Os mitos e lendas portuguesas são um manancial ainda pouco explorado. São narrativas que fazem parte do nosso imaginário coletivo, ajudaram a moldar a nossa visão do País e continuam a ter um impacto relevante nas rotinas de muitas comunidades e regiões. “Lusitânia”, a série de época que aborda algumas destas histórias, estreia esta segunda-feira, 13 de novembro, às 21 horas, na RTP1.
A produção, no formato de antologia, tem seis episódios. O primeiro, “Inês Negra” é baseado num episódio ocorrido durante o cerco de Melgaço, feito por D. João I. O seguinte, “A Aposta com o Diabo”, é uma comédia inspirada na lenda da Ponte-da-Aliviada, de Marco de Canaveses, onde se diz que o Diabo criou uma passagem para fazer a vida negra aos aldeões.
“Cidade Perdida” remete para a história dos “Três Sapinhos”, da freguesia de Eiriz, em Paços de Ferreira. “Boi Vermelho” é sobre um bruxo que escondeu um tesouro na Fonte de São João, em Algoso.
“A Lenda da Serpente” é baseada no conto tradicional “Couber Briga” sobre uma cobra gigante que terá caído ao Rio Mondego. “Criança Lobo”, o último episódio, é influenciado por uma lenda da aldeia de Darque, sobre um miúdo que se transforma em lobo nas noites de lua cheia.
A série foi realizada por Frederico Serra, que já tinha explorado o imaginário tradicional português em filmes como “Coisa Ruim” (2006). Realizada a meias com Tiago Guedes, é considerada a primeira longa-metragem de terror feita em Portugal.
“Os primeiros argumentos de ‘Lusitânia’’ foram apresentados pelo Nuno Soler à Andreia Nunes, produtora da Take it Easy, na altura”, revela o cineasta à NiT. “Quando os lemos, gostámos muito da estrutura e dos contos. Dissemos ao Nuno que precisávamos de mais dois ou três para tentar fazer negócio com a RTP”, descreve.
Uns meses depois, o argumentista surgiu com mais três histórias. Após analisar os trabalhos que tinha em mãos, Frederico decidiu abraçar o projeto. “Eram contos que seriam impossíveis de filmar com o tipo de financiamentos existentes. Teria de haver muito pragmatismo e flexibilidade na maneira de realizar”, considera.
As lendas serviram apenas como ponto de partida para escrita dos episódios, sofrendo alterações profundas até culminarem em lendas inventadas pelo próprio Nuno Soler. Algumas das mudanças introduzidas refletem a vontade de alargar a representatividade feminina, de atores negros e também da comunidade LGBTQ+.
“Há cerca de três anos, quando começámos trabalhar nos episódios, as questões da inclusão estavam num patamar muito diferente daquele onde estão agora”, realça o cineasta. “Se estivéssemos a começar agora, provavelmente ainda iríamos mais fundo. Trabalhar de maneira a combater a discriminação, seja ela qual for, é uma questão importante para nós”, afirma.
“Todos os episódios abordam estes temas, seja de forma clara ou subentendida. Isso deve-se, obviamente, ao grande trabalho de criação das histórias e dos personagens do Nuno Soler. Não tornámos os contos mais atuais de forma assim tão consciente. Até porque na forma como estão escritos já havia esse objetivo”, revela.
Frederico considera interessante explorar estas lendas nacionais como uma fonte de inspiração e considera que este “reportório mitológico de Portugal” ainda tem muito material para transformar em arte e analisar.
“Ainda há um manancial por trabalhar. O nosso País ainda vive sob o peso do catolicismo, e das noções de culpa e pecado. Há crenças muito enraizadas na nossa população e muito por explorar. Principalmente quando se sai dos grandes centros urbanos ainda se sente o misticismo latente” recorda.
“Lusitânea” estreia esta segunda-feira, 13 de outubro, na RTP1, às 21 horas. O elenco conta com nomes como Madalena Aragão, Vicente Gil (os dois protagonistas da nova temporada dos Morangos com Açúcar), Julia Palha ou Joana Ribeiro.
Carregue na galeria para conhecer as séries que chegam à televisão em novembro.