Teatro e exposições

Suíça proíbe entrada a Ai Weiwei: “Disseram-me que isto é a Suíça e não Portugal”

O chinês de 67 anos teve de passar a noite no aeroporto e, no dia seguinte, foi enviado de volta para o Reino Unido.
Ficou revoltado.

Ai Weiwei revelou no Instagram que foi impedido de entrar em território suíço. O artista de 67 anos chegou ao aeroporto de Zurique na segunda-feira, 10 de fevereiro, depois de ter partido de Londres. Quando o avião aterrou, as autoridades não o deixaram entrar devido à falta de visto, já que o que tinha terá caducado.

O chinês de 67 anos, teve de passar a noite no aeroporto e, no dia seguinte, foi enviado de volta para o Reino Unido. “Disseram-me que isto é a Suíça e não Portugal. Estou a dormir num banco com um cobertor, à espera de ser deportado de manhã”, escreveu numa publicação.

Um porta-voz da polícia de Zurique já falou sobre o caso. À imprensa local, disse que Ai Weiwei não tinha os documentos necessários para entrar no país que pertence ao espaço Schengen, ao contrário do Reino Unido. O chinês vive em Portugal desde 2019 — tem uma casa no Alentejo.

Weiwei, um génio perseguido

O nome de Ai Weiwei é uma referência em todo o mundo da arte. Na China, no entanto, é ainda um nome a evitar por artistas mais bem aceites pelo regime. Há, no entanto, uma legião de seguidores que o acompanha e continua a colaborar com ele, mesmo a milhares de quilómetros de distância.

O seu mais recente filme, “Coronation”, foi gravado por voluntários em Wuhan, epicentro da Covid-19, durante as medidas draconianas de quarentena. O filme é, no entanto, apenas uma das suas plataformas. Para Ai Weiwei, a sua arte é precisamente o protesto, a voz política. E tem feito toda uma carreira, de marginal a estrela, em que mudam os materiais e as formas mas a sua abordagem mantém-se.

As quase duas dezenas de documentários juntam-se a obras de grande dimensão, como a instalação em Berlim em 2016 feita com coletes recolhidos de imigrantes que faziam a travessia do Mediterrâneo, ou a mensagem gigante que construiu com mochilas, em memória das milhares de crianças que morreram no terramoto de Sichuan em 2008.

Esse projeto foi um dos que o colocaram na mira das autoridades chinesas. Com a ajuda de voluntários, durante um ano recolheram informações de crianças desaparecidas e que as autoridades não forneciam.

Em 2009, foi detido pelas autoridades e agredido. Um mês depois, já em Berlim, as dores de cabeça persistiam. Foi fazer exames e um traumatismo no crânio colocava a sua vida em risco. Foi operado de urgência, mas voltaria à sua China natal.

Em 2010, numa entrevista à “The New Yorker” a partir do estúdio que se tornara uma referência para jovens artistas no País, Weiwei explicava que continuava a evitar o circuito das grandes galerias de arte. Preferia vender através de espaços mais pequenos ou diretamente. “Não gosto do sistema.” A frase era sobre a indústria da arte mas podia ser também sobre o regime do seu país.

Naquele ano voltaria a ter problemas com as autoridades. O blogue que mantinha há quatro anos e onde criticava o Partido Comunista Chinês foi encerrado. O seu estúdio recebeu ordens de demolição por supostas questões burocráticas. A mais de 700 quilómetros do seu estúdio, em prisão domiciliária, em Pequim, convocou uma festa a que atenderam centenas de pessoas. A destruição do seu espaço não era uma tragédia — tornou-se também uma instalação artística.

Em 2011, voltou a ser preso e arriscava 13 anos de cadeia. A pressão internacional era grande mas a verdade é que a sua popularidade além fronteiras já não o poupava à pressão do governo. Passou 81 dias na cadeia por subversão e saiu após pagar uma multa de mais de dois milhões de euros por alegada fraude fiscal. O dinheiro chegou através de donativos de fãs.

Os documentos que supostamente comprovavam a sua culpa foram destruídos por ordem das autoridades. Durante quatro anos teve o seu passaporte confiscado. Quando o devolveram, em 2015, mudou-se para a Alemanha. Uma mudança, apesar de tudo, bem diferente das que viveu enquanto crescia.

Leia o artigo da NiT e conheça melhor a história do artista.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT