Cerca de 15 anos depois de estrear, o “Dança Comigo” está de volta aos serões de domingo da RTP1. Quinze anos fora do ar é muito tempo. A última vez que isto tinha acontecido na RTP foi quando descongelaram a Serenella Andrade para apresentar uma edição do Festival da Canção. Ao fim destes anos, muita coisa mudou.
Por exemplo: agora os professores já estão satisfeitos com o governo, não há polémicas com a TAP e o mundo não está em crise económica. OK, talvez esteja a ser demasiado otimista, mas há que ver pelo lado positivo: pelo menos a Sílvia Alberto já não tem dificuldade em pronunciar os “éles”. Um pequeno passo para a apresentadora, mas um salto gigante para a oralidade.
Além de Sílvia Alberto, esta quinta edição do programa arrancou com Joana Pais de Brito, Diogo Martins, Carolina Torres e Heitor Lourenço, que foram postos à prova, em ritmos como cha cha cha, conga, swing/jive, rock n’ roll e Bollywood, com coreografias e guarda-roupa a combinar.
Devo dizer que todos tiveram uma prestação impecável, com destaque para o Heitor Lourenço e para a Joana Pais de Brito que, como descobrimos este domingo, não só é uma atriz maravilhosa como é uma belíssima dançarina. A verdade é que sou bastante impressionável no que toca à dança porque, sendo eu um pé de chumbo, qualquer passinho mais arriscado me parece engenharia aeroespacial.
Ainda assim, quando nos primeiros segundos de atuação a Joana saca de uma espargata de 180 graus enquanto sorri como se nada fosse, ficou muito claro que estamos perante uma forte candidata para chegar à final. Fico especialmente ansioso de vê-la dançar um reggaeton na sua versão Ana Malhoa.
Já o Heitor Lourenço está cada vez melhor com a idade e não sei o que é que fez, mas a verdade é que os últimos quinze anos não passaram por ele. Provavelmente o facto — que parece ser unânime — de ser boa pessoa ajuda a compor esta boa aura. O homem tem um interior bonito e isso reflete-se no exterior. Ou então farta-se de pôr cremes caríssimos, também pode ser. Seja como for, o Heitor está no topo do meu ranking de artistas “gente boa”, como dizem os brasileiros, taco a taco com o João Baião e o Alf.
Com vencedores anteriores como Daniela Ruah, Sónia Araújo, Luciana Abreu e Vítor Fonseca, a fasquia está elevada para ver quem será o próximo a ganhar o título de rei das pistas de dança. Sónia está de volta, mas agora do outro lado da mesa, ao lado de Filipe La Féria e Noua Wong. Para ajudar nesta tarefa de avaliação dos concorrentes, cada emissão terá um convidado diferente para julgar o talento dos famosos. Na estreia esse papel coube à atriz Gabriela Barros, que desempenhou muito bem o papel de “good cop” e distribuiu sempre boas pontuações pelos bailarinos de serviço.
Não sabemos ainda quem serão as próximas personalidades a mostrar os seus dotes de dança, mas relembro que em anteriores edições tivemos participações surpreendentes, como a da histórica comunista Odete Santos.
Nesse episódio, Ricardo Araújo Pereira, enquanto membro do júri, num despique com a política, gracejou que o bailarino que a acompanhava parecia o deputado Nuno Melo. A avaliar pelas intenções de voto da última sondagem parece-me que o comentário do Ricardo era na verdade uma previsão. Hoje é mais provável ver o Dr. Nuno Melo a fazer a espargata no “Dança Comigo” do que a sentar-se nas cadeiras do Parlamento. Lá está, passaram quinze anos, mas nada mudou.