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“A Casa Guinness”: nova série de sucesso da Netflix é inspirada numa história real

Estreou a 25 de setembro e chegou rapidamente ao top 10 da plataforma de streaming em Portugal. A crítica está satisfeita.

Todos os dias, são consumidos mais de 10 milhões de copos da cerveja Guinness em todo o mundo. Ao fim de 265 anos de história e sucesso é normal que também haja vários dramas escondidos nos corredores da empresa irlandesa. No entanto, nenhum episódio é tão chocante quanto o dos filhos de Benjamin Guinness — e foi esse que inspirou a nova série da Netflix. “A Casa Guinness” estreou a 25 de setembro na plataforma de streaming e, atualmente, é a terceira produção mais vista em Portugal.

A obra de oito capítulos acompanha os quatro filhos adultos do patriarca da cervejaria Guinness, Benjamin Guinness — que chegou a ser o homem mais rico da Irlanda —, enquanto enfrentam o desafio de gerir a popular cervejaria e as propriedades da família após a sua morte em 1868. Isto tudo no meio de uma verdadeira guerra entre católicos e protestantes naquele país.

Segundo Ivana Lowell, produtora executiva, a narrativa foi criada com base em histórias que se desenvolveram no seio da família. Na década de 1860, a Irlanda estava ocupada pelos ingleses, maioritariamente protestantes, enquanto a população católica enfrentava discriminação. A família Guinness era protestante, e embora a cerveja fosse produzida na Irlanda, continuava a ser engarrafada em Inglaterra.

“Benjamin, o patriarca, era deputado conservador por Dublin e votava consistentemente a favor da união da Irlanda com a Grã-Bretanha”, explica Steven Knight, criador de “House of Guinness” e de “Peaky Blinders”, à revista “Vanity Fair”.

Bill Yenne, autor de “Guinness: The 250 Year Quest for the Perfect Pint”, um livro sobre o legado da família multimilionária, acrescenta que os seus membros eram “claramente pró-Inglaterra”, tal como acontecia com outros clãs ricos naquela altura. Muitos deles viviam, inclusive, na Inglaterra e possuíam títulos da nobreza britânica. “Eram muito leais à coroa.”

Outra personagem importante na obra é Edward Cecil Guinness (interpretado por Louis Partridge), o terceiro filho de Benjamin que assumiu a liderança da cervejaria após a morte do pai. Procura estabelecer um canal de comunicação com Ellen Cochrane (Niamh McCormack), representante dos fenianos, um movimento revolucionário irlandês nascido após a Grande Fome das décadas de 1840 e 1850.

“Os fenianos podiam ter planos de fazer coisas desagradáveis à família Guinness”, afirma Yenne.

Knight, por sua vez, acrescenta que os registos familiares referem que a cervejaria temia ataques de incendiários a Benjamin Guinness, uma vez que o grupo pretendia “libertar-se completamente do domínio britânico”, independentemente do custo.

Outra das histórias retratadas na série — em que o irmão rebelde de Ellen é preso e enviado para os Estados Unidos — inspira-se nos Cuba Five, um grupo de rebeldes irlandeses libertados das prisões britânicas e enviados para os EUA. Isto porque o governo britânico queria que Washington reprimisse o movimento feniano em Nova Iorque e Boston, mas os políticos americanos temiam perder os votos católicos.

Assim, os ingleses libertaram alguns prisioneiros de Dublin e permitiram-lhes emigrar para os EUA, numa tentativa de conquistar boa vontade e, em troca, pressionar o governo americano a agir contra os irlandeses que tentavam invadir o Canadá.

É verdade: houve várias tentativas de invasão da Canadá pelos irlandeses nas décadas de 1860 e 1870 — cinco vezes no total. “A ideia era simples: o Canadá era território britânico, e o objetivo era, em essência, usá-lo como moeda de troca pela independência da Irlanda, algo que, como não surpreende, não resultou”, explica Christopher Klein, autor do livro “When the Irish Invaded Canada”.

Os irlandeses que iam para os EUA acabavam por angariar fundos, compravam armas e enviavam-nas para o país de origem, preparando assim uma revolução. “Havia exilados irlandeses que tinham combatido na Guerra Civil Americana e viam esse conflito como um treino para a revolução que realmente queriam lançar”, acrescenta o mesmo escritor. “Assim, em 1865 e 1866, houve veteranos da Guerra Civil que tentaram regressar clandestinamente à Irlanda para participar na próxima revolução.”

Quanto ao romance entre Edward e Cochrane que é retratado na série, não existe nenhuma prova de que tenha realmente acontecido, mas Knight vê-o como um passo lógico para impulsionar o valor dramático de cada episódio: “Foi algo que inventei, mas ninguém pode provar que não tenha acontecido”.

A primeira temporada da obra conta atualmente com uma pontuação de 86 por cento dos críticos no site Rotten Tomatoes. “A série roça, por vezes, no sentimentalismo exagerado e as personagens são do género que se poderia encontrar nos dramas populares em 1868. Mas os atores encarnam os seus papéis com tal entrega que a experiência torna-se agradável”, descreve o “Los Angeles Times”.

Carregue na galeria para conhecer outras das séries e temporadas que estreiam em setembro nas plataformas de streaming e canais de televisão.

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