Pergunte-se a qualquer fã de “Os Sopranos” sobre o que trata a série e a maioria dirá que é a história trágica do líder de uma organização mafiosa italo-americana em Nova Jérsia. Acontece que a origem de uma das mais aclamadas séries televisivas da história poderá estar em algo bastante mais simples e comum: a turbulenta relação de amor e ódio entre o criador David Chase e a sua mãe.
A relação é explorada precisamente no novo documentário da Max, que estreia este domingo, 8 de setembro, e promete mergulhar nos bastidores da produção que estreou em 1999. “Wise Guy: David Chase and the Sopranos” é um trabalho do realizador Alex Gibney e foca-se igualmente no percurso de Chase, mas conta também com relatos na primeira pessoa de membros do elenco como Michael Imperioli, Edie Falco, Drea de Matteo e Lorraine Bracco.
“Ocorreu-me que havia um bom filme por fazer sobre como a série nasceu e como influenciou, ou não, o modo como fazemos as coisas hoje”, explica Gibney. “E é também uma história muito pessoal [para Chase]. Tudo começou devido à relação que o David tinha com a mãe. Os complexos com a relação maternal foram a força motriz que deu origem a ‘Os Sopranos’ e isso interessava-me imenso.”
“Durante anos, as pessoas diziam-me que eu tinha que escrever algo sobre a minha mãe e sobre mim próprio. Ela era uma coisa….”, diz Chase, reticente, no trailer oficial do documentário dividido em duas partes. “E eu pensei… quem é que vai querer ver isso?”
Sem surpresas, parte do documentário é passado numa recriação do gabinete onde Tony e a Dra. Melfi têm as suas atribuladas sessões de psicoterapia. Só que neste caso, os lugares estão ocupados por Gibney e Chase, com este último a deixar-se analisar no divã. Segundo o realizador do documentário, esta exploração pessoal revelou-se incómoda para o criador de “Os Sopranos”. Tanto que terá mesmo ameaçado abandonar o projeto. “O que estou aqui a fazer, a falar sobre mim? Quem é que vai importar com isto?”
A previsão poderá estar errada, tal como esteve com a série original. A relação de amor e ódio entre Tony e Livia Soprano ajudou a estabelecer as bases de uma das personagens mais famosas da televisão — e a justificar muitos dos comportamentos violentos, obsessões e problemas psicológicos do líder mafioso.
Gibney recorda o “ambiente desconfortável” nos bastidores do documentário. “Ele acabou por não se ir embora. Ele passou por muitos momentos de auto reflexão”, recorda. “Recriamos o consultório da Melfi e esse foi o cenário motor do filme, onde executamos uma entrevista de três dias com o Chase.”
A relutância de Chase em escrever uma série inspirada na sua relação com a mãe foi suavizando, à medida que começou a construir a personagem para que o público pudesse ter interesse na história. “E se eu criasse um tipo mesmo filho da mãe?”, comenta no trailer de “Wise Guy”. “Não sabia bem o que ia fazer, mas sabia que ia ser em torno de dinheiro e de morte.”
Um dos episódios da história de Chase que espelham a de Tony e Livia foi o dia do seu casamento com a esposa Denise, em 1968. No dia da cerimónia, vários familiares terão avisado o casal de que assim que casassem, teriam que se mudar de cidade. Temiam que o casamento não sobrevivesse à presença da mãe.
“Ela era uma personagem… Super engraçada”, conta o criador da série, cujo primeiro esboço foi desenhado para uma longa-metragem que acompanhava a vida de um mafioso de 40 anos que recorre à terapia para lidar com os constantes ataques de pânico. A narrativa termina com o protagonista a tentar sufocar a mãe com uma almofada, após descobrir que ela tinha contratado alguém para o assassinar.
Nas mãos da HBO — “mais ninguém pegou na história”, recordou Chase —, o filme transformou-se num piloto e mais tarde numa série que entrou para a história da televisão. Agora, os fãs podem voltar a mergulhar no mundo de “Os Sopranos”.
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