Um avião privado e 26 malas com mais de 700 quilos de cocaína. Isto podia ser enredo de um blockbuster de Hollywood, mas, surpreendentemente, é algo que aconteceu mesmo, em 2013. Passada mais de uma década, o caso inspirou “Air Cocaine: Contrabando a Bordo”, a nova série documental da Netflix que estreou a 11 de junho. Atualmente, é a terceira produção mais vista em Portugal.
A história real começou após um voo com partida em Punta Cana ter sido alvo de buscas. No interior, foi encontrado um carregamento de drogas ilegais e os pilotos Pascal Fauret e Bruno Odos foram detidos. Depois, escaparam para França por barco em 2015, quando já estavam presos.
Os amigos acabaram por ser condenados num julgamento em 2019 e sentenciados a seis anos de prisão, mas pediram uma reavaliação da decisão em 2021, ano em que foram absolvidos.
Agora, os pilotos contam a sua história no documentário da Netflix e, claro, aproveitaram a série para se defenderem, dizendo que era impossível saberem o que continham as malas. Já Christine Saunier-Ruellan, que liderou a investigação em França, explica o que considerou como comportamentos suspeitos nos dias anteriores ao voo de 2013.
Na obra, Pascal e Bruno descrevem também o choque de terem sido detidos. “Quando és inocente, quase que te entregas. É como dizer: ‘por favor, ajudem-me'”, disse Odos.
Em França, ambos eram vistos como heróis nacionais por terem servido nas Forças Armadas, onde transportavam armas nucleares antes de passarem para o campo da aviação comercial. Durante os julgamentos, receberam bastante apoio de quem não conseguia imaginar que veteranos do exército francês pudessem estar envolvidos em tráfico de droga.
O co-realizador de “Cocaine Air”, Jérôme Pierrat, também fala sobre como o advogado de defesa foi decisivo para que os pilotos saíssem em liberdade. Em tribunal, comparou-os aos taxistas. “Tal como um taxista não tem de verificar o conteúdo da bagageira, o mesmo se aplica aos pilotos”, diz o cineasta.
A defesa alegou também que o conteúdo das malas era da responsabilidade dos serviços de alfândega e que a tripulação não tem de perguntar aos passageiros o que levam na bagagem. “Diziam-me a data e eu voava. Nunca sabia qual era o objetivo da viagem”, diz o próprio Fauret na série.
Ao longo dos três episódios de aproximadamente 40 minutos, os espectadores também conhecem Alain Afflelou, um magnata do design de óculos que alugava o seu avião a uma agência quando não o utilizava — e, por isso, nunca foi associado diretamente ao voo em questão.
Tal como mostra a obra, a investigação de Christine Saunier-Ruellan centrou-se na razão pela qual três voos foram realizados com os mesmos pilotos e o mesmo passageiro. Além disso, durante a investigação conseguiu ter acesso a mensagens dos pilotos que considerou suspeitas, como “natureza da carga confirmada” e “fizemos o que tínhamos a fazer”. Descobriu ainda pesquisas feitas no computador pessoal de Fauret sobre o tráfico de droga no Equador e as penas associadas.
Questionou se tudo isto não seriam indícios de que os pilotos sabiam que havia cocaína nas 26 malas, mas nunca foi possível estabelecer uma ligação direta entre essas mensagens e o conteúdo da bagagem. A certa altura, Saunier-Ruellan chegou mesmo a mandar vigiar o telefone do ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, por ele ter voado com essa companhia anteriormente. Contudo, não teve qualquer envolvimento com o voo que levava a droga.
“No caso dos dois pilotos, ela não tinha provas diretas”, diz Bouchara, também realizador da série. “O que tinha eram indícios ou provas circunstanciais.”
Mesmo após meses a imergir nos detalhes do caso, os cineastas admitem que não têm uma resposta definitiva sobre o papel dos pilotos no escândalo. “Durante o processo, eu e o Jérôme perguntávamo-nos se eles seriam mesmo os responsáveis. Tenho de admitir que, até hoje, não temos uma resposta definitiva.”
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