Televisão

O bombástico final de “The Penguin” prova que é uma das melhores séries do ano

Oz Cobb é o novo psicopata narcisista da televisão — e o vilão que faltava num mundo cheio de anti-heróis fofinhos.
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Tony Soprano, Walter White, Dexter, Frank Underwood. Nas últimas duas décadas, a indústria televisiva caiu aos pés do anti-herói, o protagonista que no papel teria tudo para ser um vilão, mas que acaba por cair no goto dos telespectadores. Acabamos a torcer por assassinos em série, mafiosos, traficantes e políticos com tendências homicidas — quase sempre possuidores de características que os redimem e de um propósito que, afirmam as personagens, é altamente altruísta.

Oswald Cobb, o protagonista, surge na novíssima série “The Penguin” como potencial candidato ao título de anti-herói. Ao fim de oito episódios, a aposta da Max chegou a uma bombástica conclusão este domingo, 12 de novembro, e trouxe consigo aquilo que de melhor poderíamos pedir: a morte dos anti-heróis às mãos de um vilão à moda antiga.

No centro desta história está Cobb, um pequeno capitão de uma família mafiosa com uma ambição desmedida. O andar torto, provocado pela deformidade de nascença num dos pés, valeu a alcunha de Pinguim ao criminoso que é visto por quase todos como competente, mas oportunista e merecedor de pouca confiança.

Quem liga a televisão, poderá não perceber imediatamente que está no universo de Batman, nas ruas escuras de Gotham — e perante a presença do icónico vilão, o Pinguim. Nem precisa. A narrativa vive por si só e abre-se a fãs e desconhecedores do mundo do Cavaleiro das Trevas.

Ainda assim, “The Penguin” nasce como peça de abertura para o próximo filme do super-herói da DC, onde terá pela frente o vilão. Esta é, portanto, uma espécie de história de origem, praticamente sem referências a Batman.

O retrato de Cobb é feito de forma envolvente, entre flashbacks e diálogos que nunca parecem ser demasiado expositivos. E Colin Farrell consegue o aparentemente impossível: dar expressão à personagem sob os quilos de maquilhagem e próteses necessárias para criar a figura de Pinguim.

A ambição criminal da personagem está sempre presente, embora se redima com aparentes gestos bondosos. Enquanto trai os membros da família Falcone, resgata das ruas um jovem sem rumo que perdeu a família na explosão que arrasou o bairro pobre da cidade — onde Cobb cresceu. Em Victor, Cobb encontra um cenário familiar: um rapaz do bairro, com nada a perder e um enorme problema de autoestima provocado pela gaguez. Cobb esconde também a sua mãe, que se debate com um problema de demência.

Perdoamos-lhe, portanto, a primeira série de homicídios e esquemas, à medida que procura ganhar preponderância na pirâmide do poder dos Falcone. Aos poucos, a fachada vai caindo, traição a traição, até que percebemos que nada do que diz pode ser tido como verdade.

“Não sei como confiar em ti”, confessa Sofia, perante um emocionalmente desarmado Cobb. “Que tal se eu te for mostrando como o podes fazer?”, respondeu. Dois minutos depois, com a vida em perigo, é obrigado a fugir e a deixá-la para trás. “E a Sofia?”, questiona Victor. “Que se foda. Deixa-a.”

Em oito episódios, a personagem de Farrell faz uma viagem ziguezagueante entre o amor e o ódio. Cobb sonha ser “um homem do povo”, o criminoso justo que, no caminho até ao topo, ajuda os que estão ao seu lado, apenas para perceber que esse caminho só pode ser feito a sós, entre facadas nas costas alimentadas por uma sociopatia narcisista. Chega até a iludir-se a si próprio, à medida que enterra, por detrás de um discurso incoerente, os terrores do seu passado.

Nada que Farrell não tivesse avisado. “Há uma cena no último episódio que foi muito dura”, explicou meses antes da estreia do episódio final, provavelmente um dos melhores episódios do ano na televisão. “É verdade que aparenta ser uma personagem da qual podemos gostar, um rebelde. Alguém diz na série que ‘ninguém te mantém por perto pela tua inteligência, mas és um tipo divertido para jogar às cartas’”, recorda o ator, antes de frisar o que estava para vir. “Tenho dúvidas que alguém vá gostar dele quando chegarmos ao último episódio.”

A história de origem de Penguin vive por si, sem precisar de recorrer à cansada memória de Batman. Entre vários lugares comuns, sobretudo bem vivos nas personagens que rodeiam Cobb, a narrativa sai viva graças à versatilidade: há momentos de comédia, entusiasmantes sequências de ação e, sobretudo, densidade dramática na construção das relações e das vidas de pelo menos quatro das figuras de proa da série.

O episódio final é a prova de que “The Penguin” se revela como uma das boas surpresas de 2024. Uma minissérie que faz o que tem a fazer em oito episódios, sem excessos, bocejos ou demoras. Um elogio cada vez mais raro de fazer.

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