Uma das séries mais aguardadas do ano, “House of the Dragon”, estreou esta segunda-feira, 22 de agosto, na HBO Max. Trata-se da prequela de “A Guerra dos Tronos”. Tem dez episódios que serão lançados a conta gotas, semanalmente, na plataforma de streaming.
A história passa-se cerca de 200 anos antes dos acontecimentos de “A Guerra dos Tronos”. Westeros é dominada pelos Targaryen, a família de cabelos loiros conhecida por ter os dragões do seu lado — o que, obviamente, sempre foi uma grande vantagem em batalha ou para manter o poder.
Antes de mais, é importante oferecer algum contexto. Após um reinado de paz e prosperidade, o rei Jaehaerys I decidiu nomear um herdeiro graças à sua frágil saúde. Ambos os seus filhos haviam morrido. Foi convocado um conselho para decidir esta questão vital. Foram recebidas 14 candidaturas de sucessão, mas só duas foram tidas em conta.
O conselho determinou que a ligação de sangue mais próxima era com Rhaenys Targaryen. Mas como se tratava de uma mulher, o conselho decidiu não a nomear como sucessora — tornando-a conhecida, inclusive, como a “rainha que nunca o foi”. Quem acabou por herdar a coroa e o trono foi Viserys Targaryen.
O enredo desenrola-se no nono ano de reinado de Viserys Targaryen. O rei está feliz porque a sua mulher está grávida, e ele tem a certeza de que se trata de um rapaz. Viserys Targaryen deseja muito um herdeiro e, após várias tentativas falhadas, está convicto de que será desta. Não equaciona sequer olhar para a sua filha Rhaenyra como possível sucessora ao trono.
Rhaenyra também não pensa nisso. Mas não é a mais convencional das mulheres. Quando a mãe grávida lhe diz que é assim que as mulheres servem a sociedade, Rhaenyra responde-lhe que preferia manusear uma espada num campo de batalha. Ela é muito amiga de Alicent Hightower, a filha da Mão do Rei, Otto Hightower.
Outra personagem fulcral nesta história é o irmão mais novo do rei, Daemon Targaryen. Implacável e errático, ambiciona um dia ser rei. Por isso, espera que o novo filho de Viserys não seja um rapaz. Neste momento é o comandante da guarda de King’s Landing e descobrimos também que não tem uma relação próxima com a mulher, herdeira da casa do Vale de Arryn. Enquanto comandante, lidera uma rusga à cidade de King’s Landing para combater os meliantes e criminosos. Ossos são partidos, membros cortados, a brutalidade está instalada.
O incidente é apenas mais um dos que levam alguns membros da corte — nomeadamente a Mão do Rei — a mostrarem a sua desaprovação pelo comportamento de Daemon. O rei, contudo, tem o instinto de defender o irmão. As coisas mudam no dia do nascimento da criança de Viserys. Enquanto se realiza um torneio de homenagem ao futuro herdeiro, a rainha está em trabalho de parto.
Tal como ela pressentia, as coisas correm mal. Chega a um ponto em que o curandeiro responsável explica ao rei que não vai conseguir salvar os dois. Por isso, a melhor hipótese é fazer uma espécie de cesariana rudimentar — sem quaisquer anestesias — para conseguir salvar o bebé. O rei não demora muito até aceitar esta hipótese. Está desesperado por ter um filho herdeiro. E também não demora muito até se deparar com o cadáver mais do que ensanguentado da mulher, numa cena brutal. O pior é que foi tudo em vão. É um rapaz, sim, mas não sobrevive mais do que algumas horas.
Naturalmente, o rei Viserys fica destroçado. Por seu lado, Daemon delicia-se com o que aconteceu e celebra a ocasião num bordel — incidente que chega aos ouvidos da corte e que acaba por mudar a perspetiva de Viserys sobre o seu perigoso irmão mais novo. Na corte discute-se então quem pode suceder ao rei. Viserys tem uma epifania e decide nomear a filha Rhaenyra como sua herdeira.
O facto de ser uma jovem mulher vai provocar uma série de fragilidades em torno do seu estatuto. Excomungado, Daemon Targaryen deixa King’s Landing com o seu dragão — e nem vai à cerimónia oficial de reconhecimento da sobrinha (com quem se dá bem) como herdeira do trono. Outro nobre da corte, Corlys Velaryon, também não parece satisfeito com a solução. Até porque é casado com a “rainha que nunca o foi”, Rhaenys, que agora deverá sentir alguma legitimidade para também ser sucessora.
Por mais que Viserys ainda seja rei, a penumbra da morte pressente-se sobre a sua figura. Tem uma ferida que teima em não cicatrizar nas costas e o status quo está ameaçado. Acima de tudo, diz que a filha tem de saber duas coisas: não acreditar no mito de que os Targaryen controlam realmente os dragões; e fazer tudo para que os Targaryen permaneçam no poder, uma vez que existe uma antiga profecia secreta que diz que é a única hipótese para enfrentar um “terrível inverno” vindo do norte (sobre o qual já sabemos tudo após termos visto “A Guerra dos Tronos”).
Portanto, o primeiro episódio de “House of the Dragon” estabelece muito bem as peças no tabuleiro de jogo. Um rei em queda nomeou uma sucessora frágil. Um irmão cruel estará disposto a tudo para ascender ao poder. E os lobbies dentro da corte também se hão-de fazer sentir e moldar as diferentes vontades e escolhas das personagens. É pura “A Guerra dos Tronos”.
“House of the Dragon” também mantém dois elementos explosivos da série original: sexo e violência. A última, inclusive, é bastante explícita e proeminente neste episódio inicial. Quanto ao enredo, a premissa parece-nos interessante, mas bastante direta e linear. Contudo, sabemos que “A Guerra dos Tronos” sempre teve a capacidade de surpreender — e mesmo de chocar, em muitos casos —, por isso aguardamos com expetativa o desenvolvimento da ação.
O mais difícil parece-nos ser mesmo a ligação com as personagens. A vibrante Rhaenyra será uma das protagonistas, mas sabemos que ainda não fomos apresentados à atriz que a irá interpretar durante a maior parte da narrativa. Já o tio Daemon parece-nos um daqueles papéis que os fãs adoram odiar. Mas as restantes personagens parecem-nos mais cinzentas, menos cativantes ou envolventes, pelo menos neste arranque de temporada. Esperamos que aos poucos se revelem.
Quanto ao resto, tudo aquilo que podíamos esperar está no ponto: a direção de fotografia, a banda sonora, a caracterização, a montagem, os efeitos especiais, enfim, está tudo irrepreensível — como não podia deixar de ser, tendo em conta a fasquia deixada por “A Guerra dos Tronos”. Esse será sempre o grande desafio de “House of the Dragon”, conseguir viver bem à sombra da série original. Esperemos que encontre a própria voz e que se torne igualmente estimulante, mas equiparar-se a uma das melhores séries de televisão de sempre vai ser difícil.
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