Lançado em 1989 e com aproximadamente dez milhões de cópias vendidas, “Como Água Para Chocolate”, de Laura Esquivel, é um dos clássicos da literatura mexicana. O título deu origem a um filme que estreou em 1992 e que foi nomeado a um BAFTA. Agora, a história foi adaptada a uma série homónima que estreou a 4 de novembro na Max, a plataforma de streaming da HBO.
A narrativa explora a ideia de que, por vezes, as tradições podem tornar-se numa prisão e num grande obstáculo ao amor. No centro da obra estão Tita de la Garza e Pedro Muzquiz, apaixonados um pelo outro, mas incapazes de ficar juntos devido aos costumes familiares.
Os protagonistas navegam por um mundo de realismo mágico e sabores ricos enquanto Tita batalha entre o destino que a família lhe impõe e a sua luta pelo amor. Ao longo do percurso, os espectadores vão conhecer o seu maior refúgio: a cozinha. Para a jovem, a ligação mágica à culinária torna-se uma resistência ativa contra a opressão, que lhe permite canalizar os seus desejos mais profundos nas suas receitas, transformando quem as prova.
Realizada por Julián de Tavira, a série tem como objetivo honrar a complexidade emocional e os elementos de realismo mágico do livro de Laura Esquivel, atualmente com 74 anos. O cineasta garante que, ao longo dos episódios, foram abordados temas fulcrais do romance, mas sob uma perspetiva mais moderna — a essência, garante, mantém-se intocada. “É uma jornada emocional que explora temas de amor proibido e de libertação, sempre entrelaçados com a tradição culinária e cultural mexicana”, conta ao “El País”.
A história recebeu a aprovação da própria Esquivel, já que a autora trabalhou de perto com toda a equipa — e até com Salma Hayek, uma das produtoras. Através desta adaptação, pretende eternizar a história de Tita e levar a culinária mexicana a um novo público. “Cozinhar é um ato de amor, e a cozinha é o coração do lar. É ali que as emoções se manifestam de forma mais intensa”, disse à mesma publicação. “O simbolismo que o Julián criou é essencial para que os espectadores entendam a intensidade e a complexidade dos sentimentos da Tita, que usa a cozinha como um meio de resistência e expressão pessoal.”
Confessa, porém, que ficou nervosa quando foi abordada com esta proposta. Afinal, o filme de 1992 foi um enorme sucesso entre os críticos e o público e não queria arruinar o legado que criou com “Como Água Para o Chocolate”. As preocupações foram desaparecendo quando viu Azul Guaita, que interpreta a protagonista, a atuar. “Ela é simplesmente incrível e foi sempre fiel ao meu trabalho. Muitos dos louros também vão para o Julián, que criou uma estética visual detalhada e uma história que respeita o que criei, mas que também dialoga com questões contemporâneas, como o empoderamento feminino e o papel das emoções na vida quotidiana.”
Para Tavira, a adaptação também é uma oportunidade de aprofundar ainda mais temas como a opressão familiar e a busca por autonomia numa “sociedade patriarcal”, ambos temas que afligem a protagonista. “A série vai permitir que o público veja além do romance e vai mergulhar nas relações familiares e no papel que a comida ocupa como um meio de expressão e conexão entre as personagens”, realça.
Acima de tudo, a série foi uma oportunidade de os atores e atrizes se conectarem com as suas raízes mexicanas. Para eles, interpretar estes papéis foi mais do que atuar. “Senti-me muito conectada à Tita e à sensibilidade que ela tem. Percebi que também sou assim e que consigo ser vulnerável, algo que não mostro muitas vezes”, comentou Azul Guaita, de 23 de anos, durante uma conferência de imprensa.
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