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Entrevista “completamente ridícula” do Príncipe Andrew inspirou nova série da Max

Após ter sido retratada num filme da Netflix, a conversa com a jornalista Emily Maitlis é analisada em “A Very Royal Scandal”.
A entrevista inspirou uma nova série.

Estima-se que, em vida, Jeffrey Epstein tenha sido cúmplice das violações de mais de uma centena de raparigas menores de idade (e não só). Os crimes decorriam principalmente nas Ilhas Virgens Americanas, onde tinha uma mansão.

Sarah Ransome, que tentou fugir da ilha em 2006, quando tinha 22 anos, foi uma das vítimas da rede criminosa. Pegou numa mota e conduziu rumo ao mar onde sabia que poderia encontrar tubarões. “Já tinha sido violada três vezes nesse dia. Naquela altura, um tubarão teria sido o meu melhor amigo”, contou ao jornal “Telegraph”. O plano não foi bem-sucedido e acabou por ser apanhada pelos seguranças da ilha, após a fuga ter sido captada por várias câmaras de vigilância.

Nos últimos anos — e especialmente após a sua morte na prisão em 2019 — o nome de Jeffrey Epstein tem sido associado a muitos membros das elites de diferentes países, de Donald Trump a Príncipe Andrew. A vida do filho de Isabel II mudou por completo há cerca de cinco anos, após ter dado uma polémica entrevista à BBC, onde abordou a ligação a Epstein. As declarações ao “Newsnight” foram transmitidas a 16 de novembro de 2019.

Em 2024, esta conversa tem inspirado grandes produções das plataformas de streaming. Após o filme “A Grande Entrevista”, que estreou na Netflix a 5 de abril, chega à Max uma nova série baseada no mesmo tópico. “A Very Royal Scandal” estreia esta quarta-feira, 18 de setembro. A obra realizada por Julian Jarrold é protagonizada por Michael Sheen, que interpreta Andrew, e Ruth Wilson, que encarna Emily Maitlis, a jornalista que o entrevistou.

“Uma noite. Uma hora. Uma entrevista que causou comoção em todo o mundo. Baseada na entrevista real de 2019 entre Emily Maitlis e o Príncipe André após as acusações escandalosas que enfrentou relativamente à sua relação com Jeffrey Epstein e Virginia Giuffre. Segue a ação de Maitlis e do Príncipe Andrew antes da entrevista, o acontecimento revolucionário em si e as muitas questões que ele deixou para trás e que mudariam as suas vidas para sempre”, lê-se na sinopse.

Tal como inúmeros outros britânicos, Ruth viu a entrevista com os amigos e ficou “completamente chocada”, contou ao “The Post”. “Como é que aquilo aconteceu? Como é que ele se colocou naquela posição? Foi uma entrevista extraordinária e um momento que definiu a história do jornalismo no nosso país.”

Michael Sheen, de 55 anos, ficou igualmente estupefacto, mas acaba por elogiar a atitude de Andrew e afirma que é “fascinante ver uma pessoa com tanto poder e privilégio pôr-se numa posição em que vai ter de assumir culpas”.

O elenco sabe que a entrevista já foi um filme da concorrente Netflix, mas não se importam. Afinal, acreditam que é uma história que não pode ser esquecida, algo que “muitas pessoas no poder querem que aconteça”, comenta o ator.

Para se preparar para o papel, o galês olhou para o príncipe como uma personagem e não como uma pessoa, visto que não teve contacto direto com ele. Por outro lado, Ruth, de 42 anos, passou vários dias ao lado de Maitlis para perceber melhor a sua personalidade e a forma como conduziu a conversa. “Ela construiu-a como se fosse um caso no tribunal”, adianta.

Quando questionados se achavam que a família real britânica iria ver a série, ambos mostraram desinteresse. Afinal, “o principal foco é criar conversas em torno das verdadeiras vítimas desta história”, concluiu Wilson.

A mediática entrevista

O programa juntou 1,7 milhões de britânicos que assistiram à conversa em direto. Para o príncipe Andrew, aquela era a oportunidade ideal para mostrar o seu lado da história e defender-se de todos que o chamavam pedófilo devido ao vínculo que tinha com Epstein.

As acusações não eram descabidas: eram amigos de longa data e passavam férias juntos. Em 2015, Jeffrey foi processado por Virginia Roberts Giuffre, que o acusava de a ter obrigado a ter relações sexuais com Andrew quando ela tinha apenas 17 anos — algo que o Palácio de Buckingham negava ter acontecido.

Quando Emily lhe perguntou o que o havia levado a aceitar o convite, após várias recusas, respondeu: “Nunca há uma boa altura para falarmos sobre o Sr. Epstein nem sobre todas as coisas às quais está associado.”

Apesar de ter mostrado um certo distanciamento do então condenado, o monarca afirmou que não se arrependia da amizade com Epstein. Ter conhecido Jeffrey trouxe-lhe “muitos benefícios” após a carreira na Marinha. “As pessoas que conheci e as oportunidades que me foram dadas para aprender, seja por ele ou por causa dele, foram realmente muito úteis”, disse.

Não podemos falar de Jeffrey Epstein sem mencionarmos Ghislaine Maxwell, a namorada que o terá ajudado e que também era, alegadamente, uma das cabecilhas da rede de violação de menores.

Andrew continuou a manter o contacto com Maxwell e, segundo contou, estiveram juntos em 2019 — ano em que foi dada a entrevista explosiva. “Veio ao Reino Unido fazer um comício. Nunca falámos sobre ele. Não havia nada a dizer porque o nome dele já não era notícia. Já tínhamos seguido em frente”, afirmou, frisando que não era próximo de Jeffrey. Os convites que recebeu para eventos em Windsor e Sandringham partiram de Ghislaine. “Epstein era apenas o plus one dela”, afirmou.

Ao longo da conversa, o príncipe foi sempre salientando o seu distanciamento do norte-americano. Mas Emily Maitlis estava determinada em chegar ao fundo da questão e, para isso, tinha de falar da fotografia onde surgiam juntos, em Nova Iorque, cidade onde Jeffrey tinha uma casa. A imagem havia sido captada em 2010, quando a investigação aos alegados crimes da rede de violação de menores já tinha começado.

Segundo o Andrew, a visita serviu apenas para “esclarecer que a amizade tinha acabado”. Tinha pensado em falar com Epstein por telefone, mas considerou que deveria fazê-lo pessoalmente para “mostrar liderança”. “Como isto era sério, percebi que tinha de o ver e conversar com ele cara a cara. Resolver as coisas por telefone era o que faria um cobarde.”

Questionado por Maitlis porque havia ficado a dormir em casa do norte-americano, Andrew respondeu apenas que “era o mais conveniente”. Quando foi confrontado com fotografias de menores de idade a saírem do apartamento, afirmou: “Pensava que eram apenas elementos do staff”.

As acusações de violação

Outro tema que tinha de ser abordado era a relação entre Virginia Roberts Giuffre e Andrew. A primeira alegava que tinha sido violada pelo monarca quando tinha 17 anos. Apesar das acusações terem sido negadas por Buckingham, Maitlis não ia deixar de esmiuçar o caso.

A jornalista mostrou uma fotografia do filho de Isabel II com o braço à volta da rapariga, então adolescente. “Sou eu. Mas se essa é a minha mão… Não me lembro dessa fotografia ter sido tirada”, defendeu-se.

No cenário da imagem desfocada via-se uma discoteca de Londres com um homem a suar imenso. É difícil perceber se o homem era, de facto, Andrew. Garantia que não podia ser ele porque, naquela noite, tinha levado a filha Beatrice a uma pizzaria. Além disso, “na altura sofria de uma condição muito peculiar que o impedia de transpirar”. A justificação fez com que fosse ridicularizado em todo o Reino Unido. “Foi uma conversa completamente ridícula, mas foi o Andrew que insistiu em dizer certas coisas, não a equipa dele”, comentou Michael Sheen, desta vez à “Radio Times”.

Cerca de três anos após a entrevista, em agosto de 2021, Giuffre processou diretamente o príncipe. Em janeiro de 2022, documentos do tribunal revelaram que Epstein tinha pago 460 mil euros a Virginia para impedir que acusasse outros dos seus sócios. O acordo, contudo, não abrangia o britânico.

Nesse mesmo ano, Andrew anunciou que iria afastar-se dos seus deveres e deixaria de ter um papel ativo enquanto membro da Família Real. Depois, foi destituído dos seus títulos militares e do direito a ser tratado como “Sua Alteza Real”.

Em fevereiro de 2022, o processo de Giuffre foi encerrado e a vítima recebeu uma quantia não revelada do acusado. Além disso, o ex-monarca concordou em fazer “uma doação substancial” a uma instituição de caridade “em apoio aos direitos das vítimas”.

Carregue na galeria e conheça algumas das séries e temporadas que estreiam em setembro nas plataformas de streaming e canais de televisão.

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