O pântano dos reality shows é tão denso que parece muito improvável existir uma pérola perdida, mas “Alone” é precisamente isso. Produzido originalmente para o Canal História, mas que agora transmitido na SIC Radical, este é, sem grande alarido, o melhor reality show de sempre. A terceira temporada estreia esta quinta-feira, 22 de agosto, às 23h48.
O conceito de “Alone” é simples: dez pessoas são colocadas num local inóspito (com acesso a fontes de água e comida), onde têm de sobreviver na mais absoluta solidão, armados apenas com dez utensílios básicos que escolheram levar na empreitada, algumas câmaras de filmar com um arsenal de baterias e um telefone satélite que os tira dali para fora quando quiserem desistir. Separados por quilómetros, os concorrentes nunca interagem entre si e nem sequer têm a hipótese de saber quem é que se mantém na corrida. Quem durar mais tempo, vence 500 mil dólares (o equivalente a cerca de 450 mil euros).
O programa distingue-se imediatamente pelo casting dos participantes, radicalmente diferente de outros programas: não há famosos, nem bonecos saídos do ginásio da esquina, famintos pelos quinze minutos de fama que lhes permitam ganhar dinheiro com presenças em discotecas. Em “Alone” os concorrentes são pessoas normais, com experiência em contextos de sobrevivência, que se veem sozinhas — terrivelmente sozinhas — numa floresta, rodeadas por animais selvagens e com acesso limitado a comida. Não há papéis a ser desempenhados, nem jogos sociais, porque todos estão isolados.
O resultado é fascinante. É divertidíssimo apostar em quem será o primeiro a desistir e o último a ficar porque, até agora, a série revela-se imprevisível. Nas duas primeiras temporadas já houve de tudo: um concorrente que perde a coragem e desiste nas primeiras horas, assim que se apercebe de que os ursos da zona são reais; um que perde a pedra de sílex por distração e se retira por incapacidade de fazer fogo num ambiente tão húmido; outro que aprende da pior maneira que é obrigatório ferver a água antes de a beber; e há ainda uma rapariga que é obrigada a abandonar o programa por se ter cortado com uma faca — uma ferida que cá fora valeria uma pulseira amarela nas emergências transforma-se num cenário dramático quando não há meios nem pessoas para tratar da situação.
Além dos percalços das pessoas que ficam pelo caminho, há concorrentes que mostram uma resiliência quase mítica e um engenho admirável, a ponto de construírem autênticas povoações, com barcos, móveis e até instrumentos musicais durante a estadia no programa. É o lado didático de “Alone”, aprende-se sempre qualquer coisa de bricolage selvagem.
O reality show não parece esconder nada do espectador, com exceção das visitas periódicas de um médico que decide se cada concorrente está em condições físicas para continuar (e para trocar as baterias das câmaras). Assistimos às pequenas grandes vitórias como nossas — a armadilha que funcionou, o sol que aparece depois de uma tempestade — mas também vivemos os seus dramas pessoais. À medida que o tempo passa e as defesas mentais se desmoronam, as hesitações e os medos de cada um tornam-se mais pronunciados, ampliados pelo isolamento extremo. E se Tom Hanks tinha uma bola de vólei para desabafar em “O Náufrago”, os concorrentes aqui usam a câmara como confidente. Tudo surge naturalmente, sem ser forçado, e “Alone” torna-se especial precisamente pelos momentos genuínos, de uma humanidade inesperada em programas do género.
”Alone”, que nas duas primeiras temporadas teve lugar na ilha de Vancouver, no Canadá, promete novidades na sua terceira temporada, agora no território dos Andes, na Patagónia, na Argentina.