Escreve-se YA e significa “young adult” — nos EUA e no Reino Unido, refere-se a livros, a filmes ou séries com e para jovens adultos (ou, em muitos casos, adolescentes). É o caso de produções recentes como “Por Treze Razões”, “Elite”, “Gossip Girl”, “Sex Education”, “The End of the F***ing World”, “Gilmore Girls”, “Eu Nunca” ou “Outer Banks”, entre tantas, tantas outras.
Portugal não tem tradição neste tipo de projetos, mas há uma série ambiciosa da SIC que se posiciona nesse segmento. Chama-se “A Lista” e estreia já na próxima sexta-feira, 24 de setembro, na plataforma de streaming Opto.
Será uma série com uma história relativamente semelhante ao filme “Os Amigos de Alex”, realizado por Lawrence Kasdan, que estreou em 1983. A narrativa centra-se na história de Patrícia, uma jovem adulta que se mudou já há algum tempo para Lisboa e que tem um grupo de amigos, que com o tempo se afasta um pouco.
Contudo, a morte chocante e inesperada de Patrícia faz com que o grupo se reúna. “A Lista” que está no título da série é uma lista de coisas, deixada por Patrícia, que gostaria que os amigos fizessem. Assim, o grupo decide cumprir a sua vontade — mas pelo caminho vão deparar-se com revelações inesperadas, mistérios e crime.
As gravações arrancaram no início de agosto e continuam em força. A NiT esteve presente na rodagem na quinta-feira, 16 de setembro, nas instalações da produtora Coral Europa, em Vialonga. Trata-se de um projeto com um elenco bastante conciso, gravado com mais tempo do que uma novela e com um ambiente mais tranquilo.
Quem são as personagens?
Carolina Loureiro interpreta Patrícia, a jovem que morre e deixa aos amigos a lista de coisas a fazer — cada uma delas está escrita num origami, que Patrícia adorava fazer. Mas quem acaba por assumir um papel de protagonista é Júlia Palha, com o seu papel de Alice.
“Eu não sabia muito bem ao que vinha. Eu achava que a protagonista era a Carolina, mas devia ter pensado, ela morre, claro que isto ia sobrar para alguém [risos]”, explica Júlia Palha, que só teve quatro dias de férias entre as gravações de “A Serra” e as de “A Lista”. “Decidi que esta personagem tinha mesmo de ser muito diferente. Ela é muito fria, muito seca, às vezes até passa um bocado por insensível. E a minha Fátima [de ‘A Serra’] era muito mais emocional. Até está a ser fácil fazer esta transição.”

Alice era praticamente a melhor amiga de Patrícia, a par de Micaela (personagem interpretada pela atriz Bruna Quintas). “Éramos as três muito unidas, mas talvez a Alice fosse a que era mesmo mais próxima. E quando chegam certas tarefas, porque vai haver algumas que vão um bocadinho contra os nossos valores morais, a Alice, por ser quase advogada — ela está a estagiar ainda — acaba por ser, acho eu, a mais racional do grupo. Aquela que mais rapidamente diz ‘wow, calma, não vamos fazer isto, isto são os sonhos da Patrícia, é a sua última vontade, mas não podemos ultrapassar certos limites’. Isto é a posição dela inicialmente, mas depois ela acaba por não ser tão linear assim e acaba por ficar naquele limbo de: será que lhe devo isto? Até porque todos eles, os amigos dela, acabam por se sentir muito culpados.”
O grupo de amigos sente-se culpado, sobretudo inicialmente, porque acreditam que Patrícia pode ter tirado a própria vida. “O que é que fizemos mal? No que é que não reparámos? De repente, quando achamos que alguém pode ter feito alguma coisa, como é que nós não a ajudámos? Porque ela não nos contou nada… Então têm todos um bocadinho esse sentimento de culpa.”
Laura Dutra interpreta outra personagem do grupo de amigos principal. Ela é Catarina, uma “betinha alternativa de Cascais”, como descreve a atriz. Tirou o curso de engenharia ambiental mas não sabe exatamente o que quer ser. Gosta da área do turismo e por isso trabalha com tuk tuks para fazer algum dinheiro extra. Quer ter a sua independência, “mas ao mesmo tempo ainda vive com a mãe e depende imenso dela”.
“Ela conhecia a Patrícia. Não éramos amigas, amigas, mas andámos na mesma faculdade, portanto já havia uma ligação e estávamos metidas nalguns projetos ambientais juntas.” Catarina é apresentada como “séria”, “misteriosa”, “desconfiada”, alguém difícil de ler, que gosta de festas e bebidas alcoólicas. Laura Dutra apresenta-se com cabelos aos caracóis, uma sugestão feita pela própria atriz, que até coincidia bem por Catarina ser filha da personagem interpretada por Mafalda Vilhena, que tem caracóis. Só que curiosamente Vilhena usa o cabelo esticado nesta série. Laura Dutra diz demorar entre uma hora e uma hora e meia a ficar pronta para ir gravar.
Catarina é muito amiga, desde sempre, de Tiago — personagem interpretada pelo ator Diogo Lopes. “Tem sido um desafio interessante e um bocadinho diferente”, conta-nos o ator. “Curiosamente, a dificuldade neste projeto tem sido encontrar coisas em que o Tiago não seja parecido comigo. Tem uma componente de música que é fortíssima. Ele tem uma loja de discos, é completamente vidrado por música e eu também sou bastante. Portanto, o caminho tem sido trabalhado um bocado ao contrário e tem sido interessante.”

Tiago não conhecia Patrícia. No início da história, chega à cidade para cuidar do hostel que pertencia à tia e abre a tal loja de discos. “É assim que ele conhece a Alice e acaba por conhecer depois todos os amigos da Alice e toda esta trama que a envolve e ele também vai passar a fazer parte. Mas ele é um bocadinho outsider nesta coisa dos amigos. O que posso dizer é que se vai deixar contaminar um pouco, funcionando também com mais consciência, e um bocadinho mais adulto no meio disto tudo. Mas é claro que se deixa contaminar por toda esta ação”, revela.
Outra personagem regular é Jéssica, interpretada por Soraia Tavares. Ela faz parte do núcleo do escritório de advogados onde uma parte substancial da ação se vai desenrolar. “É uma rapariga muito focada, o trabalho está em primeiro lugar, é muito fiel, é mesmo amiga da Alice apesar de haver uma competição entre elas e o Simão porque eles são os estagiários. E está também um pouco envolvida com a história da Patrícia”, conta-nos a atriz, que usa lentes de olhos azuis para este papel. “Ajuda-me bastante a sentir-me Jéssica e não Soraia. Mas não acho que seja assim tão longe de mim, a nível do foco, de ser a direitinha, não acho assim tão longe de mim. Acabo por utilizar as minhas coisas e dou assim umas voltas para a tornar mais interessante do que a Soraia [risos].”
O Simão de que Soraia Tavares fala é interpretado por Filipe Matos. “O Simão é um rapaz super problemático, é advogado, tem uns ideais que não são os melhores”, explica o ator. “Mas tem um lado sedutor. Acho que o Simão tem uma lógica para fazer o que quer. Tem uma imagem super arrogante, é machista, tem aqueles ideais mais conservadores mas tudo o que ele faz tem lógica. Olha muito para os fins sem ver os meios. É uma saída da minha zona de conforto.”
Filipe Matos conta que, para abordar este papel, inspirou-se bastante na personagem de Christian Bale no filme “American Psycho”. “Tem um lado que não vamos passar para aqui, um lado mais pesado, mais metódico, uma personagem muito organizada que liga muito a fato e gravata, e depois tem o outro lado da moeda que é o lado maluco. Quem está muito controlado tem um lado que quer explodir. E acho que o Simão tem muito esta dualidade.”

Ana Lopes vai interpretar a rececionista da firma de advogados. “Vai ser divertido e escaldante para a minha personagem. Ela está muito apaixonada”, explica a atriz. “O nome dela é Cátia. Ela ajuda muito os estagiários, é muito prestável, sobretudo na sala de arquivos [risos]. Como rececionista está muito por dentro dos enredos todos, ouve muita coisa.” No início, diz, será mais misteriosa, mas depois vai ganhar “um peso e uma voz”.
Luís Ganito também faz parte do grupo de amigos. Ele interpreta Paulo, uma personagem que tinha uma grande ligação com Patrícia. “A Patrícia era a única pessoa que permitia o Paulo ser ele próprio. O Paulo não teve uma infância de um miúdo normal da idade dele, teve de ir trabalhar muito cedo com a mãe. E isso não lhe permitia estar com os amigos e viver uma infância normal. Cresceu com o Bruno [personagem de Luís Garcia], viveu no mesmo bairro, jogavam à bola, mas o Paulo quando começou a ter estas incertezas ao nível da sua sexualidade começou também a afastar-se do Bruno, porque ele é gay. Mais à frente voltam a juntar-se devido à Patrícia. E é muito esta incerteza que o Paulo vive quanto à sua sexualidade, quanto à sua amizade.”
Além disso, revela o ator, Paulo, que nunca se sentiu muito integrado, vai encontrar em grupos de extrema-direita um local de acolhimento, onde desenvolve um sentimento de pertença.
Outra personagem é interpretada por Carlos Oliveira. Chama-se Mateus e é alguém misterioso que “vai aparecendo aos poucos”, revela o ator. Trata-se da “flecha apontada de uma série de situações menos corretas”. Mateus será próximo de uma personagem interpretada por Rui Luís Brás e juntos serão vilões na narrativa.
Cláudia Vieira vai interpretar uma advogada experiente da firma. “Depois fico envolvida nos casos que elas próprias fazem uma investigação e uma busca de informação e um defender uma pessoa que é culpada. Então estou completamente dentro do caso, mas não fazendo parte do grupo dos jovens da lista”, já nos tinha dito a atriz noutra entrevista recente.

Vai haver ainda personagens interpretadas por Mafalda Rodiles, Diana Marquês Guerra, Rute Miranda e Rodrigo Trindade, entre outros atores.
O tipo de série, as gravações
Júlia Palha diz que “A Lista” retrata vários temas da atualidade e compara-a precisamente com “Por Treze Razões” ou “Elite”. “Gostei muito porque é algo que nunca se fez cá. É completamente diferente e vai muito agarrar se calhar a séries que vemos lá fora como ‘Por Treze Razões’, e com o conceito de ter problemas mais reais dos jovens agarramos um bocadinho a ‘Elite’. Essas séries estão na moda e é giro ver Portugal a tentar começar fazer esse tipo de coisas”, diz-nos a atriz.
Além disso, realça, diz que neste projeto sente que as personagens são “muito reais e cruas”. “Sinto que é isso que às vezes faz falta na televisão. As personagens às vezes caem um bocadinho para bonecos. Ou para aquela coisa de ‘a minha personagem não faria isto’ e na vida real as pessoas fazem coisas inesperadas. Tem um guião forte, as pessoas mudam, debatemos muitos temas da atualidade, festas, álcool, drogas, sexo…”
“É uma escrita diferente do que estou habituado. Lembro-me de, quando li os primeiros dez episódios, de partilhar com os meus colegas que, de todos os projetos em que já estive, e que muito me orgulho de ter estado, este provavelmente era aquele que mais se aproximava daquilo que eu mais consumo enquanto espectador. E mantenho essa opinião e não podia estar mais contente por fazer parte disto”, conta Diogo Lopes. “As produções da Opto têm sido mais arrojadas, ambiciosas, com um bocadinho mais de tempo. Respira-se um bocadinho melhor, prepara-se melhor as coisas e isso fez com que eu ficasse logo entusiasmado com a possibilidade de fazer o projeto.”
“O que estou a adorar aqui é que tem uma logística diferente de uma novela. As pessoas são menos, o elenco é mais conciso. É outra vibe, outra energia”, diz Filipe Matos. “Gostava de continuar nesta linha das séries, gosto mais deste registo lento, da preparação”, conta Soraia Tavares, que viu algumas séries de advogados para a postura do seu papel.

A atriz explica que ficou satisfeita por finalmente poder interpretar uma personagem da sua idade — tem 27 anos — visto que muitas vezes tem de fazer papéis mais velhos. “Tenho de estar sempre muito mais madura e aqui sinto-me na minha idade e posso fazer as coisas à minha maneira e posso falar com o meu vocabulário, e tem um ambiente mais jovem, que é diferente.”
Laura Dutra salienta que “A Lista” retrata tendências atuais, como o uso do Tinder nas relações amorosas fugazes. “É uma série mais adolescente que mostra os factos reais da nossa vida.”
Tal como outras séries do género, “A Lista” vai incluir diversas cenas íntimas entre as personagens. “Estão bem defendidas e senti-me sempre super confortável”, diz Dutra. “Sinto-me confortável com o corpo que tenho, mas não deixa sempre de haver ali dois corpos e de estarmos a mostrar um bocado a nossa intimidade. A mim não me preocupa tanto porque a minha personagem é tão certinha, de história de amor e tudo vai ser muito romântico. Claro que vou ficar um bocadinho enervada, mas nós também estamos todos a criar intimidade, um à vontade uns com os outros, e vamos criando isso”, diz, por sua vez, Soraia Tavares.
“Acho que essas cenas se fazem sempre com algum medo, mas têm que se fazer. Claro que não é confortável, mas há sempre uma segurança e há coisas que dão para fingir”, argumenta Filipe Matos.
Quantos episódios vai ter?
Pelo que nos dizem nos estúdios da Coral Europa, as gravações de “A Lista” vão durar até dezembro. Quanto ao número de episódios, o ator Diogo Lopes fala em 70 capítulos, o que é um número que poderia dar para várias temporadas, mas a informação parece não estar ainda definida e os planos poderão ser ajustados tendo em conta o sucesso da série a partir do momento em que estrear. Além disso, se se confirmar a dimensão da produção, trata-se, de longe, do maior projeto feito até agora em exclusivo para a Opto, o que representa uma grande aposta por parte da SIC nesta série.