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“Cassandro” conta a história real do primeiro gay a dominar os ringues de luta livre

É uma lenda no México. A sua história conta-se no filme biográfico que estreia esta sexta-feira, 21 de setembro, na Prime Video.
Bernal está de volta.

Apesar de ser um nome pouco conhecido do resto do mundo, Cassandro é uma referência no México. É precisamente o mexicano Gael García Bernal quem agarra o papel para encarnar o icónico lutador de luta livre (ou lucha libre, como dizem por lá) Saúl Armendáriz, que combatia sob essa alcunha.

O americano de raízes latinas, também conhecido como “o Liberace dos ringues”, tornou-se numa figura incontornável no desporto que nasceu precisamente no país da América Central. Trata-se de uma história verídica realizada por Roger Ross Williams — vencedor do Óscar com “Life, Animated” — a partir de um argumento escrito em parceria com David Teague. Armendáriz serviu como consultor no filme que chega esta sexta-feira, 22 de setembro, à plataforma da Prime Video.

Além de Bernal, o elenco conta também com Roberta Colindrez, Perla de la Rosa, Joaquín Cosío e Raúl Castillo, com participações especiais de El Hijo del Santo e Benito Antonio Martínez Ocasio. Esta não é, contudo, a primeira colaboração entre Williams e Armendáriz, que já haviam feito em conjunto a curta documental de 2016, “The Man Without a Mask”.

Inspirado pela história, Williams quis levá-la até ao campo da ficção, sobretudo para sublinhar a dicotomia da cultura machista mexicana, em contraponto com a enorme popularidade de Armendáriz. “Todos aqueles machistas o adoravam nos bastidores. Ganhou o respeito deles graças à sua habilidade e talento. Ali estava aquele homem orgulhosamente gay e ninguém via isso como um problema. Como conseguiu chegar até aqui, no meio desta cultura? Fez-me chorar”, revelou o realizador.

O drama biográfico viaja até aos anos 80, década em que Armendáriz, a viver em El Paso, no Texas, atravessar a fronteira, até Ciudad Juárez, para entrar no mundo do wrestling. É aí que conhece Sabrina, a sua treinadora, que o encoraja a apresentar-se como um exótico, um estilo de personagem da luta livre que adota algumas características femininas. Foi assim que Cassandro cimentou a sua lenda no desporto.

Nascido em El Paso em 1970, não teve uma infância fácil. Por ser efeminado, foi quase sempre rejeitado pelos miúdos na escola e foi também vítima de discriminação por parte do pai. “Ele não queria ter um filho gay”, confessou Armendáriz numa entrevista à “The New Yorker” em 2014.

O seu pai não foi a única fonte de violência e abuso. “Os rapazes do bairro, incluindo os meus próprios familiares, usavam-me como um brinquedo sexual”, recordou. Pouco depois de a sua mãe María se divorciar do pai, Armendáriz abandonou a escola e entrou rapidamente no mundo da lucha libre em Juárez. Tinha 17 anos quando fez a sua estreia sob o nome artístico de Mister Romano.

Seguiu os passos de Baby Sharon, bandeira dos lutadores exóticos que atuam em drag feminino. E, embora estes lutadores existissem no desporto desde a década de 40, raramente se assumiam como gays. Precisamente o que fez Saúl. Chegou também a lutar sob o nome de Rosa Salvaje, até que se tornou finalmente Cassandro em 1988, nome inspirado na dona de um bordel em Tijuana chamada Cassandra.

Eventualmente mudou-se para a Cidade do México, onde ganhou fama e reputação como um dos melhores lutadores de lucha libre. Em 1991, foi convidado para um so maiores combates da carreira, frente a Hijo del Santo, mas a pressão revelou ser demais para Armendáriz, que nos bastidores se debatia com depressões.

Uma semana antes do combate, Cassandro cortou os pulsos com uma lâmina. Ainda chegou a entrar no ringue, mas acabou por perder a luta. Ainda assim, continuou no circuito. Chegou a ganhar um campeonato mundial de pesos-leves em 1992, o que fez dele o primeiro exótico a conquistar um título mundial.

Fora do ringue, Saúl afogava os problemas em drogas e álcool. “As drogas ajudaram a que eu me tornasse alguém. Ajudavam-me a acreditar. Acreditava em mim. Era famoso, ganhava dinheiro. Sentia-me como a Mulher Maravilha”, confessou. Quando a sua mãe morreu em 1997, o lutador entrou nos seus anos mais sombrios. Esse período terminou a 4 de junho de 2003, quando Armendáriz começou o seu caminho para largar o vício das drogas.

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