Televisão

Nova novela da SIC podia ser uma versão de “A Cabritinha” de Quim Barreiros

O humorista Miguel Lambertini tirou o dia de folga para assistir ao episódio de estreia de "Papel Principal".
Estreou esta segunda-feira, 25 de setembro.

De há uns tempos para cá as novelas passaram a ter o nome de músicas típicas de karaoke, já repararam? “Dei-te quase tudo”, “Sangue Oculto” ou o clássico “Oooooooolhos de águaaaaaa”, são apenas alguns exemplos de músicas que inspiraram títulos de novelas. Embora eu desconfie que a influência na criatividade não se resuma apenas ao título.

Antigamente, os autores escreviam uma história e davam-lhe um título. Agora, dá-me ideia que alguém vai ao arquivo do site Kantatu.com, escolhe uma música e pede aos argumentistas para escreverem uma novela com base na letra. Por mim, tudo bem, fico só a aguardar com entusiasmo a estreia de “A Cabritinha”, baseada no clássico tema de Quim Barreiros. Uma telenovela que narra a trágica história de Amílcar, um menino abandonado à nascença pela mãe que não tinha leite para o amamentar e que por isso foi criado como um bezerro enjeitado, num pobre curral em Papo-da-Velha.

Com o passar dos anos Amílcar torna-se um empresário de sucesso e ao vê-lo na televisão, a sua mãe regressa à terra para tentar uma reconciliação. Para se aproximar, Anabela aceita um emprego como criada na herdade de Amílcar, sabendo que o filho não iria reconhecê-la. Mas o que Anabela não contava é que uma pessoa iria descobrir o seu segredo e fazer de tudo para impedir o reencontro entre mãe e filho. Essa pessoa é a sua nora Pureza Paes de Castro, uma mulher fria e calculista, de uma família aristocrática, a que todos chamam carinhosamente …“A Cabritinha”.

Eu via isto tranquilamente, mas enquanto não avança, tenho de contentar-me com “Papel Principal” a nova novela da SIC que estreou esta segunda-feira, 25 de setembro, e conta a história de uma atriz de sucesso e da sua rival, que fará de tudo para lhe roubar a carreira. Vi o primeiro episódio e apesar de ninguém ter pedido, aqui ficam as minhas primeiras impressões.

A novela começa com um flashback de 10 anos, num casting para uma série juvenil estilo “Morangos Com Açúcar”. A jovem Aurora (Carolina Carvalho) foi inscrita pela mãe Irene (Mafalda Vilhena) que é bastante ressabiada e apesar de ter feito de tudo para que a filha tivesse sucesso, sente inveja. Irene é um amor: despede costureiras velhotas, maltrata estagiárias e faz bullying emocional com a filha sempre que pode com tiradas passivo-agressivas como “Não podes comer muito porque não há protagonistas balofos, pois não?” ou “Sorri, que os diretores de casting querem raparigas bonitas, não querem trambolhos”. Voltem pais do pequeno Saúl, estão perdoados.

O casting corre relativamente bem a Aurora, mas ainda melhor a outra miúda, a Lúcia (Margarida Vila-Nova). Ao contrário de Aurora, Lúcia cresceu numa família pobre e nunca teve nada além do sonho de representar. Criada por uma mãe negligente, num bairro problemático onde todos falam como se fossem o Jorge Jesus, viu nesta audição uma oportunidade de fugir a uma vida difícil. Ao perceber que a decisão estava entre a sua filha e esta tal de Lúcia, Irene não se coíbe de ir falar com o diretor de casting, um antigo conhecido (e ex-amante) chantageando-o para influenciar a escolha.

Com medo de vir a ser acusado de rebarbadão que exercia o seu poder para ir para a cama com jovens atrizes, o diretor de casting aceita escolher Aurora em detrimento de Lúcia. Uma decisão que muda por completo a vida desta pequena chunga. Lúcia, que não é nenhuma parva, ouviu a conversa de Irene com o diretor de casting e depois da decisão foi confrontar a mulher à saída do casting. Irene, que é uma rata velha, também não está para levar desaforos para casa, e após ter sido ameaçada empurra Lúcia contra uns caixotes de lixo.

Ao levantar-se, a jovem é atropelada e fica manca de uma perna, o que acaba por deitar por terra os seus sonhos como atriz. Entretanto, Aurora torna-se um sucesso de audiências e a carreira da rapariga floresce, fazendo dela uma das atrizes de maior sucesso do panorama atual, estando inclusive prestes a estrear um musical, no Teatro Paraíso, recém-comprado por ela e pela família.

Já Lúcia, por seu lado, acabou por levar uma vida à margem da lei e faz assaltos com o melhor amigo, também ele um mitra do mesmo bairro. O problema é que Lúcia ficou traumatizada desde o episódio do casting e por isso sempre que vê um cartaz com a foto de Aurora ou uma imagem a passar na TV fica possessa e começa com o lábio superior a tremer, estilo vilão de um filme do James Bond.

Ao assistir a mais um sucesso da mulher que lhe roubou o futuro, Lúcia sente que está num caminho sem retorno e, movida pelo ódio que lhe tem, decide que chegou a altura de se vingar: se ela não tem futuro, Aurora e a mãe também não o terão. Será que Lúcia vai conseguir levar o seu plano adiante? Quase de certeza, a não ser que, entretanto, apareça na história uma mulher fria e calculista, de uma família aristocrática, para lhe estragar os planos. Uma mulher a quem todos chamam carinhosamente de…“A Cabritinha”.

ÚLTIMOS ARTIGOS DA NiT

AGENDA NiT