Teatro e exposições

Recebeu 72 mil euros para criar obra e entregou tela em branco — agora foi condenado

Jens Haaning foi notícia em 2021, quando criou "Take the Money and Run". Dois anos depois, é conhecida a decisão do tribunal.
Ninguém estava à espera disto.

Chegou ao fim o bizarro conflito que opunha o artista dinamarquês Jens Haaning ao museu da cidade sueca de Aalborg. Tudo porque os responsáveis pelo espaço exigiam o pagamento de um valor que o artista deveria ter usado para criar uma obra.

Haning, de 56 anos, resolveu ficar com o dinheiro, mas esta segunda-feira, 18 de setembro, um tribunal de Copenhaga considerou que teria de restituir o valor.  Mas, numa reviravolta, o tribunal decretou igualmente que apesar das objeções, a comissão foi cumprida e o museu terá que pagar a retribuição a Haaning conforme combinado. Termina assim uma história que começou em 2021.

Jens Haaning tornou-se conhecido pelas obras que confrontam a política, a arte e a sociedade. Num dos seus projetos mais famosos, reuniu numa tela notas verdadeiras que, acumuladas, equivaliam ao salário anual médio de um dinamarquês. Repetiu a ideia mais tarde, desta vez com o salário anual médio de um austríaco. E deveria tê-lo feito novamente — não fosse Haaning um artista à procura de quebrar todas as regras.

Aceitou a proposta do Museu de Arte Moderna Kunsten, na cidade dinamarquesa de Aalborg, para recriar essas mesmas peças em 2021. Porém, ao invés de tintas ou outros materiais, Haaning precisava de dinheiro vivo, notas de euros, para concretizar a obra. Um encargo que o museu aceitou.

Recebeu cerca de 72 mil euros a título de empréstimo para que pudesse preencher as telas. Só que no dia da chegada das obras ao museu, os responsáveis repararam que estavam vazias. Quando questionaram Haaning sobre o sucedido, o dinamarquês tinha uma resposta pronta.

A nova obra chamava-se “Take the Money and Run” — ou “Agarra no Dinheiro e Foge” — e tinha como objetivo superar o conceito anteriormente idealizado. “Decidi fazer um novo trabalho para a exposição, em vez de exibir os dois antigos trabalhos feitos há 14 e 11 anos, respetivamente”, respondeu então Haaning.

Incrédulo com a indignação do museu, o artista explicou que as novas telas “se baseiam e dão resposta ao conceito da exposição e às obras que deveriam ter sido exibidas”. A mensagem escrita enviada por Haaning ao museu a justificar-se está agora anexada às telas que, mesmo assim, foram colocadas nas paredes.

O que foi exposto no museu.

Contudo, os responsáveis do museu não ficaram satisfeitos e mostraram não ter problemas em recorrer aos tribunais para reaver o dinheiro que, neste caso, ficou no bolso de Haaning. O processo ficou concluído esta segunda-feira.

“Percebi, pelo meu ponto de vista, que podia entregar-lhes uma obra muito melhor do que eles haviam imaginado”, revelou à CNN. “Não vejo isto como um roubo. Criei uma peça de arte que talvez seja 10 ou 100 vezes melhor do que a que estava planeada. Qual é o problema?”

Entendimento diferente têm os responsáveis do museu, já que além dos 72 mil euros, pagaram também mais de 1.300€ a título de honorários e como compensação pela despesa com as molduras e a entrega.

Haaning ripostou e explicou que esse dinheiro não seria sequer suficiente para compensar o custo do seu trabalho e da sua equipa. “É sempre melhor quando trabalho com exposições fora da Dinamarca. Os museus dinamarqueses esperam que seja eu a investir, na esperança de que, um dia, decidam comprar-me alguma coisa.”

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT