Embora tenha vindo a perder alguns espectadores ao longo das semanas, tendência natural no mercado televisivo, “Vale Tudo” continua a ser uma aposta vencedora para os domingos à noite na SIC. Os convidados que entram em jogo têm sido bastante regulares, embora haja novidades todas as semanas.
Cláudia Vieira já participou em dois episódios — inclusive no que foi transmitido este domingo, 29 de janeiro — e partilhou agora com a NiT como tem sido a sua experiência. Com mais ou menos capacidades de improviso, frisa que o programa vive muito do direto e da máxima do “tudo pode acontecer”, porque “Vale Tudo”.
De que é que gosta mais de participar em “Vale Tudo”?
É um programa que, embora saibamos que estamos em direto, por momentos esquecemo-nos e parece que estamos entre um grupo de amigos, com jogos preparados para nós, para nos desafiarem, para nos colocarem em situações até de desconforto. E, mesmo não estando preparados, não tem mal. Não há uma crítica. Uns saem-se melhor, outros pior, mas parece que estamos a jogar num grupo de amigos e essa premissa é espetacular. Porque realmente é um jogo muito divertido. E se entramos um bocadinho receosos da primeira vez que vamos, e mesmo na segunda, questionamos “que provas irei eu fazer”, se vamos cair, se vamos ter a capacidade de improvisar… Passado um bocadinho de ali estarmos já só queremos é entrar em todos. É muito aliciante.
Este domingo, qual foi o jogo de que gostou mais?
Acho que aquele de que gosto mais de assistir é o das palavras proibidas, do cenário inclinado… Mas o que me correu melhor, ou aquele de que gostei mais, foi o do cenário deitado.
Também é desafiante, à sua maneira.
Sem dúvida. Porque estarmos a improvisar, a interagir, quase sem noção… É muito engraçado. Mas todos eles, em geral, são jogos quase artesanais — como o das cadeiras. Ontem não era das cadeiras, era das luzes. Tentar ir em dupla, com uma camisola vestida, ainda por cima com pessoas engraçadas e supostamente pouco ágeis… Ou aquela coisa do passar o frango. É um jogo básico, mas com que nos divertimos sempre. E não deixou de ser muito engraçado ver a pessoa que mais brilha no “Vale Tudo” que é o César — que tem aquela capacidade incrível de improviso e aquelas saídas hilariantes e os tempos dele… E de repente estava sempre a deixar cair o frango. É patusco, ao mesmo tempo.
Como existem tantos jogos que usam a improvisação e por vezes uma componente de representação, também é um bom exercício para um ator?
Depende do tipo de representação a que estamos habituados. É suposto termos a capacidade de representar, só que não é a nossa praia. Nós fazemos sempre cenas que preparamos. Não é na base do improviso — que também se trabalha, tem a sua técnica e o seu treino. Nesse sentido, o que é engraçado é perceber até que ponto existe essa capacidade ou não, porque nunca a tinha testado. E como sou um bocadinho do verbo “ir” e de me atirar para coisas que às vezes nem sei se vou ter jeito ou não, é embarcar e não ser preconceituosa comigo mesma. No sentido de “não, enquanto atriz tenho realmente de ter essa capacidade”. Não, não tenho. Nunca fiz improviso. Às vezes corre bem e noutras corre mal. Mas também tive consciência por parte daqueles que estão mais habituados a fazer improviso que é sempre assim. De repente a coisa flui e corre muito bem, com muita graça, está tudo encadeado — como fazemos ali uma performance em que correspondemos ao que estava a ser pedido mas que não teve piada nenhuma. Ou seja, tudo pode acontecer [risos].
Nos bastidores, antes de começar um programa, partilham-se esse tipo de conselhos? Coisas que podem ajudar aqui e ali, neste ou naquele jogo?
Sim, sem dúvida. Um dos maiores conselhos que recebemos foi para não nos precipitarmos e querermos encher — ou seja, estar sempre a falar, porque se não não ouvimos as indicações que o Manzarra vai partilhando. Quanto mais curto for, mais leque deixamos para a pessoa com quem estamos a dividir o momento. É não querermos desenvolver muito, não termos problemas com os silêncios — porque às vezes até funcionam, para que possa surgir uma ideia melhor, uma ação que preenche completamente o silêncio… Isso é partilhado nos bastidores. O César e o Manzarra têm esse papel de nos dirigirem um bocadinho, de nos aconselharem. E mesmo o Unas também tem esse papel, embora, como está a fazer teatro, chega sempre um bocadinho mais em cima. Mas é muito engraçado e é muito bom sujeitarmo-nos um bocadinho a algo que nunca fizemos — e em que está a acontecer tudo em direto. É fazer televisão sem rede. Pode fluir ou podemos só fazer figurinhas [risos], mas também faz parte e estamos disponíveis para isso.
O que muitos participantes do “Vale Tudo” já nos disseram é que pode parecer brincadeira, mas é preciso um grande rigor e foco para que tudo corra bem.
Essa foi outra das dicas que nos deram: não querermos ser trapalhões. Ou seja, não sermos batoteiros, não jogarmos sem esse rigor. Porque, se não, o jogo perde o interesse para quem está a assistir lá em casa. É muito mais giro perceberem que estamos a dar o litro, seja a fazer mímica ou o que seja. Se tiver esse rigor, as pessoas sentem que estamos realmente a jogar — e sentem o grau de dificuldade que cada jogo tem. Ao mesmo tempo também dizem “ah, eu fazia aquilo na boa” ou “como é que ela não se está a lembrar daquilo?” Como em tudo, quando não estamos em jogo parece que aparecem ideias muito melhores do que aquelas que aparecem quando estamos a desempenhar. Mas é essencial estarmos atentos, ouvirmos — e essa é uma das dificuldades que temos sentido. Porque o ambiente de estúdio é efusivo, o público está connosco e está tudo a acontecer em simultâneo. Às vezes há alguma indicação ou contra cena que não percebemos e perdem-se ali alguns timings de ação. Temos de estar realmente atentos e seguirmos as indicações. Mas é como tudo. Ontem, por exemplo, aconteceu no último cenário inclinado: a Júlia estava a fazer de um homem das obras muito macho, que achava graça às jeitosonas que estavam em cena. E, de repente, a história era que ele já tinha sido namorado da personagem do César. Ou seja, trocou-lhe completamente as voltas. Não foi isso que ela começou por fazer porque a gente não sabe o que vai acontecer. E depois fica tudo, ao mesmo tempo, tonto — é isso que dá esta alegria e esta coisa simples de fazer televisão e de as pessoas estarem em casa a acompanhar, porque é tudo válido.
Existe algum jogo de que goste menos?
Existe, claro. Alguns até os tememos [risos]. Ontem, por exemplo, fiz um das televendas. Não é que temesse muito, mas realmente quem está habituado a fazer improviso arranja logo ali um esquema. Eu fiz com o Unas e ele criou logo um boneco… Nitidamente ia-me vender aquele produto no estado em que estava. Mas só assim é que funciona. Porque se o objetivo for “vamos dizer tudo o que este produto possa ter de bom” é uma coisa muito banal. Então há que criar uma personagem. Mas aquele que quase nenhum de nós quer fazer é a serenata. Não é só ter que cantar. É ter que rimar, incluir uma palavra que nos lançam ali do nada e fazer algum tipo de concordância com o colega que cantou antes e a situação… Esse é aquele que acho que tem um grau de dificuldade acrescido, sem dúvida.
E quanto ao cenário invertido?
É uma questão [risos], nenhum de nós gosta de estar muito tempo de cabeça para baixo. Há uns que, por questões de tensão, é mais óbvio que não possam participar. Eu não tenho nada dessas coisas. Não estou a 100 por cento porque saí de uma gripalhada e então não me sentia muito confortável para fazer nesta fase, mas se tiver que fazer lá mais para a frente, só espero que não seja assim muito tempo. Mas já foi feito duas vezes e só na primeira é que foi realmente muito tempo. Espero que não seja muito tempo, que seja só um bocadinho e é uma brincadeira. Faço o pino muitas vezes, ainda gosto de fazer, portanto [risos].
Ou seja, vai continuar a participar regularmente no programa?
Sim, a ideia é essa. O convite quando me foi feito foi nesse sentido. E estou disponível para isso, porque realmente dá-me muito gozo participar. Como disse há pouco, entramos receosos, mas passado um bocadinho já só me apetece “deixem-me fazer mais um”, porque me quero divertir um bocadinho e perceber como é que a coisa flui. Mas, sim, irei outras vezes.
De todos, qual diria que é o grande desafio?
É ter a palavra certa ou a capacidade de improvisar porque quase todas as provas vivem… não é do improviso, isso são mais os três cenários — o inclinado, o invertido e o deitado — mas ter a ideia certa para fazer algo é realmente um grande desafio. Também exige uma certa fisicalidade, mas sinceramente não considero que esse seja um grande desafio.
Há alguma coisa que faça para se preparar antes do programa?
Adorava saber como. Já me questionei sobre isso. É sempre um bocadinho aquela coisa do “vamos lá ver como é que isto vai ser, pode correr muito bem ou muito mal”. Há pessoas que vão crescendo, uns que surpreendem, uns que numa prova não aconteceu nada de especial e no mesmo dia fizeram uma personagem super castiça… Ou seja, tudo pode acontecer. Não é uma questão de se ser melhor ou pior. Tem a ver com as situações que vão surgindo e as características de cada um, porque não deixa de se sentir ali um bocadinho quem é que é mais tímido, quem é que tem um tipo de brincadeira mais para um determinado registo…
Quais são os seus pontos fortes e fracos no “Vale Tudo”?
Ainda não os consegui detetar [risos]. É o não ter vergonha, não me criticar a mim própria, ou seja, atirar-me e perceber que às vezes pode funcionar ou não, mas não ter esse peso gigante em cima de mim; e o meu ponto fraco é não ter a ginástica e a escola do improviso.