A Netflix está cada vez mais portuguesa. Depois de Nuno Lopes brilhar em “White Lines” (mas antes de Albano Jerónimo ter protagonismo em “The One”), vem aí “Warrior Nun”, série que estreou na plataforma de streaming a 2 de julho.
Natural de Lisboa, Alba Baptista tem apenas 22 anos, mas vai tornar-se na primeira atriz portuguesa a protagonizar uma série da Netflix. Entre filmes, novelas e curtas-metragens, o seu currículo já é relativamente longo tendo em conta a sua juventude. Depois de “Warrior Nun”, o seu percurso só promete tornar-se ainda mais internacional.
Nesta história — cuja primeira temporada terá dez episódios — Alba Baptista interpreta Ava, uma rapariga de 19 anos que ressuscita dos mortos. Quando desperta, tem super-poderes e acaba por se juntar uma organização secreta de jovens mulheres que combatem o mal.
A narrativa baseia-se na banda desenhada com o mesmo título — e o elenco inclui outro português, o veterano ator Joaquim de Almeida. As gravações de “Warrior Nun” aconteceram no ano passado na zona de Málaga, em Espanha. Agora, está quase a chegar à Netflix. Leia a entrevista da NiT com Alba Baptista.
Como é que conseguiu este papel?
Foi uma coisa de muito trabalho no passado e um misto também de sorte. Eu tinha tentado internacionalizar a minha carreira já há alguns anos, mas é muito difícil vencer lá fora. Houve um dia que, por sorte, um agente irlandês viu o meu currículo e ficou interessado. E convidou-me para ir a um festival de cinema muito prestigiado na Europa [na Irlanda], e lá abriram-se todas as minhas portas para networking lá fora, para conhecer muitos diretores de casting. E tive esta oportunidade.
O que é que pensou inicialmente deste projeto? Qual foi a primeira impressão?
Foi a primeira self-tape que eu alguma vez tinha recebido. Portanto, quando recebi o email com as informações, nem li… fui logo para as cenas, comecei a ler, “que fixe, em inglês, uau, cheia de ação, uma miúda cheia de comédia, que engraçado” e depois li na informação que era da Netflix. Pensei: nunca vou ficar com isto. Mas ok, vou-me divertir a fazer este casting. E lá fiz. Não tinha feito qualquer tipo de pesquisa, e acho que só foi na fase pouco antes de eles me escolherem — já na segunda ronda — que comecei a pesquisar sobre a banda desenhada. E fiquei um bocadinho assustada [risos], porque a banda desenhada é dos anos 90 e é um pouco sexista, digamos. E eu pensei: oh, não, será que é isto que eles vão traduzir para a série? Mas o criador afirmou logo desde o início que “não tenhas medo, isto é só uma adaptação do universo, não vai haver mulheres quase nuas” [risos].
Ou seja, vai ter outro estilo. Logo à partida, quando leu as cenas para a self-tape, sabia que era para um papel de protagonista?
Sim, isso eu sabia. Por isso é que não fui com qualquer tipo de expetativa. Pensei que não ia mesmo acontecer, mas ia divertir-me, até porque era em inglês.
Só tem uma cena com Joaquim de Almeida.
E qual foi a sua reação quando percebeu que tinha conseguido o papel?
Acho que verti uma pequena lágrima, é possível [risos]. E a segunda coisa foi logo contar à minha mãe. É o clássico, acho eu.
Já se sentia muito à vontade em inglês?
Estou confortável com o inglês enquanto língua secundária ou quase primária, mas nunca tinha representado em inglês. Por isso estava curiosa para ver como ia ser a minha adaptação, mas foi bastante rápida.
Teve aulas ou algum tipo de preparação?
Não… foi como eu falo, pronto [risos].
Que personagem vai ser esta da Ava? Apesar de se basear na banda desenhada, a maioria das pessoas que vai ver a série muito provavelmente não conhece os livros.
Sim, sim. Esta história é muito à volta da nossa protagonista, a Ava, que tem 19 anos. Logo no primeiro episódio ressuscita dos mortos com super-poderes e depois vai-se apercebendo de que existe uma organização secreta de jovens mulheres que lutam e combatem o mal. É uma série muito de género. E a protagonista é um bocado o quebrar dos estereótipos de séries de fantasia e ação. Tem muita comédia, muito sarcasmo, não é a típica super-heroína que estamos à espera de uma protagonista. E eu achei isso super fixe e diferente.
Que tipo de preparação é que fez para este papel?
Simplesmente treinei muito para conseguir soltar-me de pensar em demasia. Não ensaiava muito, porque esta personagem na sua essência é muito infantil, de uma maneira ingénua. É quase como se fosse uma criança adulta. Portanto, voltar a entrar dessa pureza, que tínhamos todos quando éramos crianças, é um desafio que parece mais fácil do que na verdade é. Nós, como adultos, pensamos tudo duas, três ou quatro vezes. E para mim o desafio, e treinei muito, foi mesmo seguir o instinto. E o que for será.
O seu próximo projeto é um filme francês.
Há alguma coisa em particular com que se relaciona, com que se identifique? Ou a Ava é uma pessoa muito diferente?
Ela é um bocado diferente no aspeto de… é mais cara podre [risos] nas suas ações. Mas acho que a impulsividade e a ingenuidade são parecidas. Não tive dificuldade em adaptar isso para a personagem, porque também as tenho bastante.
E obviamente estar nas gravações de uma série da Netflix é muito diferente do que fazer uma produção portuguesa. Em que é que se sente mais isso?
Senti um pouco da equipa americana que eles não faziam tanta questão de criar algum tipo de relação pessoal. Se isso viesse, OK, seria um bónus. Mas não havia necessidade, não estavam de todo preocupados, era chegar, trabalhar, serem bastante eficientes em dizer aquilo de que precisavam, o que queriam e o que não queriam… e eu gosto dessa frontalidade. Ambientei-me bastante bem a isso. E acho que isso é uma grande diferença em relação ao método português. Acho que somos um povo muito quente, que vem do lado latino. E senti [a diferença] por estar numa equipa com uma dimensão muito mais vasta, foi muito intenso ao início mas adaptei-me bastante rápido. E foi bonito ver que havia um mútuo respeito e admiração por todos os departamentos, isso é quase raro de encontrar também.
Quanto tempo duraram as gravações?
Acho que foram seis meses. Nem sequer vim a Portugal porque não tive tempo, foi intenso mesmo [risos].
A atriz gostava de fazer um papel mais “denso” noutro projeto.
Na série tem um colega português, o ator Joaquim de Almeida. Contracena com ele na história?
Não [risos]. Brincámos muito com isso, realmente somos os dois únicos portugueses, mas nós na verdade só nos cruzamos uma vez durante a série inteira. Eles não quiseram misturar muito as personagens porque são um bocado opositores durante a primeira temporada. Se calhar deixaram isso a fermentar para uma segunda.
Mas já se conheciam?
Não sei, era possível que já tivéssemos conversado uma ou outra vez, mas não nos conhecíamos assim bem. E adorei conhecê-lo, ele é um senhor, mesmo. É muito querido.
Esta vai ser a primeira série da Netflix com um português (ou portuguesa) como protagonista absoluto. É uma responsabilidade por causa disso? Ou não pensou sequer nisso?
Felizmente esse macaquinho nunca me entrou na cabeça. Podia ter entrado, mas por acaso essa nunca foi uma insegurança minha. Acho que todos nós temos projetos onde sentimos uma imensa pressão e não é por ser a primeira protagonista ou a segunda ou a terceira que acho que isso vá… sinto naturalmente pressão, espero não desapontar o meu País [risos], é um bocado isso, espero que gostem e aceitem a série de braços abertos. E entrem no espírito.
Mas no geral é uma série para o mundo, por ser uma produção da Netflix. Tem esperança de que possa ser o início de uma carreira internacional e que este projeto possa abrir mais portas?
Sim, é esse o objetivo. Não pretendo contentar-me apenas com esta série. Acho que agora é a altura certa para arregaçar ainda mais as mangas e focar-me em trabalhos futuros e não apenas esperar e ver a que é que esta série vai levar. Porque pretendo evoluir, trabalhar noutras áreas e não só nesta série, durante várias temporadas. Portanto, vamos ver.
Faltam poucos dias para estrear a série. São momentos de muita ansiedade?
Sim, acho que agora é a altura que está a atingir o pico. Mesmo assim não estou a suar e a chorar. Não tive esta ansiedade, de todo, durante o último ano. Porque fui vivendo a vida, e agora como está tão perto só quero que os meus amigos vejam e quero estar com eles, e estou curiosa. E estou nervosa, claro.
E além dos amigos, há todo um público internacional que há de dar feedback e irá definir o futuro da série, não é? A ideia é mesmo continuar com mais temporadas?
Sim, sem dúvida. A ideia é essa, a escrita já está a acontecer, só precisamos do OK, da confirmação, se atingir um número específico de espetadores vai correr tudo bem.
“Warrior Nun” tem dez episódios.
Já está a preparar outros trabalhos internacionais?
As coisas andam a fermentar, sim. Agora vou fazer uma longa francesa [“L’Enfant”], filmada aqui em Portugal, é o meu próximo foco. Ainda não posso revelar muito, é um papel importante de que gosto muito, é daqueles que vão aumentando ao longo do filme e é muito interessante. É mais dramático. E outras coisinhas que estão para vir.
Tem estado num processo de fazer castings e self-tapes?
Sim, tenho estado. Desde que assinei com a agência americana que… é assim de uma diferença enorme. A quantidade de guiões e projetos que passam por lá… é mesmo muito. É ótimo para os atores de todo o mundo, na verdade.
Idealmente, que histórias é que gostaria de interpretar, que ainda não tenha tido oportunidade?
Boa pergunta [risos]. Sinto que ainda está para vir assim um papel mais denso, de protagonista — idealmente — em cinema. Já trabalhei num bom número de filmes em Portugal, mas como protagonista não foram muitos. Porque também não há muitos filmes a acontecer, não há muita escrita, somos um país mais pequeno. Mas idealmente seria esse o meu próximo foco, mergulhar completamente numa personagem mais… não tão alegre, talvez. Uma imagem bastante oposta do que vai ser mostrada agora nesta série.
Que é mais leve e alegre?
Sim, é leve e é cómico, e tem muita ação e é para um público mais jovem. Que estou muito contente, porque acho que nunca tinha feito nada para esse target — nem este género de personagem. Mas agora gostava de mostrar o oposto, balançar as coisas.
Gostava de fazer uma carreira exclusivamente internacional ou também gostaria de continuar a participar em projetos portugueses?
Eu acho que nunca vou querer parar de trabalhar em Portugal, porque é o meu País e temos cineastas fantásticos aqui. A nova geração também está a trazer uma lufada de ar fresco para a assinatura do cinema português. Está a evoluir de uma maneira tão bonita. Mas também quero, sem dúvida, explorar o cinema europeu, aproveitar as línguas que falo lá fora. Mas nunca abandonando o meu País.