Em 2020, Drew Barrymore reencontrou-se com a fama, depois de muitos anos afastada das grandes produções. E tudo aconteceu ao comando de um talk show. Em apenas três temporadas, “The Drew Barrymore Show” transformou-se no programa de televisão da moda e num dos mais vistos nos Estados Unidos.
A marcha triunfal foi interrompida pelas greves que, desde maio, assolam a indústria cinematográfica e televisiva no país. A paralisação dos argumentistas, em maio, foi a primeira a travar inúmeros projetos, incluindo a maioria dos talk shows e late night shows. Logo a seguir, a greve do sindicato dos atores agravou crise.
Perante um hiato por tempo indefinido, Drew Barrymore decidiu anunciar, no início de setembro, que o seu talk show iria mesmo regressar para uma quarta temporada, fosse qual fosse a situação da greve. O anúncio funcionou como uma espécie de bola de neve que levou alguns dos programas da concorrência a seguir o mesmo caminho, isto apesar do avolumar de críticas por parte dos grevistas.
As discussões tornaram-se muito públicas e particularmente violentas. Barrymore usou as redes sociais para se justificar. “Tomo a decisão de regressar pela primeira vez durante a greve. Pode ser o meu nome que está no título, mas isto é muito maior do que eu. Assumo esta decisão”, escreveu a 10 de setembro.
“Estamos a cumprir as regras [da greve] ao não discutirmos ou promovermos filmes e séries que estejam paradas. Lançámos o meu programa durante uma pandemia global, foi construído em tempos sensíveis e só funciona transmitindo o que o mundo real está a viver em tempo real. Quero também dizer ‘presente’ no momento de revelar o que os argumentistas fazem tão bem, que é criar coisas que nos unem, que nos ajudam a dar sentido à experiência humana.”
A decisão não caiu bem entre os grevistas, que começaram por apelar à atriz que reconsiderasse. Como a mudança de atitude não chegava, o discurso endureceu. Barrymore foi acusada de estar a “violar a greve”. “Estou em greve há 133 dias como argumentista e há 60 dias como atriz e é bem claro que estás determinada a minar esta luta”, atirou Natasha Rothwell, atriz, produtora e argumentista.
“A decisão de prosseguir está a prejudicar os interesses daqueles que dizes apoiar, o que só pode significar que estás a ser propositadamente ignorante ou simplesmente não queres saber”, acusou no Instagram.
Barrymore, que havia sido convidada para ser a apresentadora da gala National Book Awards foi rapidamente afastada como consequência da sua decisão. “O nosso compromisso é garantir que o foco da gala se mantém na celebração e homenagem aos autores e livros. Estamos gratos à senhora Barrymore e à sua equipa por compreenderem esta situação”, anunciou a organização do evento.
À medida que a controvérsia aumentava, eram colocadas em cima da mesa as motivações de Drew Barrymore. Segundo a “Vulture”, a atriz foi apanhada entre a espada e a parede. Caso a CBS, produtora do programa, decidisse avançar, Barrymore teria de comparecer, sob pena de ser alvo de uma ação legal — já que apesar de ser membro do sindicato, o seu programa e contrato não está abrangido pela greve dos atores. Ora o cumprimento do contrato, como se viu, também tem o seu lado negativo, embora não judicial: o enxovalho público por parte dos seus pares na indústria.
Com a decisão de avançar anunciada, o programa voltou às gravações. Os piquetes formaram-se à porta da CBS e dois dos membros da audiência, convidados para uma gravação livre, carregaram consigo os emblemas dos grevistas. O resultado? Foram expulsos pelos seguranças, numa ação que só contribuiu para exacerbar os ânimos.
A bola de neve continuou a crescer. “A Drew nunca esteve a par do incidente e vamos procurar os dois membros da plateia para lhes oferecer novos bilhetes”, revelou a comunicação do programa, numa tentativa de minimizar os danos.
Face à pressão, na sexta-feira passada, 15 de setembro, Barrymore decidiu tomar o problema em mãos. Pegou no telemóvel e gravou uma declaração em vídeo, entre lágrimas e pedidos de desculpas.
“Sei que não há nada que possa fazer par melhorar a situação de todos os que não concordam com a decisão. Aceito isso, plenamente, e compreendo-o. Existem muitas razões que tornam tudo isto complexo. Quero apenas que saibam que nunca tive intenção de magoar seja quem for. Não sou esse tipo de pessoa.”
Entre pedidos de desculpas, intervalados com a ocasional lágrima, Barrymore justificou o regresso. “Queria fazer isto porque, como disse, isto ultrapassa-me, é maior do que eu. Há outras pessoas com o seu emprego em risco. E desde que lançámos numa pandemia, sempre senti que quis fazer um programa que estivesse presente paras pessoas em tempos sensíveis.”
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Barrymore, que justificou também a decisão de publicar o vídeo “sem a rede de segurança das relações-públicas”, acabaria por apagar o vídeo. Um gesto que revelaria o decisivo passo atrás, com a atriz a anunciar, no domingo, 17, que a estreia da quarta temporada “ficaria em pausa até ao final da greve”.
O regresso, que deveria acontecer em setembro, fica assim adiado. “Ouvi o que todos tinham para dizer e tomo a decisão de adiar a estreia até ao final da greve. Não tenho palavras para exprimir as mais sinceras desculpas a todos os que magoei e, claro, à nossa incrível equipa que trabalha para fazer o programa.”
Recorde o percurso de Drew Barrymore, de talento precoce a adolescente problemática, neste artigo da NiT que relata o regresso da atriz à ribalta.