Em 2021, Gabby Petito, de 22 anos, desapareceu enquanto viajava pelo país com Brian Laundrie, o noivo. O que começou como uma simples busca por uma jovem desaparecida rapidamente se transformou num dos casos criminais mais seguidos dos últimos tempos, expôs falhas nas investigações e desencadeou debates sobre violência doméstica. Assim começou a caça ao culpado que terminou de forma igualmente trágica. Esta segunda-feira, 17 de fevereiro, estreou na Netflix “Homicídio nos EUA: Gabby Petito”, uma série documental de três episódios que volta a colocar o caso no centro das atenções.
Gabrielle Petito era uma jovem aventureira e juntamente com Brian Laundrie, decidiu embarcar numa viagem de autocaravana pelos parques nacionais dos Estados Unidos. Uma aventura sempre documentada através das redes sociais. Nas fotos e vídeos publicados, o casal parecia feliz enquanto vivia uma experiência idílica na estrada. O que se descobriu depois é que por detrás das imagens perfeitas escondia-se uma realidade bem diferente.
O primeiro sinal de que algo estava errado surgiu a 12 de agosto de 2021, quando a polícia de Moab, no estado do Utah, foi chamada para intervir numa discussão entre o casal. Um homem alertou as autoridades ao testemunhar Brian a agredir Gabby na rua. Quando os agentes chegaram, encontraram Gabby em lágrimas, visivelmente abalada.
O relatório policial afirmou que a jovem assumiu a culpa pela discussão e minimizou os atos do noivo. No vídeo da câmara corporal de um dos polícias, a jovem pode ser vista a chorar e visivelmente ansiosa. “Estou a passar por momentos muitos difíceis”, disse a própria nas imagens. Os agentes separaram o casal por uma noite, mas não houve detenções nem acusações.
O casal continuou a sua viagem e, nos dias seguintes, Gabby foi vista em vários locais. Subitamente, deixou de responder a mensagens e chamadas da sua família. A última vez que a mãe de Gabby, Nichole Schmidt, falou com a filha foi a 25 de agosto. Depois desse dia, todas as mensagens recebidas pareciam suspeitas. “No fundo, sabia que algo estava errado”, disse Nichole numa entrevista à “NBC News”. “As mensagens não pareciam dela.”
A 1 de setembro, Brian Laundrie regressou sozinho a casa dos seus pais, na Flórida. Estava a conduzir a autocaravana da noiva, mas não deu nenhuma explicação sobre onde ela estava. Durante dias, recusou-se a falar com a polícia e contratou um advogado. A família de Gabby, desesperada por respostas, reportou o seu desaparecimento a 11 de setembro.
As autoridades iniciaram buscas intensivas, analisando os últimos passos do casal. A 19 de setembro, um corpo foi encontrado no Parque Nacional Grand Teton, no Wyoming. A autópsia confirmou que era Gabby Petito e que a causa da morte foi homicídio por estrangulamento. O exame forense estimou que já estaria morta há cerca de três semanas.
Enquanto a investigação avançava, os olhos do mundo voltavam-se para Brian Laundrie, que desapareceu dias depois de a polícia ter sido chamada a interrogá-lo. Os pais disseram que ele saiu de casa a 14 de setembro para uma caminhada numa reserva natural e nunca mais voltou. As autoridades lançaram uma busca nacional, mas Brian parecia ter desaparecido sem deixar rasto.
O mistério sobre o seu paradeiro terminou a 20 de outubro, quando os seus restos mortais foram encontrados numa área de floresta na Reserva de Carlton, na Florida. Junto ao corpo, havia uma mochila e um caderno onde, segundo as autoridades, Brian confessava o assassinato de Gabby. “Ele assumiu a responsabilidade pela morte dela”, afirmou o FBI num comunicado oficial.
O caso Gabby Petito suscitou um enorme debate sobre violência doméstica e a forma como a sociedade trata casos deste género. Muitos argumentam que Gabby foi vítima de um ciclo de abuso emocional e físico que culminou na sua morte. “Este caso não é apenas sobre Gabby. É sobre todas as mulheres que sofrem violência e cujas vozes não são ouvidas”, afirmou a mãe da vítima numa conferência de imprensa.
Além disso, a cobertura mediática do caso levantou questões sobre o conceito de “missing white woman syndrome” (“síndrome da mulher branca desaparecida”, em português), um termo usado para descrever a atenção desproporcional dada pela imprensa a casos de mulheres brancas desaparecidas em comparação com mulheres de outras etnias. A família de Gabby reconheceu este problema e criou a Fundação Gabby Petito, destinada a ajudar famílias de pessoas desaparecidas de todas as origens.
A estreia da série documental na Netflix promete reavivar o interesse no caso e trazer novas perspetivas porque inclui entrevistas com investigadores e especialistas em violência doméstica. Um dos pontos mais impactantes do documentário é a análise das imagens da polícia de Moab e a discussão sobre como o caso poderia ter tido um desfecho diferente se as autoridades tivessem agido de outra forma. “Se pudermos salvar apenas uma vida através do que aconteceu com Gabby, então ela não morreu em vão”, disse seu pai, Joseph Petito, numa entrevista à “ABC News”.
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