Graças a Oprah Winfrey, o mundo parou. Outra vez. Esta segunda-feira, 8 de março, um único tema percorria todos os órgãos de comunicação social: as declarações bombásticas de Harry e Meghan. Entre acusações de racismo e de ignorarem os pedidos de ajuda de uma mulher com pensamentos suicidas, a família real britânica foi o alvo único da entrevista que fez o que poucas fizeram ao longo dos anos: revelar o que acontece por detrás da cortina. Oprah foi, em toda a operação, a facilitadora. Pode reler o artigo da NiT sobre todos estes detalhes.
Ao longo do seu famoso “The Oprah Winfrey Show”, que arrancou em 1986 e terminou em 2011, a norte-americana teve à sua frente mais de 37 mil entrevistados. Claro que nem todas foram bombásticas e reveladoras, mas é seguro dizer que Opah foi o denominador comum em algumas das entrevistas mais marcantes das últimas três décadas.
Toda esta experiência permitiu à empresária chegar a uma conclusão sobre algo que todos os entrevistados tinham em comum: “Todos eles queriam ser vistos e ouvidos.” “No final de cada entrevista, sabem o que me perguntavam? ‘Correu bem? Como é que foi? Como é que me portei?’ De uma forma ou de outra, isso foi algo que sempre me perguntaram”, revelou numa conferência em 2020.
As boas relações de Winfrey são um bónus em toda esta teia de entrevistas. Todos querem ser vistos com Oprah, todos querem responder às suas perguntas. As más línguas dizem que a apresentadora “é a melhor amiga de um entrevistado nervoso” e que as perguntas são, quase sempre, “suficientemente duras para chocar audiências” e “aconchegantes na medida certa”, para que os entrevistados “simulem algum desconforto enquanto dão respostas já escritas”.
A apresentadora, que foi uma das convidadas do casamento real — apesar de notícias indicarem que apenas se tinham cruzado uma vez —, tinha uma ligação direta ao casal. De acordo com a própria, Harry e Meghan não receberam qualquer pagamento, mas Winfrey vendeu os direitos da entrevista à “CBS” por cerca de seis milhões de euros. A estação americana bateu a concorrência e fez a maior proposta do leilão lançado pela produtora de Oprah.
Fortunas à parte, essa tal relação de proximidade verificou-se em quase todas as grandes (e polémicas) entrevistas que fez. E, sem exceção, em todas elas os entrevistados revelaram histórias incríveis. O tema da realeza nem sequer é inédito no vasto currículo de Oprah.
As confissões de Sarah Ferguson
Cinco anos depois da separação, a mulher que casou com o príncipe André sentou-se no divã com Oprah Winfrey para exorcizar os demónios de Buckingham — e o resultado não foi radicalmente diferente daquele que se viu neste domingo. Desde logo, Fergie, tal como Markle, criticou o tratamento “cruel” que recebeu da imprensa tablóide britânica. “A imprensa britânica é, atualmente, completamente cruel, abusiva e invasiva.”
Sobre a relação com príncipe, a duquesa de York foi clara: “Não te casaste com o conto de fadas, casaste-te com o homem. Apaixonaste-te e casaste com um homem, e acabas por ter que te resignar ao conto de fadas. Não é um conto de fadas, é vida real.”
Foi difícil habituar-se à vida real e as comparações com Diana foram inevitáveis. Ferguson admitiu que poderia ter decidido “manter-se no jogo”. “Pode fazer-se isso, se é o que uma pessoa quer. Mas eu e a Diana somos como rios, queremos aprender mais, queremos ir para lá do fim da rua, temos apetite por mais”.
O encontro com o rei
O jejum de 14 anos sem entrevistas foi quebrado em 1993, quando Michael Jackson decidiu abrir as portas do seu rancho Neverland a Oprah. Foi nesse encontro — que permanece como uma das mais vistas entrevistas de Winfrey, nuns estimados 90 milhões de espectadores — que confessou alguns dramas íntimos.
“As pessoas perguntam porque é que estou sempre rodeado de crianças. É porque consigo ter, através delas, aquilo que nunca tive quando era miúdo”, revelou no início de um discurso que haveria de relatar os abusos e agressões do pai. “Não sei se eu era o filho de ouro ou algo do género. Há quem lhe chame disciplina rígida, mas ele era muito severo. Muito duro. Bastava um olhar para me assustar. Mas eu perdoo-o”, respondeu.
Jackson aproveitou a oportunidade para desmistificar alguns dos mitos criados sobre si. Reafirmou que não dormia numa câmara hiperbárica para tentar manter-se jovem, mas que a pele, sim, estava a ficar mais clara — não porque quisesse, mas por causa de uma doença chamada vitiligo.
A queda de um herói americano
Ele era o homem que todos queriam confrontar. O americano que bateu um cancro e as probabilidades, para se tornar no mais bem-sucedido ciclista da história ao vencer por sete vezes a Volta a França.
Em 2013, Oprah entrou em casa de Lance Armstrong para o confrontar com a avalanche de críticas que, no último ano, tinha enfrentado. Afinal, Armstrong tinha batido a competição de forma desleal, com a ajuda de drogas. Até então, tinha negado tudo.
“Alguma vez tomaste substâncias proibidas?”, questionou Oprah. “Sim.” O livro abriu-se e a pedido da entrevistadora, o desportista respondeu só afirmativa ou negativamente a um rol de questões.
“Tomaste EPO?”. “Sim”. “Fizeste transfusões de sangue?” “Sim.” “Era possível vencer a Volta a França por sete vezes sem doping?” “Na minha opinião, não.”
As lágrimas do homem de ferro
Quem conseguiria reduzir o temível Mike Tyson a um homem vergado e lavado em lágrimas? Oprah Winfrey. Quando em 2009, o pugilista se sentou no sofá do seu programa, tinha muito por explicar. E explicou.
A história conturbada do desportista foi percorrida de uma ponta à outra: dos anos que passou na prisão ao problema com as drogas, da fortuna de milhões que gastou ao célebre combate em que mordeu e arrancou parte da orelha de Evander Holyfield. E também o dia em que a sua filha de quatro anos morreu — encontrada morta, enforcada com uma corda de exercício, num caso que foi tratado como um acidente bizarro.
“Não sei [se alguém foi culpado da morte], nem quero saber. Se souber que a culpa é de alguém, vai haver problemas”, confessou. Tyson também deixou uma nota sobre o seu mais famoso combate.
“Estava irritado porque ele era um grande lutador. Estava louco com ele”, explicou sobre o incidente com Holyfield, antes de revelar que as desculpas que tinha dado não tinham sido sinceras. “Não me sentia culpado. Não fui sincero.”
A loucura em direto
Nada o fazia prever. A entrevista com Tom Cruise para a promoção do seu último filme — “A Guerra dos Mundos” — deveria ser mais do mesmo. Mas não foi.
É, ainda hoje, um dos momentos de televisão mais curiosos, inesperados e falados da cultura pop das últimas décadas. Na plateia, as mulheres abraçavam-se e gritavam com a presença do ator, que acompanhava o clima.
Era uma entrevista simpática, entre amigos. Oprah e Cruise davam as mãos, gracejavam, até que o comportamento do entrevistado ultrapassou a linha do “amigavelmente casual” para o “estranhamente descompensado”. “Algo se passou contigo…”, questionou. “Estou apaixonado”, disse Cruise a referir-se à relação recente com Katie Holmes.
“Nunca te vimos comportar assim”, disse Oprah antes de Cruise saltar para cima do sofá num ataque de riso. Fê-lo mais do que uma vez. “O rapaz está perdido.”