Muita coisa mudou desde 1994, ano em que estreava aquela que viria a ser uma das séries mais aclamadas de sempre: “Friends”, claro. Jennifer Aniston é uma estrela de comédia já há quase 30 anos, desde o momento em que interpretou a personagem de Rachel, até ao seu mais recente filme da Netflix “Murder Mystery 2”, o que significa que tem acompanhado na primeira fila a mudança ao longo de três décadas. À agência de notícias “AFP”, a atriz disse que a “comédia evoluiu” tanto que, hoje em dia, não é nada fácil ser engraçado.
“Agora é um pouco complicado porque temos de ter muito cuidado, o que torna difícil para os comediantes, porque a beleza da comédia é brincarmos com nós mesmos, com a vida”, disse Aniston. Enquanto que no passado se podia brincar com tudo e até “educar as pessoas sobre como eram ridículas”, agora, a atriz consider que já “não temos permissão para fazer isso”.
“Há toda uma geração de pessoas, miúdos que agora estão a ver os episódios de ‘Friends’ e os consideram ofensivos”, acrescentou a norte-americana de 54 anos. “Houve coisas que nunca foram intencionais e outras…bem, deveríamos ter pensado melhor nelas. Mas penso que nunca houve tanta sensibilidade como há agora.”
Aniston também acredita que o mundo seria um lugar muito mais triste sem humor. “Todas as pessoas precisam de piadas. O mundo precisa de humor. Não podemos levar-nos muito a sério”, disse.
A série, que terminou em 2004, tem uma legião de fãs que continua crescer com passar dos anos. Não obstante o sucesso estrondoso, nos últimos tempos, “Friends” tem sido alvo de críticas, não só pelas piadas consideradas transfóbicas e sexistas, mas também pela falta de diversidade do elenco, que raramente teve atores de cor ou de outras nacionalidades em papéis relevantes. Muitas pessoas questionaram como era possível que uma narrativa que tinha Nova Iorque como cenário se desenrolasse num contexto predominantemente branco.
Em entrevista ao “Los Angeles Times”, Marta Krauffman, uma das criadoras da produção, confessou ter sido “complicado e frustrante” lidar com estes comentários negativos, que inicialmente considerou “injustos”, quando surgiram. A morte de George Floyd, contudo, deu-lhe uma nova perspetiva. Em 2020, Floyd morreu estrangulado pelo polícia Derek Chauvin, dando origem ao movimento #BlackLivesMatter.
“Depois do que aconteceu com George Floyd comecei a lutar com o facto de ter internalizado o racismo sistémico de forma insconsciente”, disse Kauffman. “Esse foi, realmente, o momento em que comecei a examinar de que maneira tinha contribuído para a su manutenção.”
E acrescentou: “Aprendi muito nos últimos 20 anos. Admitir e aceitar a culpa não é fácil. É doloroso vermo-nos ao espelho. Estou embaraçada porque há 25 anos não sabia o que entretanto aprendi.”
Numa tentativa de se desculpar por essa alegada falta de conhecimento, Krauffman revelou à mesma publicação ter feito uma doação de quatro milhões de dólares (cerca de 3,93 milhões de euros) para criar uma disciplina com o seu nome no Departamento de Estudos Africanos e Afro-Americanos da Universidade Brandeis.