Televisão

A nova temporada de “Tu” é um aborrecido (e dispensável) jogo de Cluedo

O assustador voyeurista Joe deu lugar a um confuso detetive, mergulhado num policial de Agatha Christie.
Por nós, podem morrer todos.
50

A pergunta ficou em suspenso no final da já de si improvável (e implausível) terceira temporada, com o protagonista Joe Goldberg a esgotar todos os recursos possíveis e imaginários da narrativa. Para onde pode ir “Tu” a partir deste momento?

Pedia-se imaginação, criatividade e uma gigantesca dose de perícia para salvar a série da Netflix do buraco onde se tinha enfiado. Em três temporadas, “Tu” partiu de um local seguro e cativante para uma autêntica feira de horrores, pejada de personagens confusas e de mistérios ainda mais escabrosos.

A mudança prometida para a nova temporada, que estreou na Netflix a 9 de fevereiro, esperava-se absolutamente revolucionária. E assim foi. Depois de simular um homicídio-suicídio trágico para esconder o assassinato da mulher, Joe entregou o filho a um simpático casal gay e escapou finalmente dos Estados Unidos. Na mira estava Marienne, mais uma nova paixão obsessiva. De malas feitas, fugiu para Paris e acabaria em Londres, na pele de um professor de literatura.

Mais uma vez, Joe tenta disciplinar os seus impulsos voyeuristas, mas deixa-se tentar pelas janelas (sempre?!) abertas dos vizinhos. Um deles é seu colega, um professor de linhagem aristocrática que atrai o protagonista para o seu círculo de amigos: um bando insuportável de jovens que nasceram com os bolsos cheios e a cabeça vazia.

É assim que são retratados, de forma quase homogénea, o grupo que serve de base à nova temporada, dividida em duas partes — a segunda será lançada a 9 de março. Um passo que aproximou “Tu” de uma das mais recentes tendências do cinema e da televisão: a de aplicar o pior tratamento possível aos super ricos.

Seguindo essa bela e recente tradição, Joe dá por si no meio de um enredo policial. Depois de uma noite recheada a álcool, acorda com o corpo do seu colega, morto, na mesa da sua casa. Depois de se desfazer do corpo, começa a receber mensagens anónimas do assassino, que rapidamente descobre a sua identidade.

É assim que arranca este policial à moda de Agatha Christie, num ambiente super estilizado e radicalmente diferente daquele que se viveu durante três temporadas. E é aqui que a opinião se divide. Enquanto uns aplaudem a “coragem” de dar um rumo totalmente distinto à série, há quem aponte que, verdadeiramente, não há aqui qualquer rumo.

As novas personagens são sofríveis. Não acrescentam nada ao drama, à trama ou são sequer capazes de executar o lado cómico que os argumentistas tanto parecem querer emprestar à série. Em abono da verdade, também as tiradas cómicas dadas a Badgley saem demasiado forçadas.

O único ponto positivo? Tudo é literalmente assumido pelos criadores. “Estou num policial, a mais baixa forma de literatura”, comenta para si próprio Joe Goldberg, ao encontrar na sua história as semelhanças óbvias com os livros de Agatha Christie.

Os primeiros cinco episódios são recheados de reviravoltas misteriosas, numa montanha russa que encontra sempre uma forma de nos atirar para outra cena chocante — e que vai tentando evitar que, como em temporadas passadas, os telespectadores tenham tempo de notar nos buracos lógicos que vão ficando destapados pelo caminho. É, talvez, a única forma de digerir esta nova temporada.

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