Susana Henriques sempre viu as galerias como “sítios estéreis e pouco convidativos”. Decidida a mudar o cenário na sua cidade, o Porto, abriu a 23 de novembro a Fissura, onde a arte se apresenta num ambiente “mais confortável e menos intimidante”.
O nome do espaço reflete o seu principal objetivo. “Andei à procura de sinónimos para corte, porque era essa a minha ideia: distinguirmo-nos da cena atual”, conta a artista de 24 anos à NiT. Para lutar contra o paradigma, a Fissura vive num espaço com sofás, bancos, mesas, plantas e café para os visitantes poderem relaxar. “Não tem nada a ver com aquele espaço branco em que a pessoa está só a olhar. A ideia é sentarem-se e conversarem.”
Susana, mestre em História da Arte, Património e Cultura Visual, quis desenvolver, durante o curso, um projeto com a sua curadoria que esteve em exposição no Museu Nacional Soares dos Reis. “Oh, o Horror!” esteve em exibição de 18 de maio a 30 de junho deste ano e era dedicado “ao pensamento sobre o terror e as suas manifestações na arte, enquanto reflexo das preocupações e ansiedades da sociedade”.
Desta vez, colaborou com a Poetria, uma livraria onde era uma cliente regular e onde reparava que o espaço não era aproveitado a 100 por cento. Sem inibições, decidiu perguntar se seria possível criar uma galeria na mezzanine. “Agora, quem vai à loja também vai à galeria”, afirma.
No pequeno espaço com cerca de 20 metros quadrados, coexistem inúmeros artistas emergentes que até aqui não tinham uma casa onde pudessem apresentar os seus trabalhos — um problema que Susana sabia que existia. “A maior parte dos meus colegas sentiam que não havia espaço para exporem. No futuro também queremos receber eventos e ser, acima de tudo, uma plataforma de lançamento para novos talentos.”
No início de dezembro lançou uma open call que teve bastante adesão. O tema era simples: a memória e nostalgia. Foram selecionadas cinco artistas que atuam em diferentes áreas do mundo da arte, como cerâmica, acrílicos, miniaturas, prints e fotografias.
A exposição ficará patente na Fissura até ao fim do ano e Susana já sabe qual será o tema da próxima: o corpo e o movimento. Se tudo correr conforme planeado, ficará em exibição durante quatro meses. “Podem interpretar o tema como quiserem e usar os materiais que preferirem. Os artistas também podem enviar propostas mesmo que não se adeque ao tema corrente, porque pode ser uma opção para o futuro”, realça.
Em comparação com muitos outros espaços, as peças são mais baratas, visto que os preços começam nos 25€. Já a mais cara está disponível por 200€. “Não quero suar presunçosa, mas para uma galeria são valores bastante atrativos e acessíveis.”
A Fissura (que também é pet friendly) promete ser um sucesso e a inauguração, que contou com vinhos da Ribeiro Santo, superou todas as expectativas da fundadora. “Tivemos muitas mais visitas do que aquelas que estávamos à espera”, afirma com orgulho.
Carregue na galeria e conheça melhor a Fissura.