Quando Trevor consegue um tão desejado emprego a tomar conta de uma mansão enquanto os donos estão fora, não imagina que tudo aquilo se está prestes a tornar um pesadelo. O motivo é apenas um: uma abelha. O pequeno animal promete infernizar a vida de Trevor, que terá dificuldades em manter as valiosas peças de arte, carros clássicos e a habitação de luxo nas melhores condições. Aliás, espera-se o caos.
É esta a premissa para a nova série cómica de Rowan Atkinson, o ator que se tornou célebre com “Mr. Bean” e que também é conhecido pelos papéis em “Blackadder” ou na saga de “Johnny English”, entre outros. O novo projeto chama-se “Homem vs. Abelha” e está na Netflix desde 24 de junho — conta com nove curtos episódios.
Apesar de ter um rosto mundialmente famoso, Rowan Atkinson é um homem reservado, dá poucas entrevistas e não tem redes sociais enquanto figura pública. Por isso, é provável que a maioria das pessoas não saiba que o britânico sofria de uma enorme gaguez durante a infância. E que eventualmente isso contribuiu para que se tornasse um ator.
Nascido em 1955 nos arredores de Newcastle, no norte de Inglaterra, foi criado numa família comum de classe média. Na escola, graças à gaguez e à sua aparência, tinha poucos amigos e era vítima de bullying. Além disso, era um rapaz tímido que, apesar de gostar de ciências e de ser bom à disciplina, não se destacava assim tanto na escola.
“Não havia nada de especial sobre ele. Era muito comum. Nunca esperei que se tornasse um cientista fantástico. Era um rapaz sossegado que fazia as suas coisas”, disse um antigo professor na biografia do ator publicada em 1999. Atkinson acabou por ir estudar para a prestigiada Universidade de Oxford, onde fez um mestrado em engenharia elétrica, depois de se ter licenciado na Universidade de Newcastle na mesma área.
Foi durante os anos de Oxford que desenvolveu a sua vocação enquanto ator e entertainer. Em 1979, quando estava a iniciar a sua carreira, interpretou uma personagem num episódio da sitcom “Canned Laughter”, que já tinha algumas semelhanças com aquele que viria a ser Mr. Bean.
“E no meu primeiro semestre em Oxford fui convidado para fazer um sketch num espetáculo — e eu nunca tinha escrito nada. Não sou naturalmente um guionista, e tinha de inventar cinco minutos com 48 horas de antecedência. Pus-me em frente do espelho e comecei a brincar com a minha cara. E esta personagem que não falava, estranha e surreal começou a desenvolver-se”, explicou Rowan Atkinson no DVD de “The Whole Bean”, aludindo à criação gradual da personagem.
Atkinson era um grande fã de comédia, sobretudo dos filmes que incluíam comédia física, desde Charlie Chaplin a Jacques Tati — o francês sempre foi uma das suas maiores referências. Além disso, a gaguez que tinha parecia dissipar-se sempre que interpretava uma personagem — e, no caso daquelas que não falavam, isso era ainda mais fácil.
“Descobri que, quando interpretava uma personagem, a gaguez desaparecia. Isso pode ter contribuído para seguir a carreira que segui”, admitiu numa entrevista em 2007, citada pelo jornal “Express”, onde também revelou que a gaguez de vez em quando ainda se fazia sentir.
Depois daquela primeira apresentação em Oxford, fez outros espetáculos centrados numa personagem daquele género — de humor físico, praticamente sem falas. Fez performances no Fringe Festival de Edimburgo e no evento de comédia Just for Laughs, no Quebeque, em 1987. Ao mesmo tempo, já tinha começado a sua carreira de ator com outro tipo de personagens — nessa altura já tinha sido um dos protagonistas de “Blackadder”.
Eventualmente, “Mr. Bean” materializou-se e chegou à televisão, quando estreou em 1990. Apesar de a série ter sido relativamente curta, tornou-se imensamente popular e gerou uma produção de animação, filmes, espetáculos, sketches e livros, entre outras iniciativas, fazendo com que a carreira de Rowan Atkinson explodisse.
Leia também um artigo da NiT que se foca no lado insólito, heróico e desconhecido da vida real do ator. E carregue na galeria para conhecer outras novidades da Netflix (e não só).