Televisão

30 anos depois, a história real do massacre de Waco é contada na Netflix

Um perigoso culto cristão barricou-se num edifício com dezenas de armas. Morreram mais de 80 pessoas.
O caso aconteceu em 1993.

Há 30 anos, um acontecimento parou os Estados Unidos da América e fez manchetes em todo o mundo. O cerco — ou massacre — de Waco durou 51 dias, quando um grupo religioso radical se barricou e começou a disparar contra os agentes da FBI e da polícia que os queriam deter. A história definitiva, que continua a gerar discussões, é agora contada numa minissérie documental da Netflix. “Waco: Apocalipse Norte-Americano” tem três episódios e estreia esta quarta-feira, 22 de março.

Comecemos pelo início da história. David Koresh, que havia nascido Vernon Howell em 1959, era o líder do culto dos Branch Davidians. Koresh tornou-se a figura de topo da organização quando o seu antecessor morreu em 1987. Este era um grupo que seguia a Bíblia e que se focava muito no apocalipse, que acreditavam estar iminente.

David Koresh autoproclamava-se como profeta. Acreditava que conseguia falar com Deus e era seguido como se ele próprio também fosse uma divindade. Durante os seis anos em que liderou a organização, converteu dezenas de pessoas a juntarem-se ao culto. Fazia palestras e era considerado um orador carismático — embora também fosse um criminoso.

Usava a sua posição de poder para ter relações sexuais com múltiplas mulheres do grupo — e abusava inclusive de adolescentes e crianças. Como profetizavam que o fim do mundo se aproximava, o grupo acumulava inúmeras armas de fogo e explosivos. Este facto foi denunciado às autoridades, que iniciaram uma investigação por posse ilegal de armas.

Foi a 28 de fevereiro de 1993 que um grupo de agentes se aproximou do enorme complexo em Waco, no estado norte-americano do Texas, onde o culto residia. Os agentes do FBI alegam que foram os Branch Davidians que abriram fogo, alguns sobreviventes do culto mantêm a versão de que foram as autoridades que começaram por disparar.

Certo é que se iniciou um tiroteio violento que vitimou logo 10 pessoas no primeiro dia, tanto de um lado como do outro. Os Branch Davidians barricaram-se no complexo, enquanto centenas de polícias começaram a cercar os edifícios nos dias seguintes. No interior, estavam 62 adultos e 21 crianças.

Durante os 51 dias que durou o cerco, o FBI conseguiu assegurar a libertação de 44 pessoas, muitas delas crianças, em troco de comida e outro tipo de bens essenciais. Esse processo foi liderado por uma equipa de negociadores de reféns. Ao todo, David Koresh teve 117 conversas com o FBI, num total de 60 horas de diálogo.

Porém, as negociações chegaram a um impasse a meio de abril, quando David Koresh estava adiar a sua rendição. A tensão aumentou no dia 19 quando os tanques e os carros das autoridades se aproximaram do complexo e os agentes lançaram gás lacrimogéneo para dentro do complexo.

Nessa altura, deflagrou um incêndio no edifício, que acabaria por se revelar fatal. Quando o FBI entrou no complexo, a grande maioria das pessoas estavam mortas. David Koresh também. Porém, muitas tinham marcas de balas ou esfaqueamentos — ou seja, as autoridades alegam que os membros do culto tiraram as próprias vidas (ou as das pessoas à sua volta) para que não fossem detidos ou para que não morressem graças ao fogo. 

Uma investigação independente posterior concluiu que o incêndio foi ateado em diferentes locais do complexo, pelo que não teria sido provocado pelo FBI. Alguns dos sobreviventes do culto alegam que não haveria nenhum motivo para que aquele incêndio tivesse sido ateado pelos Branch Davidians, e defendem que foi o FBI a disparar as balas que mataram algumas das pessoas no interior. É um dos aspetos do caso que se mantêm envoltos em controvérsia.

A nova minissérie da Netflix inclui gravações do FBI nunca antes divulgadas e pretende refletir, 30 anos depois, sobre o maior conflito armado nos EUA desde o fim da guerra civil. O impacto mediático na altura foi enorme e o caso continuou bem presente na memória coletiva e opinião pública — até porque gerou discussões sobre as armas na América e, claro, sobre Deus. 

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