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Drew Barrymore: do alcoolismo aos 12 anos ao regresso com um dos talk shows da moda

Deixou de ser uma das estrelas mais apetecíveis de Hollywood, mas reinventou-se como apresentadora. E é um sucesso.

Qual foi o último filme em que viu Drew Barrymore assumir o papel de protagonista? Das duas, uma: ou terá que recuar uma série de anos na memória ou a resposta será um total vazio. Isto porque a menina prodígio de “E.T.” tem estado afastada dos grandes filmes e séries. Mas isso não é necessariamente mau.

A verdade é que Barrymore parece ter encontrado o seu grande trunfo. Desde 2020 que é apresentadora de um dos talk shows mais vistos nos Estados Unidos. Criado em 2020, o “The Drew Barrymore Show” vai na sua terceira temporada e os números dificilmente poderiam ser melhores. A mais recente série de episódios elevou em 70 por cento o número de telespectadores e tornou-se no programa diário da televisão americana que mais tem crescido nas audiências. Em 2022, o programa teve uma média de 1,2 milhões de telespectadores.

O segredo, dizem os especialistas, está na forma como a atriz de 48 anos se comporta e conduz as entrevistas. Em cada programa, uma celebridade diferente senta-se no sofá, frente a frente com Drew Barrymore — e contra todas as expectativas, quase todos têm grandes revelações a fazer. O tipo de revelações que dão origem a clipes virais. E esses vídeos virais são, claro, o combustível que alimenta a máquina imparável em que se tornou o talk show.

O segredo do programa está “na forma como [Barrymore] consegue sacar tanta coisa dos convidados”, reflete o “The Guardian”. “Quando existem segredos, seja um problema de álcool ou uma estória inacreditável, normalmente guarda-la para quando estás em tempos difíceis, quando estás a tentar brilhar na capa da ‘Vanity Fair’ ou a escrever uma biografia. Não desperdiças isso em cinco minutos de televisão. Então, como é que [Barrymore] consegue fazê-lo?”

A lista de convidados dificilmente poderia ser melhor. De Susan Sarandon a Serena Williams, de Martha Stewart a George Clooney. Estrelas não faltam. E foi este último que, por exemplo, se viu no foco de diversas manchetes após a visita ao sofá de Barrymore, sobretudo pelos seus valiosos conselhos para relacionamentos.

É também nas entrevistas com personalidades não tão famosas que a atriz brilha. De traumáticas relações amorosas a momentos secretos de bastidores, tudo é motivo para desabafar ao lado da apresentadora. E algumas das histórias fazem ressonância em Barrymore, nomeadamente as de infâncias problemáticas — experiências que partilhou numa intimista entrevista com Brooke Shields — e o alcoolismo.

Teria sido uma vida pacata, fossem esses os únicos problemas que afetaram Barrymore. Problemas esses que revelou na sua biografia de 2015, “Wildflower”, que começa precisamente na sua primeira aparição televisiva, tinha apenas 11 meses. Foi a estrela de um anúncio de comida para cães.

Filha de dois atores, estreou-se no cinema com cinco anos e apenas dois anos depois brilhava num dos maiores clássicos da história do cinema, o “E.T.” de Steven Spielberg. Os pais adoravam a fama da criança. Era uma estrela.

Nesse mesmo ano foi entrevistada por Johnny Carson, o icónico apresentador norte-americano. Já no sofá, em frente às câmaras, começou por mostrar-se irritada com algo que tinha na boca. Haveria de explicar que se tratavam de dentes falsos, que tinha que usar para esconder os tortos e ainda em crescimento dentes de leite. “Uso-os nas entrevistas”, explicou, enquanto Carson lhe perguntava se a incomodavam. “Sim.” Acabaria por fazer a entrevista sem o acessório impingido pelos pais.

Em casa, não havia grandes regras e tinha de lidar com os episódios de raiva alcoólica do pai. O casamento acabaria por chegar ao fim, quando Barrymore tinha apenas nove anos. Na sua biografia chega a revelar que regava bolas de gelado com o licor alcoólico Baileys. E terá sido pela mão da mãe que saiu à noite pela primeira vez com apenas nove anos, no famoso Studio 54.

As saídas à noite tornaram-se mais comuns e, a partir daí, tudo descambou. Aos 11 anos, Barrymore tinha um grave problema com o álcool. As drogas vieram a seguir. Aos 12, já consumia cocaína; e aos 13 anos foi internada numa clínica de reabilitação durante 18 meses, depois de ter tentado o suicídio ao cortar os pulsos.

“Tinha medo de morrer antes de fazer 25 anos”, recorda a atriz ao “The Guardian”. “Mas por mais negras que as coisas se tornassem, sempre mantive uma ideia de onde estava o bem. Nunca me deixei cair totalmente no lado negro. Havia tantas coisas que podia ter feito que me poderiam ter atirado definitivamente para esse lado, mas sempre soube que não devia ir por aí.”

A solidão e o abandono dos pais atormentaram-na durante a infância. Sentiu que viveu o período mais difícil da sua vida aos 13 anos. “Não sabia bem porque é que era uma miúda zangada. Questionava-me sobre isso e quando o fazia, deixava a raiva para trás. Porque os meus pais não estão aqui? Quem é que quer saber dessa merda? Há tanta gente sem pais.”

Apesar de ter passado parte da infância em clínicas, confessa que também isso a ajudou a crescer. “A minha mãe internou-me. E depois? Isso deu-me uma disciplina incrível. Foi como uma recruta. Foi horrível, foi negro, foi longo, mas ao fim de um ano e meio, percebi que precisava disso. Precisava da disciplina. A minha vida não era normal. Não era uma miúda normal. Precisava de uma mudança.”

Barrymore acabaria por se emancipar com apenas 14 anos. Segundo a própria, os especialistas da clínica acreditavam que estaria melhor sozinha do que acompanhada pelos pais. “Saí de lá mais respeitadora. E os meus pais não me iriam ensinar isso. A vida não me iria ensinar isso. Saí de lá uma pessoa muito diferente, mas continuava a ser eu.”

Quando regressou ao trabalho, não tinha propostas à sua espera. A passagem pela reabilitação praticamente lhe destruiu a carreira. Precisou de três anos até conseguir voltar a trabalhar no que queria. E assim relançou a carreira, sempre domada pela recém-adquirida disciplina.

O fantasma do álcool regressou mais tarde, em 2016, depois de um divórcio com Will Kopelman, com quem criava duas filhas. O vício voltou a trocar-lhe as voltas. A sua terapeuta desistiu de a ajudar. Vários amigos foram afastados. Acabou por encontrar ajuda em alguns colegas atores como Cameron Diaz. O esforço compensou e Barrymore voltou mais uma vez a recuperar. Hoje é a apresentadora mais requisitada dos Estados Unidos.

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