Televisão
10 anos de “Breaking Bad”: as histórias de bastidores que se descobriram entretanto
A DEA ensinou os atores a produzir droga, Bryan Cranston despiu-se para Aaron Paul parar de chorar e os verdadeiros donos da casa dos White tiveram de vedar o local.
Foram 62 episódios com estes dois.
A 20 de janeiro de 2008 estreava no AMC uma série passada longe do glamour de Hollywood e rejeitada por vários canais, incluindo a HBO. “Breaking Bad” (ou “Ruptura Total” em Portugal) surgiu tímida, mais ou menos como o protagonista, um professor de secundário atadinho que descobre ter cancro. Depois explodiu, acompanhando a transformação de Walter White em traficante de droga, e tornou-se uma das melhores produções dos últimos tempos.
A equipa — enfiada na desterrada cidade de Albuquerque, no Novo México — era uma verdadeira família. Despediu-se em 2013, após cinco temporadas e 16 Emmys, e o último ano foi especialmente penoso para Aaron Paul (Jesse Pinkman na história), que chorava a toda a hora. O co-protagonista, Bryan Cranston (Walter White) até se despiu no último dia de gravações, a 3 de abril desse ano, para fazer o colega rir.
Juntos contrataram um tatuador para a festa de despedida. Paul escolheu um dos bíceps para escrever uma frase de Mike (a personagem de Jonathan Banks): “No half measures (sem meias medidas).” Cranston foi mais discreto e quis os símbolos do genérico, “Br” e “Ba”, tatuados na parte de trás do anelar da mão direita.
No dia em que se comemoram os dez anos da estreia de “Breaking Bad”, a NiT recorda cinco histórias de bastidores, um arrependimento de Vince Gilligan (o criador) e outro episódio alucinado da vida de Bryan Cranston que podia perfeitamente fazer parte da história.
Como parar a choradeira de Aaron Paul
Aaron Paul passou praticamente toda a última temporada a chorar, fosse entre as cenas ou a ler o guião com o co-protagonista Bryan Cranston. Este último sabia que precisava de medidas extremas para aligeirar o último dia de gravações — que recriava um dos primeiros momentos da história, no qual as duas personagens estão a produzir droga em pleno deserto.
Numa das cenas, Walter White cozinha apenas de avental e cuecas brancas mas, desta vez, Cranston decidiu nem sequer usar roupa interior. O truque resultou e o choro que se previa deu lugar às gargalhadas.
Para aquele dia específico recuperaram a caravana antiga e Paul passou horas lá dentro com medo que gritassem “corta” uma última vez. “Só queria continuar a gravar”, explicou.
Os donos da casa de Walter White não têm descanso
No segundo episódio da terceira temporada, um frustrado Walter White atira uma pizza para cima do telhado da garagem. Desde então, a prática quase virou desporto olímpico e não há dia em que não apareçam fãs no local para fazer o mesmo. A verdadeira dona da casa, Fran, vive lá desde 1973 mas no final de 2017 fartou-se das visitas turísticas e anunciou que ia colocar uma vedação à volta da propriedade. Tudo porque havia quem até trepasse para cima do telhado para tirar selfies.
Os atores aprenderam mesmo a fazer metanfetaminas
Antes de arranjar problemas, os produtores da série resolveram informar a DEA (Drug Enforcement Administration) sobre a história de “Breaking Bad”.
De acordo com Bryan Cranston, perguntaram se a entidade “queria fazer parte daquilo como consultora para se assegurar de que não falhávamos”.
A DEA aceitou e, para que todos dominassem o assunto, houve químicos da unidade a ensinarem Cranston e Aaron Paul a cozinhar metanfetaminas.
Hank era agente da DEA e cunhado de Walter White.
A cena da morte de Jane foi demasiado pessoal para Bryan Cranston
Numa das sequências mais duras de “Breaking Bad”, Walter White vê a namorada de Jesse, Jane, a engasgar-se até morrer e decide não ajudar. Mais tarde, o ator revelou porque é que a cena tinha sido extremamente difícil de gravar.
“A dada altura, vi a cara da minha filha em vez da cara dela e esse foi o momento que me deixou sem respirar”, disse com lágrimas nos olhos numa entrevista de 2015.
“Acho que foi por isso que fechei os olhos, não tenho a certeza. Não nos lembramos dos detalhes porque estamos lá. […] Depois a imagem da minha filha desapareceu e eu estava a tentar retomar algum controlo.”
Foi no 12.º episódio da segunda temporada.
Ninguém queria a série
TNT, Showtime e FX não se mostraram interessados em “Breaking Bad” mas a reunião com a HBO foi a pior. “A mulher a quem estávamos a apresentar a ideia não podia mostrar-se menos interessada — nem sequer na minha história mas se eu sequer vivia ou morria”, contou Vince Gilligan em 2014.
Bryan Cranston procurado por homicídio
Foi muito antes do papel que mudaria a sua vida mas não deixa de ser irónico. Bryan Cranston fez uma viagem com o irmão pelos Estados Unidos. Os dois passaram algum tempo a trabalhar no Hawaiian Inn Polynesian and Showroom, em Dayton, Florida. Peter Wong, o chef, “era um ditador culinário” e a equipa fazia piadas sobre a sua morte. Cranston queria, inclusive, “servi-lo numa bandeja”.
Os Cranston acabaram por deixar o trabalho e viajar para norte. Pouco depois, Wong desapareceu e os antigos colegas mencionaram os irmãos, que tinham acabado de partir. A polícia procurou-os durante dois dias mas acabou por se provar que o chef tinha sido assassinado por uma prostituta “que o tinha visto numa arena de corridas de cães com copiosas quantidades de dinheiro”, contou o ator na biografia “Uma Vida de Histórias”.
Na despedida.
Um arrependimento
De vez em quando Vince Giligan, o criador, revê episódios antigos e só depois destes anos todos se lembrou de um pormenor. “Os dentes do Jesse eram demasiado perfeitos”, explicou ao jornal “USA Today”. “O Aaron tinha uns dentes perfeitos na vida real e nunca os estragámos ou fizemos parecer que faltava um dente. Não sei como é que alguém é espancado tantas vezes e fuma tanta metanfetamina e não tem os dentes piores”, admitiu.