Televisão

A história real do violador que nunca cumpriu pena e que chocou os EUA

O ator britânico Tom Holland é a estrela de “The Crowded Room”, o primeiro capítulo de uma série de antologia sobre problemas mentais.
Holland é a estrela da série

Billy Milligan está longe de ser um famoso assassino em série ou figura ilustre do registo de horrores habitualmente marcado por Hollywood. Mas o seu caso é, ainda assim, um dos mais marcantes na história do direito penal norte-americano. Spoiler Alert: Milligan tornou-se no primeiro homem a ser ilibado de um crime com base nos seus problemas mentais.

O caso do homem diagnosticado com transtorno de múltipla personalidade ou dissociativo de identidade serve de inspiração a “The Crowded Room”, que coloca Danny no centro da narrativa — personagem entregue a Tom Holland. O britânico é assim o protagonista da nova minissérie da AppleTV+, plataforma à qual chegou esta sexta-feira, 9 de junho.

Trata-se da primeira parte de uma série de antologia que debate o tema das doenças mentais, embora esteja por agora apenas previsto um lote de 10 episódios. Holland é também o produtor-executivo de “The Crowded Room”, que toma algumas liberdades na ficcionalização da história de Milligan.

O thriller psicológico — criado por Akiva Goldsman, vencedor do Óscar pelo seu trabalho em “Uma Mente Brilhante” — é contado através de um conjunto de entrevistas comandado por Rya Goodwin (Amanda Seyfried), uma professora universitária convidada para analisar o suspeito. Na base do argumento está o livro de 1981 que documenta o caso de Milligan, da acusação ao julgamento.

“O objetivo passou por criar empatia. Criar uma personagem com a qual nos podemos ligar”, explicou Goldsman em entrevista à “Entertainment Weekly”. “Alguém com quem consigamos criar uma ligação, para que a sua jornada seja também a jornada dos espectadores.”

Em 1977, Billy Milligan tinha apenas 22 anos quando foi detido por rapto, roubo e a violação de três mulheres na Universidade do Ohio. Durante os interrogatórios, o jovem teimava que o responsável pelos roubos era um homem chamado Ragen. No caso das violações, garantia que tinham sido cometidas por uma mulher chamada Adalana.

Milligan acabaria por se apresentar a julgamento. Os especialistas atestaram que Ragen e Adalana eram apenas duas de 10 sub-personalidades que coexistiam na mente do jovem. O transtorno terá sido provocado, segundo os peritos, pelos repetidos abusos sexuais que sofrera na infância, cometidos pelo padrasto.

Em entrevista à “Entertainment Weekly”, Holland revelou que o peso do filme e da personagem deixaram marcas, mas também que compreender toda a problemática o ajudou a melhorar a sua saúde mental. E sem elaborar muito mais, partilhou que está sóbrio há um ano e quatro meses.

Sobre o papel em “The Crowded Room”, esclarece que o ajudou a reconhecer os seus “gatilhos” e o que realmente lhe provoca stress. “Aprendi muito sobre a saúde mental e o seu poder, sobretudo ao falar com psiquiatras sobre as lutas de Danny. Foi algo que me ofereceu muita informação para a minha própria vida”, explicou.

“Estou habituado à exigência física dos papéis, mas o aspeto mental deu cabo de mim. Demorei muito tempo a recuperar após terminar [as filmagens], demorei a voltar à realidade.” Holland chegou mesmo a ponderar rapar o cabelo para se “livrar” da personagem. “Foi algo que nunca vivi.”

Quanto a Milligan, acabaria por ser ilibado no final de 1978. Foi institucionalizado e passou vários anos em estabelecimentos psiquiátricos. Chegou a ensaiar uma fuga e foi libertado em 1988. Morreu em 2014 vítima de cancro, com 59 anos. A sua história foi também alvo de um documentário da Netflix.

Carregue na galeria para conhecer as novas séries que chegam à televisão em junho.

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