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“From” promete trazer de volta os mistérios de “Lost”, mas perde-se pelo caminho

A série que já leva duas temporadas na HBO Max tem os seus momentos virtuosos — e um elenco para esquecer. Leia a crítica da NiT.
Perrineau sobressai no elenco
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Jim, Tabitha, Ethan e Julie seguem tranquilamente a sua viagem de autocaravana. Os irmãos detestam-se. Os pais protestam. A normalidade é interrompida por uma árvore caída na estrada e que lhes impede a passagem. Enquanto ponderam o que fazer, dezenas de corvos aproximam-se e formam um inquietante cenário. Meia-volta e ruma-se de volta à autoestrada — ou pelo menos era isso que desejava a família Matthews.

O problema é que a estrada de onde vieram conduz apenas a um local: uma pequena povoação de ar decrépito e envelhecido. A autocaravana prossegue viagem, à procura de uma saída que não existe. O caminho aparentemente em círculo teima em levar a família sempre ao ponto de partida.

Na berma da estrada está Boyd, interpretado por Harold Perrineau — o saudoso Michael de “Lost”, que acaba por não ser o único ponto de ligação com a série de sucesso de JJ Abrams e Damon Lindelof —, o xerife da pequena vilória que mantém o suspense. Ele sabe o que está prestes a acontecer porque também ele passou pelo mesmo.

Cada um dos habitantes da povoação encontrou aquela mesma árvore caída na estrada. O primeiro sinal de que se está irremediavelmente preso neste loop que enclausura à força quem passa por esta pequena vila que é tudo menos pacata.

É na construção deste diminuto mundo de horrores que “From” parte à frente da maioria das produções que preenchem catálogos de streaming. A produção da Epix, disponível em Portugal na HBO Max, estreou em fevereiro de 2022 e tem como produtores Jack Bender e Jeff Pinkner, produtores de, já adivinhou, “Lost”.

A produção de 2004 marcou uma era na televisão e, para o bem e para o mal, continua a ser uma série de culto. Mesmo que, mais de uma década depois, ainda se debata o porquê de tantos mistérios ainda por responder. Dizer que os argumentistas perderam o fio à meada é um simpático eufemismo. E se o selo de terem estado envolvidos em “Lost” pode entusiasmar, é também uma fonte de receios que, infelizmente, parecem confirmar-se.

Bender e Pinkner sabiam disso e prontamente avisaram os potenciais fãs que, ao contrário do que aconteceu em “Lost”, o rumo de “From” está delineado desde o início. Neste caso, vai mesmo haver uma explicação e resposta preparada para todos os mistérios.

O setup deste mundo de “From” é certamente mais excitante do que o de “Lost”. Boyd sabe que todos os recém-chegados precisam de tempo para se adaptar ao choque da nova realidade: o resto da sua vida passará por aquela vila que esconde um segredo sombrio. Se durante o dia, a vida em comunidade é aparentemente normal, todos são forçados a recolher às suas casas assim que o últimos raios de sol estão visíveis. De janelas tapadas e fechadas, escondem-se dos “monstros da floresta” que à noite deambulam pelas ruas.

Não são, pelo menos à primeira vista, seres monstruosos. São figuras humanas que caminham, adotam formas amigáveis e convencem-nos a baixarmos a guarda. Basta uma janela ou porta aberta e o destino é apenas um: a morte.

O aparentemente bizarro cenário é bem delineado nos primeiros episódios, onde se destaca a interpretação de Perrineau. A antiga estrela de “Lost” está, infelizmente, muito mal acompanhado. Apesar da pouca ajuda dos diálogos, os membros da família Matthews — parte do lote de principais protagonistas — teimam em ser pouco convincentes nas suas prestações.

Perrineau, o seu ajudante Kenny (Ricky He) e o misterioso Victor (Scott McCord) são as honrosas exceções no elenco que tem sérias dificuldades em acompanhar o drama. E a narrativa parece também, pelo menos na primeira temporada, encaminhar-se para o mesmo beco sem saída de “Lost”.

A preocupação em acrescentar pequenos enigmas a cada episódio parecem distrair tudo e todos daquilo que é essencial: se temos uma boa receita, não vale a pena estragá-la com mais e mais condimentos, sob o risco de a tornar intragável. Ocasionalmente assustadora, “From” é uma boa série de género. Terá é que encontrar um novo caminho — e novas personagens — para subir de patamar e fugir ao rótulo de mais uma tentativa de emular e melhorar “Lost”.

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