminho de Santiago, ao disponibilizarem as suas cidades e aldeias aos peregrinos — representam artistas, artesãos ou atletas que encarnam o espírito do peregrino, com valores como a superação e a irmandade.
Carregue na galeria para conhecer os restantes murais espalhados pelo percurso.