Depois de 275 episódios como Kensi Blye, a atriz Daniela Ruah vai estrear-se como realizadora na série de televisão que tem sido a sua casa desde 2009. A portuguesa de 37 anos dirige o 11.º episódio da 12.ª temporada de “Investigação Criminal: Los Angeles”, que vai poder ver na Fox esta quinta-feira, 1 de abril, a partir das 22h15.
Neste capítulo da história, Callen (Chris O’Donnell) vai até ao Centro Nacional de Contraterrorismo para interrogar um ativo russo envolvido no caso do desastre de avião que investigou há vários meses. Mas, depois de algumas reviravoltas, é o próprio Callen que acaba detido.
Numa conferência digital, a NiT falou com dois dos principais colegas de Daniela Ruah em “Investigação Criminal: Los Angeles”, que interpretam alguns dos protagonistas da história — Chris O’Donnell e James Todd Smith, mais conhecido pelo nome artístico de rapper, LL Cool J.
“Foi incrível. A Daniela fez um trabalho fenomenal, ela foi dedicada, comprometida com o que estava a fazer”, conta-nos LL Cool J. “O que tentei foi ser o mais útil que conseguisse. Só queria estar lá para ela, fazer exatamente o que ela queria que eu fizesse, tornar o trabalho dela mais fácil e fiquei feliz em vê-la nessa posição, a realizar e a liderar. Acho que o episódio vai ser muito divertido. E também foi divertido vê-la a dirigir a cena, ‘tu fazes isto e tu fazes aquilo’, e depois ela saltava para dentro da cena, interpretava e depois saía para nos ver e ainda voltava com indicações. Acho que também aprendi muito sobre ela enquanto atriz e artista, e acho que Portugal pode estar muito orgulhoso do trabalho dela.”
Chris O’Donnell também só tem coisas boas a dizer sobre o papel de Daniela Ruah enquanto realizadora do episódio. “Ela fez um grande trabalho. A Daniela tem mantido os olhos e ouvidos abertos ao longo da série, a aprender e a prestar atenção. Esta série tem tudo a ver com preparação e ela fez o seu trabalho de casa e estava preparada. Ela é uma atriz, sabe como comunicar com os atores e acho que pode ser o início de outra parte da sua carreira.”
Aliás, já se sabe que Daniela Ruah vai realizar um telefilme para a RTP, como parte de um projeto maior que pretende dar espaço a cineastas portuguesas.
Aproveitámos para também falar sobre “Investigação Criminal: Los Angeles” no geral, com os seus protagonistas. LL Cool J recorda como gravou um episódio piloto para a mesma estação de televisão, a CBS, para uma série que se iria chamar “The Man”.
Não correu bem, foi “um fracasso”, mas a CBS reconheceu potencial no seu trabalho. Após várias negociações com a estação, começou a desenvolver-se um spinoff de “Investigação Criminal”, passado em Los Angeles, e o rapper tornado ator assegurou um dos papéis principais.
“Achei que ia fazer isto durante dois anos e depois ia fazer outra coisa, fosse dar um concerto num clube na Suíça ou ir à Alemanha atuar numa sala de espetáculos. Não sabia que ia durar tanto tempo, não fazia ideia.”
Chris O’Donnell recorda como estava à procura de uma série para gravar de forma permanente na cidade de Los Angeles. A sua prioridade era manter uma vida familiar estável — atualmente tem cinco filhos.
“Sempre pus a família à frente da indústria do entretenimento, fui educado assim. São escolhas da vida. Sempre quis ter uma família grande, uma vida familiar estável, e felizmente consegui criar isso para mim e para a minha família. E esta série tem sido uma grande parte disso, porque estamos a gravar constantemente em Los Angeles. Não tenho o estilo de vida cigano que tive durante tanto tempo, a viajar pelo mundo e a estabelecer-me em diferentes cidades. Ter a estabilidade para cinco miúdos, que puderam viver em Los Angeles, nas mesmas escolas, com os mesmos amigos, nos anos mais formativos das suas vidas, tem sido uma bênção e uma das maiores vantagens desta série. E foi uma decisão consciente. Na altura estava a considerar entrar em três séries, e eu gostava mais das outras duas. Mas estavam a ser filmadas fora de Los Angeles. Então disse que não: digam-me o que está a ser filmado em Los Angeles. Mas nunca imaginei que durasse tanto tempo.”
Chris O’Donnell, que contracenou com Al Pacino em “Perfume de Mulher” quando tinha 22 anos, realça que nesta área profissional é raro haver empregos estáveis. “Enquanto ator estás constantemente a pensar no teu próximo trabalho. Lembro-me de ser novo, gravar um filme, e, apesar de ter tido muito sucesso, pensar: será que alguma vez vou conseguir fazer aquilo de novo? E para onde é que vou a seguir? E estar numa série durante tanto tempo era algo estranho para mim. Mas a ideia que o podemos fazer, e ainda conseguirmos estar entusiasmados 12 anos depois, é um grande tributo que devemos aos argumentistas e produtores da série. Continuam a desenvolver narrativas que nos deixam entusiasmados e agarrados.”
Por causa da pandemia, esta 12.ª temporada sofreu algumas alterações — a história foi reescrita para haver menos cenas com muitas personagens, por exemplo. A própria pandemia também foi incluída na história, embora de forma pouco determinante.
“A maioria das pessoas, quando vê ‘Investigação Criminal’, querem escapar da realidade, querem ver os bons a ganhar, querem divertir-se. As pessoas já estão fechadas em casa e não queremos enfiar isto nos olhos de ninguém. Estamos conscientes do que se passa no mundo, por isso é levemente abordado, mas não deixámos que afetasse muito a série”, explica LL Cool J, acrescentando que teve de fazer “uns cinco mil testes à Covid nas últimas semanas”. “Fiz tantos testes à Covid que não iam acreditar. Tenho sido o rei do engasgamento.”
Sobre a narrativa, LL Cool J defende que o principal destaque nesta temporada tem sido a sua relação com a filha. “A sua filha agora é mais velha e ele está a interagir com ela, e acho que essa relação é realmente maravilhosa e interessante, porque ela tem as próprias ideias, é um bocadinho teimosa, determinada.”
Além disso, conta que algumas das cenas que gosta mais de fazer são as de ação — ainda que, com a idade (já tem 53 anos), faça agora menos manobras potencialmente perigosas, ficando um duplo com esse papel. “As cenas de luta e a conduzir carros é o que eu adoro fazer, mas acho que as companhias de seguros já não acham tanta graça à ideia [risos], não sei.” Ainda assim, diz que faz cerca de 80 por cento das cenas que poderiam ser feitas por duplos.
Já Chris O’Donnell diz que Callen se abriu um pouco nesta temporada e tem deixado “mais pessoas entrarem no mundo dele”. “Ele não sabia nada da sua família e porque é que tinha estado numa casa de acolhimento. Era muito hesitante. E com o tempo conseguiu descobrir mais sobre a sua história e conhecer alguma da sua família. Sinto que conseguiu seguir em frente e chegar ao sítio que está agora: em que está a ponderar levar a relação com Hannah para o próximo passo e talvez casar-se.”
O ator de 50 anos diz ainda que na vida real tem uma amiga — a mulher de um antigo colega de faculdade — que passou a infância num orfanato e que só descobriu a família biológica quase aos 50 anos.
“As pessoas ficam com todas estas questões. Porque é que me deixaram? Porque é que isto aconteceu? Deitar-nos com todas estas questões à noite… E para o Callen poder responder a estas questões foi sem dúvida o seu maior sucesso. Agora que ele pôs para trás as questões da família, acho que ele está preparado para tomar o próximo passo. Está a aperceber-se de que talvez Hannah seja a pessoa certa para ele. Acho que é a intenção dele, mas está frustrado e a questionar as suas escolhas.”
LL Cool J explica ainda como evoluiu ao lado da sua personagem na série. “Aprendes muito sobre ti, porque a personagem só vai ter mais profundidade se tu tiveres. Como o Quincy Jones dizia sobre os músicos, não vais criar uma música que é mais profunda do que a tua experiência. Ao fazer o Sam aprendi muito sobre integridade, sacrifício, sobre colocar a equipa em primeiro lugar. Aprendi que a humildade é um super poder. Tem sido um grande exercício, tanto à frente como atrás das câmaras. Quando comecei como rapper, quando era adolescente, era apenas sobre mim. O que aprendes é que não é apenas sobre ti. É sobre equipa, família. E essa tem sido a maior lição que aprendi a fazer ‘Investigação Criminal: Los Angeles’. E é uma lição muito valiosa, tem-me ajudado imenso na vida.”
Questionado sobre as dificuldades entre manter uma carreira enquanto ator e músico, LL Cool J assume que há desafios, mas que não se comparam com as verdadeiras dificuldades que tantas pessoas atravessam.
“O meu avô trabalhava nos correios e também no aeroporto JFK, de Nova Iorque, a gerir bagagens. Isso é que é difícil. Interpretar, fazer música e ser um entertainer tem os seus desafios, mas não é no mesmo nível de stress. É fazeres aquilo que adoras, definires prioridades. Mas quando penso nos trabalhos que as pessoas têm pelo mundo fora, isto não é assim tão difícil. O meu objetivo é sempre aperfeiçoar aquilo que faço, ponho sempre tudo naquilo que faço. Neste momento estou a trabalhar num novo álbum com o Q-Tip. Mas não consigo comparar com aquilo que o meu avô fazia. Ainda tenho a caixa de engraxar sapatos dele no meu escritório, em casa. Isso é que era difícil. Ajoelhares-te todos os dias para engraxares os sapatos de alguém.”
O ator admite que as séries como “Investigação Criminal” pertencem a um tipo diferente de televisão em relação àquilo que se faz hoje, mas defende o seu papel em proporcionar momentos de escapismo e descontração aos espectadores.
“Obviamente, a indústria mudou. Há mais canais disponíveis. Muito do material que antes teriam sido filmes transitou para a televisão. Nós temos ficado na nossa área, a prestar atenção aos acontecimentos atuais e a tentar mantermo-nos inovadores enquanto nos divertimos. Temos mantido aquilo que fazemos: humor leve, ação, divertimento. Mas estamos atentos e somos provavelmente de uma última geração de um certo tipo de séries, de um tom específico. Não temos ilusões sobre isso, mas simplesmente continuamos a divertir-nos e os argumentistas continuam a tornar a série refrescante.”