Este sábado, 4 de dezembro, no “MasterChef”, da RTP1, tivemos um programa dedicado à região transmontana, o que desde logo indiciava que ia haver comida da boa. Sei disso porque estive em Macedo de Cavaleiros há quinze dias e cheguei à conclusão que devia ser obrigatório todos os cidadãos portugueses deslocarem-se uma vez por ano a Trás-os-Montes para comer alheira assada, posta à mirandesa e pudim de castanha. No Norte come-se estupidamente bem e uma pessoa não sai de lá apenas com o estômago cheio, mas com o coração também. É certo que em parte será colesterol, mas não interessa, o mais importante é que saímos de lá felizes.
Ontem começámos com a abertura de mais uma caixa mistério que escondia um produto que grita outono, mais do que um negacionista anti-vacinas com um megafone na mão: castanhas. O desafio dos aspirantes era utilizar este ingrediente para cozinhar um prato doce ou salgado. Para isso tinham cinco minutos para ir ao mini mercado El Corte Inglés do estúdio para escolher os restantes produtos. Felizmente não é no verdadeiro El Corte Inglés, porque cinco minutos iam à vida só a tentar carregar no botão do elevador.
“Telmo, tu a fazer carne crua és o melhor cozinheiro que eu conheço” comenta o chef Vítor Sobral depois de experimentar o lombo de porco com castanhas, do importador de automóveis. É terceira vez que o concorrente apresenta um prato em que a carne não está totalmente cozinhada e eu suspeito que quando aparecer uma prova de bife tártaro o Telmo é menino para apresentar um hamburger bem passado.
Quem nunca falha é o Dr. João que criou um arroz doce de castanha que os jurados adoraram, mas que ainda assim não foi suficiente para suplantar o gelado de castanha assada da Camila.
O desafio de equipas foi uma vez mais no exterior, desta vez no Castelo de Bragança, onde, enquanto esperavam pelos membros do júri, os participantes foram surpreendidos por um grupo de Caretos de Podence, que são levados da breca. A malta está quieta a tratar da sua vida e de repente aparece um gandulo vestido de carpete às cores a chocalhar o badalo para cima e para baixo, e se uma pessoa não está preparada pode dar direito a uma queixa na polícia ou então pode ser o princípio de uma bonita história de amor, depende da perspetiva.
Eu gosto muito dos caretos, apesar de normalmente não achar muita piada a adultos que se mascaram, principalmente os que se mascaram de morcegos, com aquelas capas pretas a vaguear em grupo pelo jardim do Campo Grande, sedentos de sangue-novo. Mas sobre as praxes falarei noutro episódio. O que os concorrentes não esperavam era que um dos caretos que lhes deu cacetadas com a anca enquanto chocalhava o badalo, fosse precisamente o chef Óscar Geadas que aproveitou para se vingar de todos os pratos horríveis que teve de provar nesta edição do programa.
Óscar explicou que os concorrentes teriam de cozinhar para 80 convidados, costelinha de porco bísaro e coelho, tudo com cuscos como guarnição. “Não é cuscuz, isso é marroquino!” explica o chef Óscar. É portanto cuscos, mesmo, como os velhos que ficam duas horas parados a olhar para um estaleiro de obras. No final, a decisão foi muito renhida mas a equipa vermelha acabou por ter a preferência tanto dos convidados como do júri.
Na prova de eliminação, os concorrentes foram apresentados aos pais do chef Óscar — Iracema e Adérito — e ao prato de autor que teriam de cozinhar: pombo com cuscos. É uma receita da chef Iracema que é uma das inspirações para a cozinha premiada do chef transmontano. Os concorrentes tiveram de arranjar o pombo antes de o cozinhar, e apesar de habituada a peles com pregas e de tom suspeito, a enfermeira Sandra debateu-se com algumas dificuldades no manuseamento da carcaça do bicho, o que comprometeu o seu desempenho e fez com que fosse eliminada.
Ainda antes do final, a meio da confeção, um dos chefs gritou “atenção: mãos ao ar!” Todos pararam e o Alberto ficou pálido com o susto. Não se faz, o homem acabou de vir da Colômbia para um país que achava que era seguro, e agora tem de levar com estes sustos. O chef explicou que o Telmo poderia escolher um dos colegas para salvar e, provavelmente, ao ver a cara de terror com que estava o Alberto, Telmo escolheu-o. O concorrente agradeceu e os restantes lá continuaram a prova, com uma valente cara de cuscuz.