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No princípio do fim, “Succession” mantém a fasquia alta e põe as peças no tabuleiro

A série da HBO, uma das melhores dos últimos anos, está de volta para a última temporada. Os três filhos continuam em guerra com o pai.
A nova temporada de "Succession" já estreou.

“Succession” está de volta para a quarta e última temporada. Para todos os fãs que ficaram quase um ano e meio sem novos episódios, poderá demorar alguns minutos até entrarem no ritmo algo frenético desta magnífica série da HBO. O primeiro episódio — que se estreou em Portugal esta segunda-feira, 27 de março — não perde tempo a recomeçar a história, que parece arrancar três meses após o final da terceira temporada.

Os irmãos Kendall, Shiv e Roman mantêm-se surpreendentemente unidos — embora não acreditemos que a aliança inédita vá durar até ao fim — e prestes a lançar um novo projeto na área dos media. Parecem tentar convencer-se uns aos outros de que aquilo pode alavancar o seu poderio económico e rivalizar com o pai, Logan, de quem se distanciaram. Mas, de repente, Tom acaba por passar a Shiv a informação de que Logan se prepara para adquirir outra grande empresa do setor, a Pierce.

É assim que os três irmãos sobem a fasquia, esquecem todo o trabalho que fizeram nos últimos meses em torno do novo projeto, e dão o tudo por tudo para ficarem com a Pierce — a sua única motivação, claro, é vingarem-se do pai. É esta aquisição que está no centro do primeiro episódio e que vai demonstrar a dinâmica atual entre o patriarca dos Roy e os três principais filhos (desculpa, Connor).

Enquanto os irmãos planeiam o seu próximo movimento numa mansão soalheira na Califórnia — e depois viajam para se encontrarem com a família Pierce — Logan celebra, desconsolado, o seu aniversário numa Nova Iorque cinzenta. Está em sua casa, rodeado de pessoas que não respeita e por quem não tem consideração, em fatos ricos mas velhos. É o símbolo de uma elite financeira desgastada, prestes a inevitavelmente ser substituída por uma nova geração. Pelo menos é nisso que os irmãos Roy estão a apostar.

Logan está visivelmente frustrado — os filhos nem lhe ligaram a desejar os parabéns — e acaba por deixar a casa com o seu guarda-costas Colin para irem jantar a um restaurante banal, para o cidadão comum. Logan está tão em baixo que acaba por dizer a Colin, aparentemente de forma sincera, que ele é o seu melhor amigo. Colin está deliciosamente constrangido e, pela primeira vez, deixa o seu olhar natural de predador para se tornar humano, quando se abre ao patrão sobre a sua família — para ser imediatamente interrompido por Logan, claro.

Na casa de Logan, “os irmãos asquerosos” — vulgo, Greg e Tom — divertem-se como podem. Greg levou uma namorada para o aniversário de Logan (o que faz com que seja repreendido de forma veemente por Kerry), e o comportamento “vulgar” desta mulher vai fazer com que Tom ridicularize, como habitual, o primo da família, que se descreve quase como um “filho honorário” do patriarca.

Tom, porém, está longe do seu estado de espírito padrão, quando jorrava confiança e até alguma bazófia. Depois da traição no final da terceira temporada, a relação de Tom e Shiv nunca mais foi a mesma. Aliás, decidiram separar-se temporariamente, e essa separação só vai consolidar-se cada vez mais à medida que o episódio avançar. Tom ainda tenta reforçar a sua posição junto de Logan, caso o divórcio com Shiv seja inevitável, mas não sai assim tão reconfortado quanto parece. No combate pela aquisição da Pierce, a fação Logan claramente fica a perder. E no final do episódio, quando Tom e Shiv se reencontram em casa, existe um momento de ternura e temos acesso a um lado mais vulnerável e humano de ambos, mesmo que a separação esteja iminente.

Como sempre, “Succession” é um jogo de xadrez ultra complexo em que cada nuance, cada detalhe, a forma como cada palavra é pronunciada, parece moldar as relações entre personagens e a forma como a ação se vai desenrolar. Todos os elementos que tornaram esta numa das melhores séries dos últimos anos — os diálogos hilariantes, as interpretações sublimes, os movimentos de câmara que enaltecem tudo o que está a acontecer — mantém-se neste primeiro episódio, o que só contribui para reforçar a consistência desta produção. 

Este foi um episódio para estabelecer as peças no tabuleiro, como é normal por ser um início de temporada, e para redirecionar certas linhas narrativas que só irão atingir o seu clímax mais à frente. Até ao final da série, temos a certeza de que haverá inúmeras reviravoltas e é completamente inútil tentar adivinhar quem se irá alinhar com quem, ou quem irá permanecer no poder — se é que alguém vai ficar — quando o pano cair. Desde que mantenha as regras que criou para o seu próprio jogo, “Succession” não irá desiludir.

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