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Como a difícil relação com o pai marcou a vida de Ângelo Rodrigues

"Nunca tive um abraço do meu pai na minha vida", confessou numa entrevista em 2019.
Era um miúdo solitário.

O que se passa com Ângelo Rodrigues? O jovem que brilhou nos “Morangos com Açúcar” e que transportou o sucesso até aos papéis em produções internacionais da Netflix podia ser, no papel, uma história de sonho, não tivesse sido marcada por situações verdadeiramente dramáticas. A mais recente aconteceu a 12 de janeiro, quando pouco antes das nove da manhã, o ator de 37 deu entrada no Hospital de São José, em Lisboa. Em coma induzido devido a uma pneumonia por aspiração, por lá permanece há uma semana, aparentemente já fora de risco.

O ator já havia enfrentado uma situação semelhante em 2019, quando esteve internado durante dois meses em coma induzido devido a uma grave infeção na perna, resultante de um procedimento de reposição hormonal mal realizado.

Segundo a TVI, o último incidente terá tido origem numa festa onde o ator esteve, antes de ter sido encontrado inconsciente no hotel Evolution, no Saldanha, a 12 de janeiro. Os socorristas terão encontrado Ângelo Rodrigues inanimado e “sob o efeito de um cocktail de álcool, drogas e medicamentos”. Uma das principais teorias é que o ator, já inconsciente, terá vomitado — vómito esse que poderá ter entrado para os pulmões e ter causado precisamente a infeção pulmonar.

Especula-se que o refúgio nestas substâncias poderá ser explicado devido “a carências emocionais”, algo que o próprio ator referenciou em inúmeras entrevistas. “Tinha uma família que era pouco afetuosa. Ou seja, sentia muito e expressava pouco. Essa falta de afeto fez-me mossa”, contou no “Alta Definição”, da SIC, em 2019.

À medida que foi crescendo, evitava revelar o que sentia. Comparava-se a uma tartaruga “que só punha a cabeça de fora para socializar, com uma carapaça impenetrável para o resto do mundo”, contou no mesmo programa. Na adolescência, continuou a ser um rapaz solitário e sempre sentiu que era diferente de todos os outros.

Tinha uma relação afastada do pai, que raramente fazia demonstrações de afeto.  “Queria que eu fosse bom naquilo que fazia e me tornasse num adulto de que se orgulhasse, mas, por outro lado, fomentou sempre em mim a ideia de nunca estar pronto… de insatisfação, de ter de provar que sou bom”, lamentou em conversa com o apresentador Daniel Oliveira. “Nunca tive um abraço do meu pai na minha vida.”

A morte do pai

Ângelo Araújo morreu a 10 de fevereiro de 2013, aos 58 anos, devido a uma doença crónica. Foi apenas no final da vida do pai que Ângelo Rodrigues finalmente conseguiu falar sobre tudo o que sentia. “Porque é que tu nunca disseste que me amavas?”, perguntou ao progenitor, tal como revelou no “Alta Definição” em 2019. “Percebi a finitude daquele momento. Percebi que ia acabar e é nesses momentos que se deixa os orgulhos de lado e somos mais honestos.”

As últimas palavras que ouviu do progenitor foram as que esperou uma vida toda para ouvir: que o amava. “Não duvido que ele sentisse orgulho por mim, mas nunca conseguiu mostrar. E isso era que me rebentava por dentro. O facto de ele ter dito isso acaba por fechar um ciclo. Foi importante para mim enquanto adulto, ficou mais ou menos resolvido na minha cabeça.”

Sete anos depois, a dor daquela perda continuava a afetá-lo, tal como revelou durante uma entrevista a Júlia Pinheiro no seu talk show da SIC a 24 de setembro. “Acho que ainda estou a digerir isso. Os eventos traumatizantes na vida… há sempre uma expetativa de, quando a pessoa se desenvencilha disso, tem sempre uma resposta imediata. Mas estes processos são coisas que demoram a assentar dentro da pessoa, de difícil digestão”, contou.

Na conversa com a apresentadora também voltou a falar sobre a relação afastada que tinha dos progenitores e confessou que “houve sempre um vazio de afetos”. “As emoções não eram verbalizadas, não havia uma educação de afetos”, começou por dizer. “Como adulto, a esta distância, percebo que os meus pais também não tiveram uma educação de afetos e foi o melhor que conseguiram fazer. Mas só em adulto consegui ultrapassar isso.”

Leia o artigo da NiT e conheça tudo sobre o internamento de Ângelo Rodrigues no início deste ano.

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