Nos últimos dias de abril, foi anunciado que ia estrear um documentário surpresa na Netflix chamado “Becoming: A Minha História” — focado na advogada, escritora e ex-primeira dama dos EUA Michelle Obama. O dia chegou e a partir desta quarta-feira, 6 de maio, pode ver a produção com cerca de 1h30 na plataforma de streaming.
Baseia-se no livro de memórias que Michelle Obama lançou em 2018 precisamente com o mesmo título. É um formato em que o sujeito do documentário se confunde com o papel de produtor — afinal, o filme foi produzido pela Higher Ground Productions, empresa de Barack e Michelle Obama que assinou um acordo com a Netflix para o desenvolvimento de vários projetos (onde já se inclui o premiado “Uma Fábrica Americana”).
Esta não é, portanto, uma perspetiva imparcial sobre a sua história. É a sua faceta enquanto escritora, ou autora de livros, que está em evidência nesta produção. Aliás, o fio condutor do documentário realizado por Nadia Hallgren é a tour de 34 datas de apresentação do livro em várias cidades americanas.
Dá acesso a várias imagens de bastidores — seja de Michelle Obama a maquilhar-se ou a pentear-se antes de um evento, a bordo de um SUV a caminho de uma apresentação, ou a interagir com fãs, quase como se fosse um documentário de bastidores de uma tour mundial de concertos.
Além disso, tem vários depoimentos de Obama em entrevistas conduzidas por Gayle King, Stephen Colbert, Conan O’Brien ou Oprah Winfrey, entre outros. Michelle reflete sobre o seu tempo na Casa Branca, os ataques racistas e sexistas de que foi alvo por vários intervenientes do espaço político, o legado da presidência Obama e a forma como lidou com a opinião pública durante aquele período, entre outros temas.
Em simultâneo, é contado — embora de forma superficial — o seu percurso com imagens antigas. A infância num subúrbio de classe baixa de Chicago, as esperanças que os pais colocavam no irmão Craig (algo que sempre a deixou na sombra e fez com que se quisesse superar), o contexto social de alguém descendente de escravos e que acabou numa posição de enorme poder, como uma das mulheres mais conhecidas e reputadas do planeta.
Há entrevistas com a mãe, Marian Shields Robinson, o irmão, o agente Allen Taylor (o primeiro destacado para a sua segurança pessoal), e Barack Obama também aparece nalguns momentos — não demasiados, para deixar a mulher brilhar. Tal como Barack diz, é como se fosse Jay-Z a aparecer num concerto da mulher, Beyoncé (cuja música está bem presente neste projeto), para cantar um tema ou dois e depois sair de plano.
“É incrível — toda a gente no mundo sabe quem a minha irmã é. O que é que é isso? É insano. Ninguém devia ter de lidar com isso, ninguém. Nenhum irmão devia ter de lidar com o facto de a sua irmã ser a pessoa mais popular do planeta”, diz Craig Robinson no documentário.
O livro de memórias reflete como Michelle se tornou na primeira-dama dos EUA, enquanto o filme mostra que esta personalidade está em constante evolução e determinada a continuar a usar a sua voz política e cultural — especula-se nos EUA se eventualmente Michelle poderá concorrer a algum cargo político, apesar de a própria já ter dito que não.
Nas interações com os fãs, muitas vezes jovens e afro-americanos, a mensagem é sempre de esperança, de positivismo, de superação das dificuldades e obstáculos na sociedade, apelando para que sejam ambiciosos — no fundo, que tenham um percurso de sucesso como ela, que façam nas suas áreas de interesse aquilo que ela mostrou que era possível.
No entanto, a crítica internacional está a apontar para o facto de este não ser um documentário biográfico, como se poderia esperar, e que não há grandes novidades, além de o tom ser bastante promocional.
A revista americana “Variety” diz que o filme “não vai surpreender ninguém o facto de se parecer com um extenso vídeo promocional, um cruzamento entre a adoração de uma heroína em contacto próximo e informação comercial inspiracional”.
A publicação acrescenta: “Não há grandes revelações aqui nem cenas íntimas em que o objeto de Hallgren baixa a sua guarda, mas o público-alvo não espera mais do que isso. Muito mais do que o livro, o filme mostra uma versão arranjada de como Michelle se vê a si própria — e, ainda assim, mesmo uma imagem tão cuidada pode ser reveladora, já que diverge tanto da perceção que o mundo tem dela”.
A revista “Deadline” diz que “Becoming: A Minha História” poderia ser “o lançamento de uma campanha”. Apesar de não se falar nisso, Michelle Obama afirma que vem aí “um novo capítulo” — algo que desconhecemos ainda por completo e que só tem alimentado a curiosidade dos fãs e admiradores, sobretudo os americanos.
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