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“O Amor Acontece” atirou Rodrigo Santoro para a fama — mas não lhe deu um final feliz

Quase 20 anos depois, é ainda o maior marco na carreira do ator. Os fãs ainda choram o desfecho da história para o seu Karl.
E ninguém dá um final feliz a esta história?

Quando os rumores da sequela de “O Amor Acontece” começaram a materializar-se, os corações dos fãs pararam. Chegara finalmente o momento de revisitar cada uma das personagens que fizeram do filme uma das mais vistas comédias românticas de sempre.

Na verdade, a maioria de nós esperava que os criadores do filme emendassem um dos desfechos mais tristes do filme: aquele que termina com um “Feliz Natal” a soar a “até sempre” e que destruiu todas as esperanças de vermos um casal formado por Laura Linney e Rodrigo Santoro, neste caso Sarah e Karl. Infelizmente, quem o esperava teve uma enorme desilusão.

O galã brasileiro seguiu com a sua vida e não se pode dizer que a coisa tenha corrido muito mal. O sucesso da personagem escancarou-lhe a porta de Hollywood e das grandes produções americanas. A mais recente prova: o papel de protagonista no novo original da Amazon de produção espanhola, “Sem Limites”.

No drama aventureiro, Santoro será um dos mais famosos portugueses da história, o explorador marítimo Fernão de Magalhães. Ao seu lado terá Álvaro Morte, o Professor de “La Casa de Papel”, no papel do espanhol Juan Sebastián Elcano.

Ao longo de seis episódios, a história irá mergulhar na primeira circum-navegação, que teve lugar há cinco séculos. “Liderados pelo português Fernão de Magalhães, 239 marinheiros partiram de Sanlúcar de Barrameda a 20 de agosto de 1519. Três anos mais tarde, apenas 18 marinheiros famintos e debilitados regressaram no único navio que resistiu à viagem, liderados pelo marinheiro espanhol Juan Sebastián Elcano”, revela a sinopse de “Sem Limites”. 

A realização ficou a cargo do britânico Simon West, conhecido por ter dirigido filmes como “Lara Croft: Tomb Raider”, “Con Air: Fortaleza Voadora”, “A Filha do General” e “Os Mercenários 2”. “Sem Limites” chega à plataforma esta quinta-feira, 23 de junho — leia a entrevista da NiT ao ator sobre o filme.

Aventuras marítimas à parte, Santoro tem muito a agradecer ao pequeno papel que lhe caiu no colo em 2003 e o catapultou para o estrelato. Pinta de galã já tinha, desde que se estreou na novela “Pátria Minha” com apenas 20 anos. De papéis de frei ao icónico papel de D’artagnan, estreou-se no cinema em “Bicho de Sete Cabeças”.

Depois vieram os maiores desafios com “Abril Despedaçado” e a transformação em travesti em “Carandiru”. Pelo meio, a aconteceu primeira internacionalização que ficou aquém das expectativas, em “Os Anjos de Charlie — Potência Máxima”: pôde partilhar o palco com Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, mas não teve direito sequer a falar.

Certamente que algo fez bem, porque os convites começaram a surgir e chegou a brilhar numa campanha da Chanel ao lado de Nicole Kidman. Depois, chegou a proposta que mudaria tudo.

Duncan Kenworthy, produtor com dedo mágico — afinal, foi responsável por “Quatro Casamentos e um Funeral” e “Notting Hill”, antes de “O Amor Acontece” — descobriu o talento de Santoro no Festival de Veneza, onde foi exibido o seu “Abril Despedaçado”. “Fiquei bastante impressionado”, revelou em 2003 o produtor.

“A nacionalidade do ator ou da personagem não era importante. Queríamos que fosse um estrangeiro mas, se repararmos, em nenhum momento se faz referência ao seu país de origem”, explicou Kenworthy.

“O Amor Acontece” conta várias histórias em poucas cenas e o ator, que não teria muito para decorar, apostou noutra forma de se envolver na narrativa. “Tive que imaginar a história de vida [do Karl], do seu passado, do encontro [com Sarah]. Gosto desse trabalho de introspeção, de trabalhar com a expressão facial e corporal além de apenas falar.”

Por essa altura, o filme ainda não tinha estreado e conquistado adeptos em todo o mundo. Falava-se, contudo, na possibilidade de Santoro singrar no estrangeiro. “Leio muitos argumentos, mas ainda não tenho convites.” Eles haveriam de chegar.

A comédia romântica não foi aclamada pelos críticos, mas quando agarra a audiência, não precisa de o ser. Foi um êxito nos cinemas e, ano após ano, cimenta a sua posição como um dos filmes obrigatórios da época natalícia. Para Santoro foi também a oportunidade de uma vida de trabalhar num elenco com Colin Firth, Liam Neeson, Hugh Grant, Emma Thompson, Alan Rickman, Keira Kinghtley, Laura Linney, Billy Bob Thornton, Rowan Atkinson e Bill Nighy.

As portas abriram-se e acabaria por conquistar o seu espaço em várias produções internacionais. Foi o vilão Xerxes em “300”, foi Raul Castro em “Che”, contracenou ao lado de Jim Carrey em “I Love you Phillip Morris”, com Jennifer Lopez em “O Que Se Espera Enquanto Se Está à Espera” e com Natalie Portman em “Jane’s Got a Gun”. Mais: teve direito a uma personagem só sua em “Perdidos” e numa das maiores produções dos últimos anos da HBO, “Westworld”, encarna Hector, uma personagem recorrente.

Na sua cabeça está sempre “O Amor Acontece”, confessou em 2013, por ocasião  décimo aniversário do filme. “Sempre que entro num aeroporto, lembro-me. Sempre. Sempre que estou num, observo as pessoas. tenho interesso em tentar perceber pelo que estão a passar e a culpa é do filme.”

Santoro encarnou o papel de Karl, colega de trabalho de Sarah (Laura Linney), por quem tem um breve flirt que nunca chega a concretizar-se. De todas as histórias contadas no filme, é a única que termina sem uma conclusão minimamente satisfatória — e continua a ser uma das que mais frustra os fãs.

Sarah vivia entre o trabalho e os cuidados ao irmão que vivia internado e que, regularmente, lhe interrompia os planos com constantes telefonemas. É neste tumulto que conhece Karl, por quem se apaixona, mas no momento da verdade, uma chamada do irmão deitou tudo a perder. A história termina com um seco “Feliz Natal” entre ambos.

“Por vezes, a vida não deixa que as relações terminem”, explicava Linney. “Essa é a tensão da história (…) curiosamente, ao longo destes anos, muitas pessoas vieram ter comigo a dizer-me ‘essa é a minha história’.”

Quando Santoro leu o argumento, tentou demover Richard Curtis, o realizador e argumentista. “‘Somos o final infeliz’, disse-lhe. Ele respondeu que estava tudo bem. Que era esse o objetivo, porque ‘é assim que a vida funciona, não é sempre feliz.”

Poucos sabiam então que, quatro anos depois desta entrevista, a história de Karl e Sarah teria direito a uma conclusão. Numa campanha para o Red Nose Day — uma angariação de fundos anual com o objetivo de combater a pobreza e a fome infantil —, foi escrito  umnovo guião que revisita as personagens do filme, dez anos depois do final da história.

Em pouco mais de 15 minutos, as principais personagens voltam a fazer das suas. Não há é sinal de Karl e de Sarah. Ou melhor, Sarah regressa, mas apenas na versão norte-americana. E todos os que esperavam rever Santoro acabaram desiludidos.

Sarah está de volta ao escritório e, quando o telefone toca, atende. Do outro lado não está o irmão, mas o atual marido, o ator Patrick Dempsey (“A Anatomia de Grey”).

Pouco tempo depois, Santoro explicou tudo e assumiu a culpa. “O Richard convidou-me para participar, mas eu estava em Cuba e não podia ir. Senti-me mal por isso, partiu-me o coração”, contou. Não coloca de parte, contudo, a possibilidade de voltar caso venha a ser produzida uma continuação, para lá da curta-metragem.

“Acho que deviam fazer uma sequela. Seria um filme que gostaria de fazer”, confessa. “Continua a ser o personagem sobre o qual recebo mais feedback. Fui um sortudo por ter feito parte de ‘O Amor Acontece'”O Amor Acontece” atirou Rodrigo Santoro para a fama — mas não lhe deu um final feliz.”

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