Foi, durante duas temporadas, a pergunta que ecoou por todo o lado: “Quem Matou Laura Palmer?”. Nas últimas três décadas, a pergunta tornou-se sinónimo de uma das séries mais famosas de sempre. Agora, há oportunidade de descobrir tudo no mesmo espaço. A HBO Portugal passa a contar, a partir desta quarta-feira, 18 de novembro, com o catálogo de “Twin Peaks”.
Para que se perceba: estão disponíveis as duas primeiras de temporadas, de 1990 e 1991, mas também a terceira, de 2017, num regresso há muito esperado.
O universo criado por David Lynch e Mark Frost tornou-se um inesperado sucesso de audiências e da crítica. Estávamos em 1990 e é seguro dizer que, em televisão, nunca se tinha visto nada assim. Havia figuras bizarras e um mistério que se adensava. O corpo de Laura Palmer, a rapariga mais popular da pacata cidade de Twin Peaks, é encontrado enrolado em plástico junto ao rio. Uma cidade, um crime. Aparentemente, claro.
Como tudo aponta para que não tenha sido a primeira vítima do assassino, o FBI envia o agente Dale Cooper (Kyle MacLachlan) para resolver o caso. É assim que o espectador se vai cruzando com um leque impressionante de figuras,. Algumas trágicas, algumas só caricatas. São todos de Twin Peaks e têm todos algo a dizer sobre o caso — ou Laura Palmer.
A série conseguia ao mesmo tempo combinar mistério e brincar com as convenções de novelas. Tinha momentos tensos e sonhos invulgares. Havia ali uma ponderada mistura entre ter algo de familiar e ao mesmo tempo único. Ainda estávamos longe da era dourada da televisão mas naquela pequena cidade ficava provado que a televisão podia ir mais longe.
Curiosamente, a história de “Twin Peaks”, a série, dava ela própria uma história. Foi do sucesso à queda, tornou-se obra de culto e motivo de nostalgia, valeu despedida amarga e regressou muitos anos depois à procura de alguma reconciliação com os fãs. Houve de tudo.
A primeira temporada teve audiências que chegavam a tocar os 20 milhões de espectadores por episódio. O mistério atraía público, a crítica elogiava e os prémios, dos Emmmy aos Globos de Ouro, vieram pouco depois. David Lynch conseguira algo especial.
A segunda temporada foi uma montanha-russa. O eclodir da Guerra do Iraque (a primeira de duas guerras dos EUA no país) mudou o horário durante algumas semanas. A cadeia televisiva ABC fez pressão para que se revelasse a identidade do assassino, ao mesmo tempo que se intrometeu noutros detalhes da história.
Lynch não gostou, esteve com um pé fora da série, acabou por regressar para dar alguma coesão ao que faltava da segunda temporada, mas nessa altura já as audiências haviam caído brutalmente, com espectadores perdidos entre horários confusos, tempo de espera e algum desinteresse por um universo que ia ficando mais obscuro.
O culto pedia mais, mas as circunstâncias mudaram rapidamente. Perante a ira dos fãs, foi dada luz verde a novo projeto, o filme “Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer”, que saiu no ano imediatamente a seguir à série.
A reação dos fãs e da crítica foi mista. Os anos 90 continuaram o seu caminho, na década seguinte iríamos conhecer projetos como “Os Sopranos” e “The Wire”, que se tornaram símbolos de uma nova era da televisão. Mas “Twin Peaks” ficou sempre com um lugar guardado, para qualquer conversa sobre séries de televisão. Mesmo com as suas fraquezas, esteve à frente do seu tempo e nunca deixou de ter um lugar de destaque na carreira do influente David Lynch.
Em 2017, porém, “Twin Peaks” teve nova oportunidade, com o regresso de Lynch, de boa parte do elenco e, acima de tudo, da pequena cidade. Foi uma terceira temporada que chegou também com esse difícil de reconciliação com os fãs que há muito esperavam algo mais daquele universo. E ele aí está.
Os 48 episódios, distribuídos pelas três temporadas de “Twin Peaks”, estão agora no catálogo da HBO Portugal.