Durante três meses, o chef Ljubomir Stanisic, o músico Paulo Furtado — mais conhecido como The Legendary Tigerman — e o especialista em vinhos Nuno Faria partiram numa aventura de caravana por vários locais de Portugal. Com uma equipa de técnicos amigos (entre eles a mulher de Stanisic, Mónica Franco, que foi uma peça fundamental do projeto), provaram os produtos regionais, os vinhos e a música local de Colares, Coa, Pico, Gardunha, Montemor-o-Novo e da região do rio Guadiana.
O resultado chegou esta sexta-feira, 1 de julho, à Opto, a plataforma de streaming da SIC. Ao todo, são seis episódios — o primeiro já se encontra disponível. A NiT falou com o chef sobre o projeto televisivo.
Este novo programa foi uma ideia que partiu de si ou foi um convite da Opto? Como é que funcionou?
Foi um projeto que já tínhamos proposto logo quando assinei o contrato com a SIC. Queríamos fazer dois projetos fora dos domingos, e dos shares e o caraças. Queríamos um projeto que fosse uma continuidade de um trabalho de amor — meu e da Mónica Franco — que começámos com o “Papa-Quilómetros”. Ficou o “Pela Estrada Fora”, um projeto um pouco modificado, com amigos, operadores de câmara e som que são praticamente família. Toda a gente de quem gostamos ajudou-nos a fazer aquilo.
Como é que essas mudanças se refletem no programa? Quais são as grandes diferenças em relação ao “Papa-Quilómetros”?
A primeira experiência é que eu e a minha mulher aventurámo-nos e abrimos uma produtora. Fizemos nós praticamente tudo. Foi uma tareia gigantesca — e ainda está a ser, porque estamos a editar os programas. Mas a experiência foi espetacular. Obviamente conheço muito bem a televisão, a minha mulher também mas atrás das câmaras que ela é que escreve os conteúdos desde sempre, mas foi muito positivo. Conseguimos unir os fatores principais de um trabalho: profissionalismo, amor e amigos. Acho que, com esses fatores, resulta sempre. Quando não tens pressão em cima de ti para fazeres um programa de share, para fazeres uma coisa com guião ao milímetro… Orgulho-me muito de trabalhar sempre com a minha mulher — e o reflexo disso é “Pela Estrada Fora”. Estou extremamente orgulhoso do projeto.
É um projeto caseiro, no bom sentido.
Identifico-me muito. Somos fãs de viagens, beber bom vinho, comer bem, cozinhar bem, falar com várias pessoas, ouvir boa música. É aquilo que nós vivemos e conseguimos pôr isso numa tela. Não é trabalho por trabalho, de obrigação, é pelo coração e pelo amor.
Como é que foi a dinâmica com o Paulo Furtado e o Nuno Faria por essa estrada fora?
Estamos a falar de dois dos meus melhores amigos, que são uns idiotas extremos. O que mais resultou é que só deu merda: humor, riso, boa disposição, boa música, o Nuno sempre com bom vinho à nossa volta. Cada um é de uma área, não é? Eu da cozinha, o Paulo da música e o Nuno dos vinhos. A mistura disto tudo é um bacanal autêntico de prazer — e conseguimos transmitir isso para todas as pessoas. Foi fluido e natural, sem obrigações, e com bom humor à mistura. O Paulo Furtado revelou-se um comediante autêntico, porque ele é o homem mais tímido que conheço à face da terra, mas, quando sobe a um palco, vira um tigre. É aquilo que ele é. E no programa tem esse misto: não é bem um palco, mas apresenta-se como um tímido avariado da pipoca e um músico extremo, para mim um dos melhores músicos de sempre. Ele fez a banda sonora de todo o programa, tocou em todos os episódios. Fomos descobrir muitos outros músicos, bandas tradicionais, adufeiras das aldeias, os Bandua, muita coisa boa.
Como é que escolheram os locais para cada episódio?
Confiámos numa pessoa que viajou mais do que nós todos juntos, a Mónica, e tentámos não repetir nenhum sítio dos que fomos com o “Papa-Quilómetros”. Fomos através das pessoas e dos seus projetos, para também mostrar um lado de Portugal que as pessoas não conhecem. Mostrar o rio Guadiana, que tem pouca população mas que tem a alcunha de “Guadiana glue”, porque as pessoas se apaixonam e ficam coladas. Fomos descobrir o que há lá, quais são os caranguejos, quem canta e toca lá… Os destinos foram escolhidos a dedo e muito bem.
Em termos de gastronomia, o que é que o surpreendeu mais? Houve alguma coisa que não conhecesse tanto mas que teve agora a oportunidade de provar?
Descobri muita coisa, e também fui à procura disso mesmo. O que muito me surpreendeu foram as filosofias e cultura das pessoas, o Feito no Zambujal, dos enchidos, que provavelmente fazem dos melhores presuntos de Portugal — são dois irmãos maravilhosos. O Alfredo Cunhal, que é um historiador e que até me arrepio a falar dele. É uma pessoa pela qual me apaixonei, vou estagiar agora com ele no próximo mês na Herdade do Freixo do Meio para aprender mais sobre a filosofia e cultura dele. Foi este lado de conhecer os produtores e os seus produtos.
O programa consiste, no fundo, em cada um de vocês a puxar os outros para o respetivo universo — e é a mistura disso tudo.
Exatamente. Todos gostam de comer bem, ouvir música e beber. Por isso não foi nada difícil [risos]. Acho que foi a receita perfeita.
Deixou-vos com vontade de fazer mais?
É o que mais gostei de fazer em televisão, sinceramente.
Também abriram a produtora para fazerem as coisas à vossa maneira.
Não é a melhor maneira porque não sabemos fazer dinheiro, só sabemos perdê-lo [risos]. Mas fizemos pelo prazer e amor, e nisto o que menos interessa é a parte económica. Foi a primeira vez e enterrámo-nos completamente neste programa. Mas foi gratificante e ganhámos muito com as pessoas.