Já era um ator de renome em Espanha, mas “La Casa de Papel” impulsionou a carreira de Enrique Arce, que interpretava o insuportável Arturito na série da Netflix que foi um autêntico fenómeno de popularidade.
Hoje, aos 50 anos, tem créditos no universo “Exterminador Implacável”. Trabalhou com Woody Allen em “Rifkin’s Festival”. Foi chamado para outra série popular da Netflix, “Toy Boy”. E recentemente contracenou com Jennifer Aniston e Adam Sandler em “Mistério em Paris”, que foi durante semanas o filme mais visto da mesma plataforma de streaming.
A partir de Los Angeles, nos EUA, onde se encontra a procurar estabelecer uma carreira, Enrique Arce falou com a NiT sobre outro projeto. O ator participa na segunda temporada de “The Head”, série espanhola que em Portugal é transmitida no AXN. A estreia está marcada para a próxima quinta-feira, 27 de abril, a partir das 23h44. Leia a entrevista.
O que o atraiu a fazer esta série?
Estava a gravar um filme, e o meu agente do Reino Unido enviou-me um link com a primeira temporada de “The Head”. Não conseguia parar de ver. Só queria ver um episódio para perceber como era a série, se queria fazê-la ou não, mas acabei por ver aquilo tudo sem parar. Fiquei muito agarrado. Não como ator que vai trabalhar ou que está a decidir se pode trabalhar naquele projeto, mas como alguém que desfruta genuinamente da série. Pela altura em que cheguei ao quinto episódio, liguei ao meu agente e disse-lhe: olha, quero fazer isto. Adorei as reviravoltas, a representação, o facto de parecer muito internacional, embora seja uma produção 100 por cento espanhola. Conhecia o ator principal do “Em Nome do Pai”. Não o tinha visto desde então. Contudo, adorava o trabalho dele. Adorava o Jorge Dorado, considero-o um grande realizador, então foi uma combinação vencedora. E a MediaPro é uma das melhores, ou mesmo a melhor, produtora em Espanha. Tinha feito o filme do Woody Allen [“Rifkin’s Festival”] com eles e tínhamo-nos dado muito bem. Assim que vi um bocado da série, pensei logo: vou fazer isto.
Mas nessa fase já existia um convite explícito para interpretar uma personagem específica?
Não, só me enviaram a primeira temporada. O segundo passo foi falarem comigo sobre a segunda. Queriam que eu interpretasse esta personagem espanhola, um marinheiro. Disseram-me que ia trabalhar com o Hovik Keuchkerian, que seria o meu irmão. Eu e o Hovik somos mesmo bons amigos, trabalhámos juntos em “La Casa de Papel”. Embora nunca tenhamos partilhado uma cena, estivemos juntos, por exemplo, nas conferências de imprensa da quinta temporada. E divertimo-nos muito. Penso que eles perceberam isso e pensaram: estes tipos vão trabalhar muito bem juntos. Portanto, não só ia ser um grande projeto, como ia trabalhar com o Hovik e rir-me e divertir-me imenso. E é uma série tão fixe. Acho que a segunda temporada ainda é melhor do que a primeira. Não o digo porque faço parte da segunda, digo do ponto de vista do público. A segunda está recheada de mais coisas: há mais cenários, mais coisas a acontecer no exterior, no mar. É uma série incrível com um elenco maravilhoso.
Teve de fazer algum tipo de preparação especial para a série? Ou foi muito a questão de trabalhar a sua dinâmica com o Hovik Keuchkerian?
Nós fizemos a série num barco real. E os barcos são tramados. E eu sou o chefe de máquinas, é suposto eu ser o tipo que sabe tudo e faz com que o barco trabalhe. Por isso, havia muitos botões que eu não fazia a mínima ideia para que serviam. E havia um tipo cubano que trabalha como engenheiro no barco que me disse: OK, vou orientar-te, vou dizer-te qual é cada área, que botão faz o quê. Para mim foi muito complicado. Claro que não tinha mesmo de ser engenheiro, só tinha de conseguir fingir que era. Por isso, monitorizou-me durante um par de horas. No final, já estava confortável. Mas haviam duas coisas complicadas: estavam uns 40 graus e era tudo muito barulhento. Tinha de estar sempre com os auscultadores. Dizem que se estiveres ali meia hora sem auscultadores, podes ficar surdo. Tivemos de ser muito cuidadosos durante as gravações.
Contudo, esses fatores externos também trazem coisas diferentes aos atores relativamente às gravações num estúdio, certo?
Totalmente. O que é ótimo para um projeto é gravar aquilo a sério, mas torna-o complicado. São cenários e circunstâncias desafiantes. Certo dia, tivemos um incêndio junto da plataforma onde estávamos. E isto foi a sério, vieram os bombeiros extinguir o fogo e tudo. No dia seguinte estava nos jornais. Por isso havia muitos desafios que tornaram isto interessante. Era um navio à moda antiga e não foi feito para ser confortável. Os odores não são ótimos… São coisas desafiantes, mas, no fundo, ajuda-te a sentir que estás a viajar no mar com aquelas pessoas. Ah, e naquela altura também havia muita Covid-19, várias pessoas ficaram doentes porque estávamos num espaço muito fechado. Felizmente, não fiquei, mas muitos ficaram.
Trabalhar num filme é diferente de trabalhar numa série, no sentido em que têm durações distintas e permitem uma construção diferente das personagens. O que prefere numa série, relativamente a um filme?
É uma oportunidade poder participar numa história que inclui muitos departamentos. Mas, para mim é sempre sobre estar num sítio diferente, com pessoas que nunca conheci, a criar laços e a construir uma relação. Não estou a falar das personagens, estou a falar das pessoas. Sou muito mais uma pessoa de pessoas do que um ator. Tive a felicidade de fazer séries onde faço parte de um elenco alargado, por isso não está tudo sobre os meus ombros, mas é sempre sobre as relações que construo ao longo do caminho, e os sítios que vou conhecendo. Se é filme ou série, para mim é igual. Não me faz diferença. Acabei de gravar enquanto Picasso com a Marion Cotillard e a Kate Winslet, e foi ótimo. Estávamos em Dubrovnik [na Croácia], que é uma das cidades mais incríveis do mundo, e ficámos os sete a beber vinho e a viver como se fôssemos as personagens. Foi como se estendêssemos as gravações para a noite. Estávamos a beber copos e a conversar sobre a vida e acerca de filmes. É sempre muito bom, sobretudo quando as pessoas são tão simpáticas.
Em que outros projetos está a trabalhar?
Estou em Los Angeles a promover o “Murder Mystery 2” [ou “Mistério em Paris”, em português], com a Jennifer Aniston e o Adam Sandler. Foi o filme número 1 durante umas três semanas na Netflix, e estamos muito felizes. E estou aqui a tentar encontrar alguém que me represente em Los Angeles e a ver o que esta cidade me traz. Até agora, tudo bem, e estou feliz por poder elevar o meu ofício até ao próximo nível. Talvez a próxima oportunidade seja em Portugal outra vez. Se o meu bom amigo Leonel Vieira me ligar, posso trabalhar com os atores e amigos incríveis que tenho em Portugal.
Isso seria ótimo. Mas está, então, focado em estabelecer uma carreira em Los Angeles e na indústria de Hollywood?
Basicamente, sim. Disse ao meu agente em Espanha para não aceitar nada agora, porque se não nunca mais vinha para aqui e estaria sempre a pensar que seria no próximo ano. Agora tenho o meu visto, acho que esta é a altura certa porque este filme foi muito grande e vamos ver o que acontece.