“Olá moranguinhos, bem-vindos ao Colégio da Barra. Aqui ou és influencer ou és invisível”. Podia ser a voz off da série “Gossip Girl”, mas como essa já estreou em 2007, era chato usar o mesmo nome. Portanto chamaram-lhe “Morangos com Açúcar”. Aqui a narradora não tem um blogue porque isso é “tipo super anos 2000”, mas tem um podcast chamado precisamente “Morangos com Açúcar”. É aí que Kika (Beatriz Frazão) comenta tudo o que se passa no colégio e revela muitos dos segredos, quer de alunos como de professores. Kika é portanto uma porteira 2.0 e ao contrário da gossip girl, deve ter um ótimo advogado porque não se importa nada em revelar a sua identidade.
O reboot de “Morangos com Açúcar” na TVI, como não podia deixar de ser, aborda assuntos importantes da atualidade — poliamor, cyberbullying ou padel. Cyberbullying que, de resto, é uma temática que foi muito bem explicada às velhotas que estavam à espera de àquela hora ver mais um episódio de “Festa é Festa” e saiu-lhes uma morangada. Como esclarece Kika: “Basta um story maldoso e a tua vida pode mudar”. Claro que a D. Arminda de Corroios não faz ideia do que é um story e deve ter ficado a pensar que é uma doença que se apanha nos trópicos porque o sogro da sua filha esteve no Ultramar e também veio de lá meio avariado — e aquilo realmente mudou-lhes a vida para pior.
Ora havendo cyberbullying, ou qualquer outra vertente de bullying, mais ou menos tecnológica, tem de haver quem o pratique. Esse papel pertence, claro, ao grupo das giras, boas e populares, que normalmente nestas histórias são sempre umas valentes cabras. É o caso de Gabi (Margarida Corceiro), que segundo ouvi no blogue da Kika é a “rainha do colégio e tem duas escravas” que fazem tudo o que ela manda. Portanto, monarquia e escravatura logo assim à arrancar, duas temáticas que nos vêm imediatamente à cabeça quando pensamos na geração Z. Emergência climática, diversidade e inclusão, saúde mental, tudo causas muito importantes, sim senhor, desde que as minhas escravas transportem os cartazes enquanto me levam à boca um batido de açaí.
Gabi namora com Miguel (Vicente Gil) que é surfista, óbvio, e que vai apaixonar-se pela Olívia (Madalena Aragão) que é a miúda pobre e rebelde. Já vimos esta ideia em todos os filmes e séries de liceu da história da Humanidade? Já sim, senhor. Alguém se importa com isso? Aparentemente não. Mas nem tudo é clichê nesta nova versão de “Morangos com Açúcar”. Isto porque por exemplo no que toca ao elenco há uma professora (Fernanda Serrano) que quando entra na sala é aplaudida e recebida com alegria pelos alunos. Tudo bem que é uma série de ficção mas aqui acho que foram longe demais. Uma docente, em Portugal, que se sente valorizada no seu local de trabalho? Só mesmo numa novela.
Um dos grandes trunfos desta versão renovada dos “Morangos” é o regresso de algumas das personagens mais marcantes da série, como é o caso de Soraia (Rita Pereira) que aparentemente conseguiu fugir à polícia e agora é uma empenhada presidente da Associação de Pais e também o Crómio (Tiago Castro) que mantendo o look nerd, tem alguma dificuldade em impor a sua autoridade como diretor do Colégio da Barra. Outro dos clássicos é Simão (Pedro Teixeira) que apesar de há 20 anos estar a estudar mecânica, enveredou pela medicina e agora é médico e diretor de uma clínica privada. Para desilusão dos fãs não é casado com Ana Luisa, já que esta a dada altura apaixonou-se pelo professor Sapinho e fugiu com ele para as Maldivas.
Em contraste com anteriores temporadas esta tem como principal desporto escolar o padel, uma modalidade que está para o desporto como o coaching está para a psicologia: ninguém sabe muito bem o que é, mas todos temos um amigo que diz que adora praticar. Neste caso, não tinha sido mal pensado dar umas aulas aos atores só para não termos de assistir a um momento penoso em que parecia que estavam a tentar matar moscas com aqueles raquetes elétricas que se vendem na loja dos chineses.
Outro dos grandes regressos foi o concerto dos D’Zrt na festa de 20 anos do Colégio, que surge no primeiro episódio da série. Apesar de já não irem para novos — porque o tempo passa por todos —, Paulo Vintém, Cifrão e Edmundo Vieira ainda conseguiram pôr a miudagem toda aos pulos, ao som do hit “Verão Azul”, um tema que, convenhamos, nenhum destes jovens teria na sua playlist do Spotify, mas ainda assim foi bonito de se ver.
Entretanto, no ecrã gigante da festa alguém projeta um vídeo que gela a sala e causa enorme espanto e consternação. Por momentos pensei que seria o novo videoclipe da Maria Leal, mas afinal não, era uma jovem a despir-se de forma sensual, sem saber que alguém a estava a filmar. É muito chato e está errado, mas podia ser pior, como por exemplo aquelas imagens assustadoras da Gabi e das suas escravas a jogar Padel. Tudo menos isso.
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